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22/09/16

Amarante Mancelos - Histórias de vindimadores, bravos heróis da nossa história rural, que transportavam, subiam e desciam enormes escadas de madeira, que pareciam brinquedos nas suas mãos...




«“Os vindimadores”

Anos setenta, Freguesia de Mancelos, Zé o vindimador era um homem robusto, trigueiro de estatura mediana, de face corada, um homem alegre, que conferia uma certa magia, aos dias de vindimas que eram seguidos e duros, de sol a sol, com frio, calor ou chuva. Este personagem passava a vida a cantar e a meter-se com as cesteiras, que carregavam pesados cestos de uvas até às valsas dos carros de bois, ou quando estes estivessem por perto, diretamente para os lagares, onde se relavam e apertavam as uvas, para se obter o precioso néctar, o nosso maravilhoso vinho verde de Amarante, muito afamado nesses tempos.

Passava a Lúcia da Aldeia e o Zé, logo inventava uma rima, para deixar a moça corada: 

“Lúcia moça corada e roliça,
Anda sempre de bem com a vida.
No Domingo no fim da missa,
Roubou o namorado da Guida”

"Roubei nada tio Zé, não diga disparates, bem sabe que a Margarida pode não gostar, ainda se acredita que é verdade e a mim não me faltam pretendentes", retorquiu a Lúcia, toda senhora do seu nariz, e de mulher que não gosta de deixar ninguém sem resposta.

Acontecia que em quase todas as vindimas participava o Senhor José “Vira” que, tendo um problema de saúde, sabia tirar disso partido, para animar a malta. Ele sofria bastante de gases e quando subia às escadas, gostava de dar a ouvir as suas habilidades intestinais. Quando isso acontecia, ele costumava gracejar dizendo a cantar: 

“Bom dia compadre Aniceto, 
Estás quentinho e aqui está frio.
Tu que viestes pelo meu recto,
Um buraco tão sombrio…”

Era um gargalhar geral, todos se riam e animavam, pediam a caneca para molhar a beiça e toda a gente sorria. O “Vira” teve o seu momento, agora só mais para a tarde se repetiria a graça, inopinadamente, quando ninguém estivesse a contar com isso. Se lhe pediam para antecipar o ato, ele dizia que não tocava à jorna. Tempos difíceis, vindimas com muita mão de obra, escadas que chegavam a vinte banzos para vindimar nas árvores mais altas que, ladeavam os grandes campos de milho, cesteiras a carregar quilos e quilos de uvas à cabeça, animais a puxarem enormes balsas de uvas, reladores de uvas manuais e depois a prensa para finalizar, em que espremia o bagaço até ao tutano; nada se desperdiçava naqueles tempos. 

Durante a tarde, o povo da vindima falava mais, o lanche de pão e de fumeiro regado com vinho tinto da casa, levava a animação ao zénite. Uns metia-se com os outros, as cesteiras tinham que ouvir e calar, doutro modo era pior, e, as meninas que apanhavam os vagos também não escapavam às provocações dos vindimadores. O “Vira” lá para as cinco da tarde, de um dia do final de setembro, soltou novamente um grande ruído oriundo do seu interior. Isto parece um tratado de escatologia, mas era mesmo assim. Disse ele então:

“Boa tarde meus senhores,
Que eu já estou a roncar,
Berrei alto de tantas dores,
De ver a cesteira passar…”

Muito trabalho, é evidente que vindimar, hoje em dia, é algo muito mais mecanizado, em que as vinte ou trinta pessoas de outrora que trabalhavam em bando, são substituídas por tratores industriais, motores e prensas elétricas. Além disso, antigamente faziam-se as “tornas”, ou seja se A fosse à vindima de B, B teria que vir à vindima de A. A comida das vindimas era sempre algo muito apetecível. Gente pobre mas honrada, guardavam os melhores frangos para uma boa arrozada, o anho, o porco, boa sopa, vinho da casa e uma deliciosa aletria como sobremesa. A meio da manhã, costumava-se dar ao pessoal bacalhau frito com pão e vinho, para animar a malta. Vivia-se um ambiente quase mágico, de certa forma onírico, para um miúdo como eu,  no meio daqueles homens e mulheres duros e gastos pelo trabalho, mas que faziam das vindimas o ponto alto das colheitas do ano, em que o precioso néctar produzido assumia um carácter divino, quiçá, em analogia com o ato religioso, da partilha das tarefas, pão e vinho, como sempre se representava nas missas, a que todos assistiam escrupulosamente, num ritual verdadeiramente sagrado.

Vinha a noite, mas o trabalho no lagar continuava. Apertavam-se as uvas brancas, com quatro bravos homens a puxar à prensa, num ritmo compassado com as vozes dos homens: “Vem vai, vem vai e vem vai…”. No lagar das uvas tintas, um grupo de oito homens cantava canções populares, enquanto se pisavam as uvas. O dono da vindima, ou o caseiro da quinta, vinha trazer aguardente e cigarros de marcas baratas: Provisórios ou Kentucki, também conhecidos popularmente por “mata-ratos”. Servia igualmente aguardente com figos secos, ou vinho tinto para quem quisesse. O “Vira” entretanto fazia das suas e lá vinha outros dos seus "parceiros" intestinais, ou fidagais, dado o adiantado da hora:

“Pisa as uvas tintas, “Vira” pisa
Que do teu cu saiu ajuda
Dedico ali à menina Elisa,
Este peido, ai Deus me acuda!

Elisa era a filha do lavrador da casa, o Sr. Manuel das leiras grandes, que ficou todo enrubescida, não sabendo onde se havia de meter, ainda mais, porque no lagar estava a pisar uvas, um rapaz de quem ela gostava, o Augusto das Bouças. Claro que bem jantados, melhor bebidos, com a aguardente a temperar, saíam gargalhadas em catadupa das graças que se iam dizendo. O “Vira” muito sério, mas com o seu olhar malandro, lá ia dizendo para rematar: “o que vale é que os meus peidos não cheiram, é só gás…”. Todos se riam e diziam ao “Vira” que tinha que se ir tratar do nariz, talvez ser operado ou desentupido. Ou melhor, deveria ser feita uma intervenção para tapar mais o ânus e abrir mais as narinas. Era uma risota pegada.

E nas principais refeições, o convívio era algo que recordo com saudade. Todos sentados combinavam as suas tornas, falavam do ano de vinho e dos acontecimentos da aldeia. O dono da vindima convidou o senhorio, para jantar com o pessoal e assim o convívio ainda era maior. Todos tinham mais recato, mas conversam de tudo e o senhorio gostava de os ouvir. Os vindimadores também o ouviam com atenção e acenavam afirmativamente às asserções que este ia proferindo.

Bem sei que isto é passado, por certo que ainda bem, as vindimas agora já não têm esta magia, são mais eficientes e solitárias, mas são outros tempos. Apenas quis recordar dias mágicos que vivi com estes Homens extraordinários, os vindimadores, lavradores que pelo São Miguel manobravam as escadas e cestas como ninguém… uma tristeza foi ter assistido ao Tio Zé d’Além, que ficou entrevado quando caiu de uma escada de dezasseis banzos. Neste caso a dura realidade desfez a magia do miúdo que tudo isto vivia, com uma enorme alegria. O Zé foi apenas mais um dos heróis das subidas às árvores, bardos e ramadas que ainda hoje recordo. E pronto, já há vindimas em Amarante, este fim de semana, já vi tratores carregados de uvas… mas não é a mesma coisa!» in http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/09/os-vindimadores.html



PAULO ALEXANDRE - "Verde Vinho" - (1989)



"Verde Vinho
Paulo Alexandre

Ninguém na rua, na noite fria,
só eu e o luar
Voltava a casa,
quando vi que havia
luz num velho bar
Não hesitei, fazia frio e nele entrei
Estando tão longe da minha terra,
tive a sensação
de ter entrado numa taberna
de Braga ou Monção
E um homem velho
se acercou e assim falou

Vamos brindar
com vinho verde que é do meu Portugal
e o vinho verde me fará recordar
A aldeia branca que deixei
atrás do mar
Vamos brindar
com verde vinho p'ra que eu possa cantar
Canções do Minho que me fazem sonhar
com o momento de voltar
ao lar.

Falou-me então daquele dia triste
o velho Luiz
em que deixara tudo quanto existe
para ser feliz
A noiva, a mãe,
a casa, o pai e o cão também
Pensando agora naquela cena
que na estranja vi
Recordo a mágoa, recordo a pena
que com ele vivi.
Bom português,
regressa breve, vem de vez...

Vamos brindar (2x)
com vinho verde que é do meu Portugal
e o vinho verde me fará recordar
A aldeia branca que deixei
atrás do mar
Vamos brindar
com verde vinho p'ra que eu possa cantar
Canções do Minho que me fazem sonhar
com o momento de voltar
ao lar."


21/09/16

Amarante Pessoas - Conselheiro António Cândido na ótica do Fascículo LIV, de Portugal Económico Monumental e Artístico.

Amarante - Retrato de António Cândido, por Veloso salgado, existente no Asilo Conselheiro António Cândido.



Amarante - A casa de Candemil, onde nasceu António Cândido

«Conselheiro António Cândido (Ribeiro da Costa) - Nasceu em Candemil em 1850 e ali faleceu também, em 1922. Grande orador sagrado e parlamentar, sem dúvida o primeiro entre os oradores do seu tempo e dos primeiros que, em todos os tempos, nós tivemos. Foi lente da Universidade de Coimbra, Par do reino, Ministro e Procurador Geral da Coroa, As suas melhores orações encontram-se reunidas no volume «Discursos e conferências»; e do encanto da sua voz fala a tradição, que a compara às grandes vozes clássicas do templo e do parlamento. Sempre modesto, sempre patriota, os próprios inimigos políticos o respeitavam, pelo seu proceder e pelo seu valor altíssimo.» in Portugal Económico Monumental e Artístico.


11/08/16

Amarante Pessoas - A Maria do Correio, ou uma das últimas heroínas que transportavam as cartas e os jornais da Vila, para as Freguesias limítrofes..




«A Maria do Correio…

Estávamos nos anos sessenta do século XX e a distribuição de correio pelas freguesias de Portugal era ainda muito deficitária, pois o correio era transportado pelos serviços postais, essencialmente, entre vilas e cidades de Portugal, ilhas e províncias ultramarinas. Em Amarante não era diferente, o grosso do correio chegava à então vila por comboio e por carro, sendo que as freguesias, designavam pessoas que por uma ninharia, iam diariamente a pé à vila e transportavam o correio para distribuir por uma, ou mais freguesias. Vivíamos então, tempos bem difíceis e o magro benefício que cada carta ou encomenda representavam para o parco pecúlio familiar, não se poderia desperdiçar.

Maria era de Fregim e servia os Correios de Portugal, no Estado Novo. Numa altura em que começou a guerra colonial, a emigração em massa para a Europa, em que Portugal tinha muita emigração no Brasil e claro, tínhamos muitas famílias a viver nas ex-colónias ultramarinas, a comunicação postal atingiu grande expressão na nação portuguesa. Daí, ser conhecida como a Maria  “a carteira”, “Maria cartas”, ou como mais gostava, a “Maria do correio”...

Era inevitável, numa altura com tanta notícia, em que o telefone raramente chegava às freguesias e mesmo assim, só a alguns privilegiados, a carta distribuída pelos Correios de Portugal, assumia-se como a grande plataforma de comunicação à distância. Hoje em dia, até os serviços públicos, bancos, serviços de águas, telecomunicações e luz, evitam ao máximo o uso deste poderoso meio de comunicação na sua relação com os cidadãos que, prevaleceu durante muito tempo, no topo cimeiro do domínio das comunicações em Portugal e no mundo.

A Maria conseguia ler muito bem, apesar de só ter a segunda classe do antigo ensino primário, mas como foi sempre ajudante de catequista na freguesia, desenvolveu excelentes aptidões de leitura. Este facto, fazia com que além de trazer o correio a cada casa da freguesia, Maria fosse a leitora em voz alta de muitas delas, nas boas e nas más notícias. Deste modo, a sua envolvencia com os problemas alheios era sempre muito forte, fazendo com que Maria chorasse nas más notícias com os parentes próximos dos malogrados e exteriorizasse a sua felicidade com os demais, sempre que a notícia apontava para os êxitos, nascimentos, boa saúde e indícios de progressos e de regressos ou visitas, para tempos próximos.

Maria era assim adorada por todos. Mesmo aqueles que receavam as piores notícias, esperavam com ansiedade por ela, mas sempre com esperança que Maria, como que num passe de mágica, lhe contrariasse as piores premonições. Todos a recebiam muito bem, mandavam-na entrar para as suas cozinhas, davam-lhe de comer e de beber, e assim, Maria apesar de caminhar muito, começou a ser uma rapariga bem roliça e corada, ficando com este hábito: vicio de comer e de beber a qualquer hora, sem restrições que, mais tarde lhe haveria de ser fatal.

Além do serviço dos correios, Maria trazia igualmente os jornais locais e nacionais, para os senhores da freguesia. Como nessa altura se aproveitava tudo, tempos de escassez, ela levava para a vila as carradas de papel, jornais e cartão, para reciclar, que eram pagos ao quilo, e de que ela recebia alguns trocos, por mais este duro complemento ao seu parco pecúlio mensal. Como sabia e gostava de ler, era a anunciadora das notícias locais e nacionais, qual ponto de acesso local à rede mundial de informação. Assim, anunciava as mortes das freguesias limítrofes e os acontecimentos mais relevantes do concelho. Alguns senhores da freguesia, mormente as senhoras, preferiam ouvir as leituras de Maria, do que ler elas próprias. Maria, foi desenvolvendo uma técnica de resumir o essencial das notícias, indo de encontro ao mais apetecível das mesmas, sendo o mais semelhante nos dias de hoje, a uma capa de um jornal sensacionalista.

Há na génese do ser humano, uma curiosidade quase mórbida pelos acontecimentos violentos, mortes, suicídios, atropelamentos, todo o tipo de acidentes que, despertam verdadeiramente a curiosidade e ansiedade pelas causas de tais acontecimentos: é estranho, mas faz parte dos desígnios da natureza humana. Assim, quando o sangue era muito, as senhoras presenteavam a Maria com iguarias e até com dinheiro, tal era a sofreguidão com que a ouviam a satisfazer as suas necessidades de saberem que o mundo está para acabar, que Deus nos abandonou, que a nossa freguesia ainda era um paraíso de Deus na terra e os casos de infidelidade conjugal que acabavam em tragédia, como no exemplo clássico de Camilo Castelo Branco.

Maria começou a ter problemas de saúde, engordou muito devido aos maus hábitos alimentares atrás relatados, provavelmente sofreu de diabetes não diagnosticados durante muito tempo, tal era a sua sede que, não sendo matada com água, mas muito por álcool, depressa lhe foi destruindo o fígado. O tempo foi passando e Maria ficou acamada e entretanto os correios de Portugal criaram uma rede de carteiros que se deslocavam de bicicleta, as velhinhas “pasteleiras” e o Mundo daquela mulher ficou, inopinadamente, sem sentido, deixando-se morrer sem esperança... e assim se conta muito resumidamente a história de uma entre muitos heróis dos serviços dos Correios de Portugal ao longo dos tempos. Nenhuma guerra, nem empreendimento se faz sem comunicação de qualidade e eficaz... os CTT, já não pertencem aos portugueses, o que nos deveria dar que pensar!

“As origens dos CTT remontam a 1520, ano em que o Rei D. Manuel I de Portugal criou o primeiro serviço de correio público de Portugal e o cargo de Correio-Mor do Reino, cargo extinto pela Rainha D. Maria I de Portugal em 1798.” In https://pt.wikipedia.org/wiki/CTT» in 
http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/08/a-maria-do-correio.html


Tião Carreiro & Pardinho - "O carteiro"


António Mafra - "Chegou o Carteiro"


Sérgio Godinho - "Chegou o Carteiro"



"Chegou o carteiro

Manhã cedo segue a marcha
sempre na mesma cadência
e lá vai de caixa em caixa
metendo a correspondência
para uns são alegrias
para outros tristezas são
o carteiro não tem culpa
é a sua profissão 

Chegou o carteiro
das nove p'ras dez
a vizinha do lado
de roupão enfiado
chegou-se à janela
em bicos de pés
e logo gritou:
"Traz carta p'ra mim?"
e o carteiro que é gago
espera um bocado
e responde-lhe assim:
"Não não não não não
não não não trago nada
só só só só só
só trago o pacote
da sua criada"
(REFRÃO) 

E o sr. Roque desespera
pelo vale que nunca vem
vai sentindo infelizmente
como faz falta o vintém
para uns são alegrias
para outros tristezas são
o carteiro não tem culpa
é a sua profissão 

Chegou o carteiro...
(REFRÃO) 

Quando o carteiro se atrasa
os protestos são em coro
as garotas ansiosas
por notícias do namoro
para umas são alegrias
para outras tristezas são
o carteiro não tem culpa
é a sua profissão 

Chegou o carteiro...
(REFRÃO)"

25/07/16

Amarante Pessoas - O Avô Paterno do Poeta Teixeira de Pascoaes, António Pereira de Azevedo, foi um homem de rija têmpera, segundo Maria José Teixeira de Vasconcelos.


(O avô Paterno do Poeta Teixeira de Pascoaes, desenho de António Carneiro.)


«O Avô Paterno

O Avô paterno do Poeta - meu bisavô -, António Pereira de Azevedo, foi um homem de rija têmpera que eu já não conheci.

Herdou do sogro a Casa de Pascoaes, onde vivia.

Médico da casa real, visitava a cavalo os seus doentes.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.

22/07/16

Amarante Desporto - O futebolista Ricardo Carvalho, que integrou a seleção nacional campeã europeia em França, vai ser agraciado com a Medalha de Honra do Município de Amarante, anunciou a autarquia.



«Câmara de Amarante atribui medalha a Ricardo Carvalho

Ricardo Carvalho, que integrou a seleção nacional campeã europeia em França, vai ser agraciado com a Medalha de Honra do Município de Amarante.

O futebolista Ricardo Carvalho, que integrou a seleção nacional campeã europeia em França, vai ser agraciado com a Medalha de Honra do Município de Amarante, anunciou a autarquia.

Justificando a decisão, que foi tomada por unanimidade pelo executivo municipal, o presidente José Luís Gaspar considerou que Ricardo Carvalho, natural daquele concelho, "é uma referência para Amarante e para Portugal".

"É um atleta de elite de uma modalidade considerada como o desporto rei que, seguramente, servirá de exemplo em termos sociais e desportivos para muitos dos nossos jovens", frisou o autarca. Ricardo Carvalho iniciou a sua carreira futebolística no Amarante Futebol Clube e cedo atraiu a atenção do Futebol Clube do Porto. Em 1996 ingressou nas categorias de formação daquele clube.

Gaspar considerou que a recente "conquista do Campeonato da Europa é o momento oportuno e sobretudo justo de prestar tributo a um desportista com um vasto palmarés que, nas suas aparições públicas, faz questão de mencionar as suas origens".

Ao serviço do Futebol Clube do Porto, Ricardo Carvalho conquistou, na época de 2002-2003, a Taça UEFA e na época desportiva seguinte a Liga dos Campeões, competição em que foi eleito melhor defesa. Nas duas épocas foi também campeão nacional.

A 5 de julho de 2004, recorda a autarquia, "o jogador foi feito Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e a 11 de julho deste ano foi condecorado pelo Presidente da República com Ordem do Mérito".» in http://www.ojogo.pt/internacional/selecao/noticias/interior/camara-de-amarante-atribui-medalha-a-ricardo-carvalho-5298128.html


(Ricardo Carvalho ( The Defense Legend ) *2011* Goals & Tackles $ HD $)

18/07/16

Amarante Pessoas - Diana é uma jovem mulher de 28 anos, oriunda de Amarante e com uma vontade gigante de conhecer o mundo.



«Esta portuguesa está a salvar vidas de crianças quenianas

Dizem os relatório das Nações Unidas que quase um milhão de meninas não vão à escola no Quénia. Mas os números reais podem ser bem mais elevados, uma vez que muitas das crianças nascidas em bairro de lata e zonas rurais invariavelmente nem sequer possuem um registo de nascimento. No caso dessas meninas nascidas em meios totalmente desfavorecidos, o seu destino é quase sempre o mesmo: “Sem educação, muito dificilmente irão conseguir sair do bairro de lata. Vão casar cedo com algum vizinho, vão ter quatro ou cinco filhos (ou mais) e vão lutar todos os dias para sobreviver. À porta de casa, vão colocar um tecido no chão e vender vegetais ou roupas em segunda mão”. Palavras de Diana Vasconcelos, a portuguesa responsável pelo apadrinhamento de 200 crianças das favelas de Nairobi.

Mais aqui:

Esta portuguesa está a salvar vidas de crianças quenianas» in https://www.linkedin.com/pulse/expresso-por-paula-cosme-pinto-diana-vasconcelos


(Diana Vasconcelos - Kibera Quénia)


(Dançar pela causa "Há ir e voltar")


(Help us to build a school for 78 girls in Kenya!)

14/07/16

Amarante História - João Pereira Teixeira de Vasconcelos, Pai do Poeta Teixeira de Pascoaes, nasceu em Amarante, a 10 de Fevereiro de de 1847.


(Óleo de António Carneiro)


«João Pereira Teixeira de Vasconcelos nasceu em Amarante, a 10 de Fevereiro de de 1847.

Ingressou cedo na política. Foi presidente da Câmara Municipal de Amarante. Conseguiu instalar na vila um liceu e um regimento de artilharia.

Foi desde muito cedo deputado da nação e Par do Reino, numa época em que essas funções se desempenhavam gratuitamente. Daí a independência e o desassombro com que discutia todos os problemas. Não escrevia nem preparava os seus discursos e porque tudo era espontâneo nada o perturbava.

Um deputado cortou-lhe, um dia, a palavra, gritando do fundo da sala:

"O Teixeira de Vasconcelos atira-se com garras!"

Serenamente, o orador respondeu: "Mas tenho-as limpas e aparadas."

E continuou imperturbável, retomando calmamente o ritmo do discurso interrompido.

Certa vez, defendeu no parlamento a «necessidade de chamar gente nova para todos os sectores da atividade política, incluindo a Câmara dos Deputados, a pedir renovação.

Isto valeu-lhe uma caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro, na «Paródia», que o representava carregado de biberons, rodeado de bebés, que sofregamente lhe estendiam os braços e se agarravam às suas vestes de ama seca.

A vida em Lisboa, as deslocações constantes, ficavam caras. Ele tinha seis filhos. O pai ainda vivia. Tinha poucos rendimentos. Um amigo ofereceu-lhe um lugar importante  na Companhia de tabacos. Aceitou. Foi a Lisboa tomar posse. Indagou das condições de trabalho, do horário, queria saber se tinha de ir lá todos os dias.

Foi-lhe dito: "Mas V. Ex.º não precisa de ter esse incómodo. Basta assinar."

Surpreso, perguntou ainda:"E qual é o meu vencimento?"

A resposta não se fez esperar. "Trata-se de uma verba especial para despesas de representação. V. Ex.ª pode fazer a retirada que quiser. A companhia não faz questão. Oferece-lhe a maior liberdade."

Rapidamente, meu avô declarou: "Ah! Muito obrigado. Sabe?... Afinal venho pedir a minha demissão."

João Franco pediu-lhe que aceitasse o cargo de Governador Civil de Viseu, onde a política se agitava e onde os políticos estavam divididos...

Homem atraente, insinuante, convenceu mesmo aqueles que não queriam ser convencidos e salvou facilmente a situação.

Quando os Reis, a caminho das termas de S. Pedro do Sul, visitaram a cidade de Viseu, foram delirantemente aclamados.

Pouco tempo depois, a morte do Rei afastou-o definitivamente da política. Desgostoso, desiludido, indignado com o crime do Terreiro do Paço, refugiou-se na sua Casa de Pascoaes. Nunca mais foi a Lisboa nem ao Porto. Não passava de Amarante.

Lembro-me de vir um alfaiate da invicta cidade - o Amieiro - provar-lhe os fraques, na casa de Pascoaes.

Entregou-se à lavoura. Surribou os montes em redor de casa e transformou-os em vinhedos.

Foi o primeiro homem que podou as vides, nesta região. Os caseiros atarantados, diziam que mais valia cortá-las pelo pé!

Isolou-se por completo na sua aldeia, mas era muito visitado.

O povo adorava o Senhor Conselheiro.

Morreu a 3 de Janeiro de 1922, na sua Casa de Pascoaes.» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.

Amarante Pessoas - O Manuel de Várzea do Marão, chegou a hora do cumprimento do serviço militar e ele fintou o regime e emigrou a salto para França; mas depois voltou...



«O Emigrante de Amarante...

Corria o ano de 1968, estávamos numa quinta de São João de Várzea, Amarante. Manuel era o filho mais velho de uma prole de dez irmãos. Estava a chegar a idade de cumprir o serviço militar obrigatório, que na altura implicava ir lutar numa guerra sem sentido, pelo menos para ele, nas nossas antigas colónias ultramarinas. Nada sabia de política, muito menos de guerras, a vida dele foi sempre dedicada a auxiliar o Pai, nas suas tarefas diárias, a trabalhar como caseiro numa grande quinta nas fraldas da Serra do Marão. 
Conhecia isso sim, os ciclos naturais da agricultura: as regas, as podas, as sulfatizações, semear e mondar milho, puxar os bois com o arado e com carradas de mato que cortava com o seu progenitor, vindimar, apanhar azeitona, entre muitas outras tarefas que um lavrador tinha, naquele tempo. Um rapaz que sabia fazer de tudo, numa agricultura que ainda era muito tradicional, muito rústica e de braços humanos e de tração animal, não se pode dizer que não sabia nada da vida... sabia muito, digo eu que nada sei, perante o que ele já sabia...

Ainda conheci alguns lavradores antigos, na minha meninice e adolescência, estando à vontade para afirmar que eles eram, na sua generalidade, muito sábios. Conheciam os ciclos da vida de uma forma plena, sabiam quando ia chover ou estar sol, quando ia estar calor e frio, a influência da lua na terra, nas pessoas e animais. Pouco estudaram, mas faziam contas como ninguém, raramente se enganavam, podiam não saber ler cartas ou livros, mas liam muito bem os sinais com que a vida os confrontava. Sabiam quando ia parir a vaca, quando deviam por os ovos a chocar nas galinhas, quando semear, quando plantar, quando colher... enfim, dominavam o ritmo natural da vida.

Voltando ao problema que o Manuel tinha que enfrentar, tornou-se claro para ele que, ao invés de ir lutar para uma guerra sem razão para ele, seria preferível dar o salto para França como tinha feito um primo dele. Além disso, o futuro dele na sua terra, passava por trabalhar de sol a sol e a não sair da cepa torta... note-se que estávamos ainda no Estado Novo e os ventos que Abril haveria de nos trazer, ainda eram apenas uma simples miragem. Manuel decidiu ir para França, pedir um dinheirinho ao seu Pai, ao seu tio e primos que já lá estão, para a subsistência nos primeiros tempos e que lhe tentassem arranjar trabalho. Foi à mercearia do Ribeirinho e à tasca do Alfredinho tentar arranjar contatos para a tentativa de salto na fronteira em Chaves e arranjar alguém que lhe ajudasse a escrever uma carta ao seu tio de França.

Depois de todos os contatos efetuados e recebidas as respetivas confirmações, lá arrancou Manuel para Chaves, de boleia num camião que levava madeira em folhas de contraplacado das famosas fábricas TABOPAN de Amarante. Como não havia espaço na frente de cabine do camião, foi aconchegado nos lugares traseiros da mesma, na chamada cama do motorista e ajudantes. Chegou à terra dos flavienses na tarde do mesmo dia de verão, em que partiu de São João de Várzea e depois de agradecida a boleia ao conhecido de seu Pai, esperou que a noite caísse e depois dirigiu-se para junto do rio Tâmega, no local e hora, marcados. Lá apareceu António Passa, que lhe solicitou a quantia previamente combinada e pediu que Manuel o seguisse em silêncio. A noite estava escura como breu, o Passa escolheu uma noite que se previa sem luar, como era seu costume de homem experiente no ofício. Passaram o rio num vau, mas o Passa ia á frente segurando a mão do Manuel, pois se escorregassem poderiam apanhar uma corrente mais rápida e serem puxados rio abaixo. António seguia na frente, conhecia aquelas pedras de cor, ouviram cães e agacharam-se no meio do mato. Falso alarme, era um cão vadio, provavelmente a fazer a corte a uma fêmea na mesma condição. A barriga do Manuel ia roncando, não comia desde manhã cedo e não sabia quando comeria outra vez... o dinheiro era todo preciso para a viagem e não poderia prever se seria o suficiente. Finalmente passado para o lado de lá da fronteira, foi dormir num alpendre abandonado depois de caminhar até perto de Verin, cheio de fome e completamente exausto. No meio do sono, sentiu ratos grandes a passarem por cima de si, mas de tanto cansaço apenas os sacudia com as mãos e caía logo num sono profundo.

De manhã levantou-se cheio de fome e de frio, talvez mordido numa mão, por um roedor do palheiro, e logo procurou a estrada, tentando apanhar boleia para o primeiro ponto da viagem, em que seguiria de comboio. Escusado será dizer que, foi outra viagem bastante atribulada até apanhar o comboio que o levaria à fronteira com a França. A fome é negra e junta com o cansaço, levou a que dormisse sempre no comboio, fosse de dia ou de noite. Depois a linha mudava de bitola e apanhou outro comboio até Paris, mas na fronteira não resistiu á fome e foi a uma padaria comprar pão que devorou rapidamente, quase ficando entalado.

Chegado a Paris, procurou o seu tio e passado algumas horas a pedir informações e a andar de quarteirão em quarteirão, apanhou finalmente um autocarro que o levou a uma cidade na periferia da capital Francesa, onde o encontrou. O tio depois de o recolher e de lhe dar estadia e comida, tratou de lhe arranjar um emprego como servente da construção civil. Aos poucos, foi motorista de táxi, dos autocarros em Paris, até que criou uma empresa de transporte entre França e Portugal, e, vice-versa. Criou fortuna e por meados da década de oitenta decidiu investir em Portugal: comprou uma quinta onde fez uma grande casa, com uma valente piscina. Os seus filhos não mais quiseram regressar a Portugal, pois nasceram em França e lá tinham as suas vidas organizadas e com muito mais perspetivas. 

Escusado será dizer que Manuel depressa se arrependeu amargamente de ter investido o seu dinheiro em Portugal; a vinha já a cortou pois em meados da década de 90, começou a dar imenso prejuízo... o dinheiro pouco lhe rende nos aforros que fez... equacionaria voltar a França se conseguisse vender o seu património sem perder muito valor; mas, não há sequer potenciais compradores...

Quando escrevi esta estória do Manuel de Várzea, podia ter escrito com muitos outros nomes, pois em Fregim, Mancelos e em Amarante em geral, conheci ainda muitos emigrantes dos anos 60-80 e, o mínimo que posso dizer, é que se podiam fazer livros sobre estes aventureiros que, não partiram em caravelas como os nossos grandes conquistadores, mas comeram o pão que o Diabo amassou, como costuma dizer e bem, o povo; não sabia ainda o resultado da final do campeonato europeu entre Lusitanos e Gauleses. O que posso dizer quanto a isso é que, a alegria que a nossa seleção nos concedeu e, particularmente, aos nossos emigrantes em França, aos quais não fizemos ainda enquanto pátria, uma homenagem mais do que devida e merecida, tem que ser dedicada, mormente, a eles. Em caso de vitória ou de derrota, a nossa alegria tem que ser grande, como o será, estou certo, para os emigrantes portugueses. 

Ainda bem que é em França, onde vejo gente que, apesar de os bancos portugueses lhe terem subtraído economias de suor e de sangue, ainda choram de forma autêntica com o nosso hino, idolatram os nossos bravos jogadores, amam verdadeiramente a nossa pátria! E pensar que o Cristiano Ronaldo poderia, muito bem, ter sido um deles... e sim, é fado nacional, ter que sair de Portugal!» in http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/07/emigrante-de-amarante.html



Manuel Freire - "Eles" - (um canto de emigração)


Isabel Silvestre - "Cantar de Emigração"



"Ei-los Que Partem
Manuel Freire

Ei-los que partem 
novos e velhos 
buscando a sorte 
noutras paragens 
noutras aragens 
entre outros povos 
ei-los que partem 
velhos e novos 

Ei-los que partem 
de olhos molhados 
coração triste 
e a saca às costas 
esperança em riste 
sonhos dourados 
ei-los que partem 
de olhos molhados 

Virão um dia 
ricos ou não 
contando histórias 
de lá de longe 
onde o suor 
se fez em pão 
virão um dia 
ou não"

12/07/16

Amarante Pessoas - Maria Abreu, natural de Amarante e finalista do mestrado integrado em arquitetura, na Universidade do Porto, foi distinguida pela ONU com uma menção honrosa, no âmbito do concurso internacional “Integrated Communities: A Society for All Ages”.



«Jovem de Amarante distinguida pela ONU

Maria Abreu, natural de Amarante e finalista do mestrado integrado em arquitetura, na Universidade do Porto, foi distinguida pela ONU com uma menção honrosa, no âmbito do concurso internacional “Integrated Communities: A Society for All Ages”. A distinção ocorreu em março, num concurso que “pretende desafiar estudantes de arquitetura a idealizar comunidades multigeracionais, adaptadas e pensadas particularmente para a terceira idade”, informou a autarquia.

A proposta apresentada por Maria Abreu centrou-se na cidade do Porto com um plano de reabilitação de uma ilha situada na Rua dos Bragas. A escolha da amarantina resultou “da necessidade de criar um programa e um lugar que inclua os idosos de forma a estes conseguirem interagir com outras gerações”, considerando que “a maioria das pessoas não tem conhecimento da existência destas ilhas e das suas condições, nomeadamente habitações degradadas e uma população isolada”.

O projeto teve como objetivo a reabilitação das habitações que considerou “a casa um fator de felicidade” e a promoção da interação intergeracional, parâmetro obrigatório no concurso.

“O Porto é uma cidade universitária com vários campus dispersos e, por isso, considerei pertinente estabelecer um programa que ligasse as faculdades próximas à ilha”, esclareceu. A amarantina considera que a troca de conhecimentos entre estudantes e habitantes tornar-se-ia mais fácil com a “criação de uma cantina com preços acessíveis, que os próprios moradores pudessem usar ou até gerir e com a construção de espaços mais flexíveis para ‘workshops’, conferências”.

Maria Abreu apresentou o seu projeto na Sede das Nações Unidas, local onde recebeu o prémio, e que considerou ser uma “excelente oportunidade para estabelecer contactos e para conhecer outros trabalhos”.

O concurso insere-se no programa “Human Settlements”, promovido pela “International Council for Caring Communities (ICCC)”. Este ano o concurso recebeu mais de 400 propostas, sendo a primeira vez que uma escola portuguesa foi premiada.» in http://www.averdade.com/2016/07/12/jovem-de-amarante-distinguida-pela-onu/?utm_source=e-goi&utm_medium=email&utm_term=Newsletter+A+VERDADE&utm_campaign=Newsletter+A+VERDADE

16/06/16

Amarante Pessoas - O Alfredo Moedinhas e a sua fome infinita de dinheiro que, lhe não matava a fome de pão, nem a fome do espírito...



 «O Alfredo Moedinhas...

O Moedinhas foi um personagem que me marcou desde muito novo, pois habituei-me a vê-lo passar pela casa dos meus pais, com uma periodicidade quinzenal. Quase sempre antes do meio dia, o Alfredo Moedinhas lá aparecia com a sua lengalenga habitual. Virava-se para a minha Mãe e repetia, invariavelmente, a mesma questão: “A Senhora não tem aí umas moedinhas, para este pobre desgraçado e doente, que não tem recursos para se alimentar e vestir”. Quase sempre a minha Mãe verificava se tinha uma moeda ou outra no porta moedas e lá lhe ia dizendo: “leve isto, é o que tenho e a vida está má para todos!”

Este personagem que nunca gostou de trabalhar, mas que idolatrava o dinheiro, percorria o nosso concelho e os limítrofes, estendendo a sua atividade ao antigo Condado Portucalense. Quando eu ia ao mercado semanal de sábado, com a minha Mãe, também era normal vê-lo no seu mister de pedinte, lançando um apelo estereotipado, mas eficiente, aos pedestres que passavam. Alfredo, desde muito novo foi ensinado por um tio, nesta arte de pedinchar, pelas feiras e festas locais. Não raras vezes, era possível vê-los na movimentada Rua de Santa Catarina na cidade do Porto, com o Alfredo a simular um braço estropiado, enquanto o tio apelava à caridade dos passantes, bastante impressionados, com o cenário montado. Um dos braços do Alfredo era atado junto ao corpo de forma a parecer que faltava e a camisola tinha apenas a manga descaída, dando a entender que não tinha braço.

Alfredo vivia algures numa remota aldeia de Vila Real, ninguém sabendo muito bem onde se situava a sua habitação. Entretanto, começaram a surgir rumores de que o Alfredo tinha já mais do que uma casa, mais do que uma quinta, resultante quer dos legados do tio pedinte e do dinheiro que ia acumulando com a sua atividade de caminheiro pedinte pelas nossas freguesias, para cá do Marão. Usava sempre um fato todo gasto e sujo, mas onde podia guardar as suas moedas que ia trocando por notas nas tascas dos caminhos das aldeias, onde mendigava também umas sandes e uns copos de vinho que, quase sempre, por misericórdia, lhe concediam; porque ele gastar nunca podia, dizia sempre que não tinha dinheiro.

Esta avareza que alimentava os dias deste homem, que fazia com que vivesse em função da soberba, do embuste, de uma ignomínia interior, que nos poderá levar a questionar como podem ser nublosos e intrincados os meandros da natureza humana. O homem enquanto ser livre e que Deus criou à sua semelhança, pelo menos segundo a crença Judaico-Cristã, pode sempre escolher múltiplas formas de viver, de ser feliz, ou de sobreviver. Afinal, as matizes de uma paleta em que o branco e o preto, correspondem respetivamente a Deus e ao Demo, apresentam infinitas cambiantes. A cor branca, sinal de luz, de paz, de eternidade; a cor preta, sinal de morte, de dor e de sofrimento; serão sempre intercalados por uma gama interminável de outras combinações de cor, mais ou menos claras, mais ou menos sombrias.

Conheci muitos mais homens avaros, mas poucos se dedicaram tanto à sua causa de conseguir dinheiro, por métodos de moralidade dúbia, como o Alfredo Moedinhas. Afinal, não deve ser fácil abdicar de uma vida, para andar a mendigar diariamente, mais e mais moedinhas para um mealheiro que, de tão insaciável, mais parecia estar furado. Andar de aldeia em aldeia, de rua em rua, de vila em vila, de cidade em cidade, sempre a repetir a mesma lengalenga e a ludibriar os outros, sem verdadeiramente precisar de tal, só pode ser do domínio do patológico, de um estado febril que o dinheiro provoca em algumas pessoas, com mentes mais ou menos perversas.

Um dia, numa tasca da minha freguesia, alguns frequentadores mais atrevidos, perguntaram ao Moedinhas, por que raio amealhava ele tanto dinheiro, se não tinha filhos, o dinheiro que ele teria, a sua idade avançada, já deveria dar para viver sem trabalhar. A família que se resumia a uns primos e sobrinhos que estavam longe da sua terra, quase todos emigrados, e que tinham vergonha deste tio pedinte, não lhe ligavam nem se interessavam por ele, cortaram todas as ligações umbilicais com este solitário e celibatário homem... comentava ele então: “Eles queriam eram as minhas economias, que me custam tanto a juntar, mas o meu dinheiro, nem quando eu morrer eles o vão encontrar...”

Como se pode dar valor a uma vida assim, acreditar tanto nela, que se sacrifica tudo em prol de uma ilusão criada; acumular do dinheiro. São de facto estranhos os desígnios que Deus nos confere, ou não, e o nosso lado mais negro é bastante bizarro. Acreditando num julgamento final das Almas, o que se poderá dizer disto. E acreditando que Deus nos concede o livre arbítrio de escolher o caminho do Bem, ou o do Mal, como justificar uma escolha destas. Há tantas vidas e vida desperdiçadas no território dos humanos que somos levados a questionar todo este mistério, que se consubstancia nas diferentes existências e experiências humanas, algo do domínio da teleologia, ou mesmo, da escatologia.

Como os boatos correm depressa, o Moedinhas começou a ser seguido e perseguido por charlatães e amigos do alheio, no sentido de tentarem descobrir o local exato, onde estaria o tesouro deste pobre homem. Como desconfiava de tudo e de todos jamais colocaria o seu dinheiro num banco, com medo que se descobrisse a amplitude da sua fortuna. Assim, fazia como o seu tio falecido lhe ensinou a fazer: enterrava o seu dinheiro em locais insuspeitos. Deste modo, no chão térreo da sua cozinha, a terra batida que o enformava, cobria muitos potes com moedas e notas, mas como ele era muito cuidadoso com os horários em que fazia os seus depósitos muito bem dissimulados pela terra batida, ninguém que entrasse naquela pobre cozinha de uma casa tão humilde, poderia ter alguma leve suspeita que fosse, que o chão estava sobre potes de dinheiro. Também enterrou alguns potes no seu galinheiro, que ficaram bem escondidos pelo manto de mato e de estrume de galinha, jamais alguém pensaria ali encontrar potes de dinheiro.

Um dia, uma dupla de assaltantes de Lordelo que o seguiu até casa, tarde da noite, sequestrou o Moedinhas e obrigou-o a dizer onde este escondia o seu dinheiro, sob a ameaça de tortura. Passaram a noite toda a fazer-lhe mal, com muita violência física e psicológica, até que este, sem nunca confessar nada, acabou por morrer de tanta porrada que levou. Sem herdeiros e como os ladrões não desconfiaram dos locais de enterramento do dinheiro, assim se perdeu uma fortuna que, verdadeiramente, não serviu ao Moedinhas que foi um seu escravo, nem à sua família que não lhe prestava atenção por este ser um pedinte sem ter necessidade disso. Os ladrões puseram-se rapidamente em fuga, para não serem apanhados, pelos populares e assim terminou a estória do Alfredo Moedinhas que: morreu a tentar proteger a sua fortuna que, nunca gozou, nem deixou que ninguém gozasse. A ironia do destino foi morrer caído sofre o chão que cobria a sua fortuna. Será que vale a pena passar ao lado da vida?... Será a vida que nos leva a passar a seu lado?... Será uma experiência do Divino?... Será que o nosso destino é codificado?... Será tudo um acaso simples?...

“A fome de ouro, esta pedra filosofal dos herméticos da atualidade, tem raspado, pulverizado, fundido e depurado, no cadinho da avareza, todos os mistérios, todas as idealidades, até lhe extraírem o átomo palpável, luzente e incomparável da moeda cunhada, sonante e tangente.”
Camilo Castelo Branco» in 
http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/06/alfredo-moedinhas.html


Pink Floyd - "Money"


Pink Floyd - " Money" - (Roger Waters / David Gilmour)


Pink Floyd - " Money"



"Money
Pink Floyd

Money, get away 
Get a good job with more pay and you're okay 
Money, it's a gas
Grab that cash with both hands and make a stash
New car, caviar, four star daydream 
Think I'll buy me a football team

Money, get back
I'm all right Jack keep your hands off of my stack
Money, it's a hit 
Don't give me that do goody good bullshit
I'm in the high-fidelity first class traveling set 
And I think I need a Lear jet

Money, it's a crime 
Share it fairly but don't take a slice of my pie
Money, so they say 
Is the root of all evil today
But if you ask for payrise it's no surprise
That they're giving none away
Away, away, way
Away, away, away"

19/05/16

Pessoas - A inveja ou a mola que faz mover o mundo, nem sempre para a frente, nem sempre para diante, ou para o melhor do Homem...



«A inveja, qual motor do mundo…

Um jovem lavrador recém-casado da freguesia, era um homem bastante dinâmico e atento ao meio que o rodeava, à sua ecologia social. Estávamos no inicio dos anos sessenta, Quim Cavalo, era assim conhecido, devido à sua enorme capacidade e resistência física, dado que com uma enxada na mão, era tudo dele. Um verdadeiro cavador, criado como tal, numa época em que não proliferavam tratores, mas alfaias agrícolas com tração animal. Mesmo assim, muitas vezes, preferia cavar ele do que estar a preparar os animais e a atrelar as alfaias, tinha a sensação audaciosa que produzia mais com a enxada. Tratava-se de um grande cavador e gostava desse trabalho, o que o levava a superar de forma continuada, os seus limites físicos e mentais.

Este cavador pedia meças a todos os machos da freguesia e arredores, quando era para cavar. Alguns até tinham vergonha de o fazer ao lado dele, pois este fazia questão de os desmoralizar e mesmo de os humilhar, relevando a sua superioridade com comentários curtos e sarcásticos. Assim que começava, não parava para comer, beber, descansar; era sempre em frente a ver os outros a ficarem para trás e ele sempre com um sorriso contido na sua face e postura imperial. Claro que qualquer contratante adorava ter a trabalhar nas suas vinhas e lavoiras, um cavador deste calibre, pelo que era muito requisitado em toda a freguesia e às adjacentes.

Ao almoço e jantar, finalmente, poder-se-ia ouvir o cavador a tecer algumas considerações sobre a vida em geral. Foi sempre um grande trabalhador, mas tinha um defeito a essa medida, vivia embalado pela inveja. Às vezes, ao ouvinte mais atento, dava a ideia de que fazia as coisas, mais para mostrar aos outros a sua hegemonia natural, do que para responder a qualquer desígnio interior da sua pessoa; eram mais os traços narcísicos da sua personalidade, o seu real leitmotiv.

E assim a sua vida obedecia a um comportamento de emulação, com as pessoas da sua condição social e até, com os de camadas superiores. Nunca queria ficar atrás de ninguém; isso era como tirar-lhe anos de vida, o que acontecia mesmo, pois perdia noites em claro, quando as coisas não lhe corriam de feição. Assim, se a sua quinta de que era caseiro, não fosse a que produzisse mais carros de milho, mais leite, mais touros, mais vinho, mais feijão, estaria sempre disposto a trabalhar e a investir mais para ser o produtor líder da freguesia…

Igualmente o seu único filho teria que ser sempre o melhor, um espelho do seu progenitor. Acontece que o rapaz era malandraço no trabalho e na escola, o que deixava o pai muito angustiado, pois sempre quis que ele fosse a sua continuação, um verdadeiro seguidor, com a mesma ambição do pai. Além disso o miúdo era muito doente, pelo que os constantes apelos do pai para melhorar em todos os sentidos, caiam, invariavelmente, em saco roto. 

O pior estava para vir, com a prematura morte do jovem herdeiro, mas mesmo assim, Quim Cavalo, não se ficou. No cemitério fez a maior e melhor capela, para servir de túmulo ao corpo do seu malogrado filho, gastando o que tinha e o que não tinha nessa última empresa, impulsionada pela sua vontade compulsiva de ficar à frente dos outros. Nem nesse momento dramático, o homem percebeu o que realmente importa... nesta vida!

Claro está que progredir pela inveja é melhor do que não progredir. Se calhar até se pode considerar aceitável esta premissa. Mas o que seria o progresso deste homem se ambicionasse superar-se a si próprio, sem o contraponto da medida dos outros... se calhar seria muito mais profícuo e melhor para ele próprio. Por certo, o seu crescimento exterior estaria mais de acordo com o interior e ele muito mais apaziguado consigo mesmo. Mas isso sou eu, que nada sei, a lucubrar sobre a vida do Quim Cavalo, que Deus tem!

“A virtude neste mundo é sempre maltratada; os invejosos morrerão, mas a inveja é poupada.” - Molière» in http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/05/inveja-qual-motor-do-mundo.html


Três Cantos - "Que Força É Essa"



"Que Força é Essa
Sérgio Godinho
  
Vi-te a trabalhar o dia inteiro 
construir as cidades pr´ós outros 
carregar pedras, desperdiçar 
muita força p´ra pouco dinheiro 
Vi-te a trabalhar o dia inteiro 
Muita força p´ra pouco dinheiro

Que força é essa 
que força é essa 
que trazes nos braços 
que só te serve para obedecer 
que só te manda obedecer 
Que força é essa, amigo 
que força é essa, amigo 
que te põe de bem com outros 
e de mal contigo 
Que força é essa, amigo 
Que força é essa, amigo 
Que força é essa, amigo

Não me digas que não me compr´endes 
quando os dias se tornam azedos 
não me digas que nunca sentiste 
uma força a crescer-te nos dedos 
e uma raiva a nascer-te nos dentes 
Não me digas que não me compr´endes

(Que força...)

(Vi-te a trabalhar...)

Que força é essa 
que força é essa 
que trazes nos braços 
que só te serve para obedecer 
que só te manda obedecer 
Que força é essa, amigo 
que força é essa, amigo 
que te põe de bem com outros 
e de mal contigo 
Que força é essa, amigo 
Que força é essa, amigo 
Que força é essa, amigo 
Que força é essa, amigo"