19/04/10

Amarante - Cineclube de Amarante apresenta "Nas Nuvens", na próxima 6.ª feira, dia 23, 21H30M!

«Cinema Teixeira de Pascoaes
6ª Feira, dia 23 às 21: 30
Telefone: 255 431 084

Nas Nuvens
Título original: Up in the Air
De: Jason Reitman
Com: George Clooney, Vera Farmiga, Anna Kendrick
Género: Comédia, Drama
Classificacao: M/12

EUA, 2009, Cores, 110 min.

Sinopse
Ryan Bingham (George Clooney) é um quarentão empedernido, misantropo e com fobia ao compromisso. A sua especialidade é despedir pessoas, reformulando as necessidades empresariais com vista à maximização de recursos. Por isso, está sempre a viajar em trabalho (com uma bagagem minimalista que leva para todo o lado), facto que aproveita para saciar a sua compulsão em coleccionar milhas aéreas. Porém, quando está prestes a atingir o objectivo das dez milhões de milhas como cliente regular, o patrão decide aplicar a Ryan o seu próprio conceito de maximização de recursos e mudar o método de trabalho, fazendo-o cumprir as suas funções através de vídeo-conferência.
A ideia de estar confinado a um escritório seria a mais aterradora de toda a sua carreira, não fosse algo ter mudado: Ryan acabou de conhecer Alex Goran (Vera Farmiga) e agora a perspectiva de assentar e começar uma família parece muito menos assustadora.
Baseado no romance homónimo de Walter Kirn, é a terceira longa-metragem de Jason Reitman, depois de "Obrigado por Fumar" (2005) e "Juno" (2008), foi nomeado para seis das principais categorias dos Globos de Ouro: melhores filme dramático, realizador, argumento, actor dramático (Clooney) e duas nomeações na categoria de melhor actriz secundária (Vera Farmiga e Anna Kendrick).
Cinecartaz.Público


Por: Jorge Mourinha (PÚBLICO, 21/01/2010)

Primeira classe

George Clooney é mais do que só charme num belíssimo filme sobre a ilusão das aparências

George Clooney podia não ter feito mais nada na sua vida que bastaria "Nas Nuvens" para perceber como, por trás da fachada de solteirão "bon-vivant" e sedutor, há um actor extraordinariamente inteligente a trabalhar. Porque o filme de Jason Reitman é precisamente sobre a ilusão das aparências, como fica explicado quando a personagem de Clooney, Ryan Bingham, dá por si a transportar nas suas viagens profissionais um recorte em cartão da irmã e do noivo para fotografar por onde for passando - eles não têm dinheiro para viajar e as fotografias tornam-se numa espécie de memória daquilo que se queria fazer mas nunca se fez.
Mas a única vida de cartão que há ali é a dele, Ryan Bingham, que foi a todos os sítios onde a irmã e o noivo gostariam de ir (e alguns onde eles não quereriam ter ido) e não trouxe nenhuma memória, nenhuma imagem, nenhuma prova que esteve lá ou que desfrutou da experiência. Bingham é executivo de uma empresa de "transição" (eufemismo para "despedimentos") que passa 320 dias em cada ano "na estrada", a viajar de empresa em empresa para licenciar empregados com um toque pessoal. Como o Robert de Niro do "Heat" de Michael Mann, não possui absolutamente nada que não possa caber na sua bagagem de cabina, e dá palestras motivacionais sobre a bagagem que transportamos. E não tem nada a que se agarrar quando surge uma nova executiva que tem uma ideia que vai revolucionar o mercado das empresas de "transição" e que o pode forçar a abdicar da sua vida literalmente "no ar": despedir à distância, via novas tecnologias.
"Nas Nuvens" é, já se percebeu, filme cheio de ironias contemporâneas: história de um especialista em despedimentos que se vê à beira de ser ele próprio despedido, rodada e estreada em plena crise económica (alguns dos empregados que Bingham/Clooney despede são, eles próprios, desempregados); história de um homem que prega abandonar a bagagem sem perceber que nunca se desfez da sua; história de um homem que se deixou seduzir pela própria imagem que projecta. Filme que se resume numa única frase que parece ser atirada assim meio ao acaso mas que, vai-se a ver, é muito mais central do que parece: "Sou como a minha mãe. Uso estereótipos porque é mais rápido."
"Nas Nuvens" é um filme sobre tudo o que se esconde por trás dos estereótipos e que é tudo aquilo que dá sentido e sabor e personalidade a uma vida que por vezes parece não ter rei nem roque, sobre um homem que dá por si prisioneiro do estereótipo que ele próprio criou. É, em grande parte, aí que o terceiro filme de Jason Reitman, depois de (e muito superior a) "Obrigado por Fumar" (2006) e "Juno" (2007), adaptado de um romance de Walter Kirn, se ganha: no perfeito ajuste entre actor e personagem, na inteligência com que Clooney modula infinitesimalmente confiança e vulnerabilidade na proporção exacta para tudo fazer sentido. É mais, mas muito mais, difícil do que parece, sobretudo porque não parece absolutamente nada difícil. E é mais uma ironia que "Nas Nuvens" vai inserindo subrepticiamente, ao transformar-se lentamente de alta comédia sofisticada clássica, à medida do poder de sedução de Clooney-vedeta, numa espécie de meditação amarga, quase desesperada, sobre o que significa ser "um profissional", ter "uma carreira" ou "uma ambição", revelando as insuspeitas reservas de talento de Clooney-actor. É uma fita sobre a ilusão das aparências, sobre a sedução de viver nas nuvens - e do choque que pode ser quando o avião aterra. É, já se percebeu, um grandíssimo filme, prova que ainda é possível a Hollywood fazer cinema de primeira classe na melhor linhagem clássica.



"NAS NUVENS" - (Filme - Trailer legendado em Português)
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Elsa Cerqueira
Cineclube de Amarante

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