Divina Tragédia
«O universo é infinita solidão
Onde a sombra fantástica do ser
Divaga numa eterna exaltação.
A vida é dor. Sofrer é conhecer.
Só os olhos que choram sabem ver.
A lágrima é que vê; os olhos não.
Os olhos são Calvário, negra cruz,
E a lágrima é presença de Jesus...»
E ainda muito antes, no «Sempre», já nos dissera de maneira inesquecível o que é chorar:
«Que é chorar?
É ver o sol, lágrima de oiro,
Pela face de Deus a deslizar.»
Mas o Poeta e o advogado eram dois seres antagónicos.
Em carta dirigida à irmã Maria da Glória, em 2-2--1910, escrevia:
«Ai, isto de ser advogado! O poema e o Código Civil batalham dentro de mim, como outrora Satã e Deus! para ser bom advogado é preciso ter uma espécie de inteligência estúpida... quando na verdade o que eu tenho é uma espécie de estupidez inteligente. Sim! É esta estupidez, esta cegueira visionária que mostra ao poeta as coisas desconhecidas e que mostrou ao jerico de Balaan o Anjo do Senhor...»» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos
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