Emanuela Orlandi desapareceu no Vaticano há quase 40 anos e nunca se percebeu o que tinha realmente acontecido. Depois de vários pedidos da família, a investigação foi reaberta.
O misterioso desaparecimento de Emanuela Orlandi intrigou os italianos durante décadas e o caso voltou a ganhar notoriedade em 2019, depois de uma denúncia anónima à família da jovem desaparecida, segundo a qual o corpo poderia estar enterrado no cemitério dentro das muralhas da cidade do Vaticano.
O Vaticano desenterrou vários caixões funerários e mobilizou especialistas forenses para investigar o caso, mas os testes revelaram que os restos mortais encontrados tinham todos mais de 100 anos.
Com base nestas descobertas, os procuradores do Vaticano pediram para que a investigação fosse arquivada, o que um juiz validou em abril de 2020, segundo fontes do Vaticano.
Recentemente, a história voltou a chamar as atenções após estreia na Netflix de "A Rapariga do Vaticano: O Desaparecimento de Emanuela Orlandi".
E agora são várias as agências noticiosas italianas que avançam que o caso foi reaberto. De acordo com a ANSA, após o encerramento das investigações pelo Ministério Público de Roma, o irmão de Emanuela, Pietro, voltou a pedir justiça diretamente ao Tribunal do Vaticano, tendo sido confirmado esta segunda-feira que o Ministério Público do Vaticano deu seguimento ao pedido.
Por sua vez, o Vatican News refere que o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, informou que o promotor da Justiça do Vaticano, Alessandro Diddi, confirmou esta decisão com base em pedidos feitos pela família.
O primeiro pedido da família Orlandi surgiu em 2017. O processo foi aberto "mas desde então nada foi feito, ninguém foi questionado", denunciou várias vezes a advogada da família, Laura Sgrò.
Ao The Guardian, a advogada refere que só soube da recente reabertura do caso pelas notícias que começaram a surgir. "Só soubemos da investigação pela imprensa. Há um ano, escrevemos ao Papa com a intenção de falar com o promotor da Justiça. É claro que estamos felizes por estarem a fazer uma investigação, mas esperamos que isso realmente forneça respostas concretas", afirmou.
De apontar também que a reabertura do caso ocorre depois de o arcebispo Georg Gänswein, secretário pessoal de Bento XVI, ter dito que vai abordar o mistério de Orlandi num livro revelador que será publicado a 12 de janeiro.
O caso Orlandi chegou a levantar suspeitas sobre a responsabilidade do Vaticano, quando se percebeu que a adolescente tinha desaparecido após uma aula de música em Roma, a 22 de junho de 1983.
Os familiares de Orlandi exigiram que as autoridades da Santa Sé revelassem tudo o que sabiam sobre o desaparecimento da jovem, filha de um funcionário do Vaticano, o que levou a sucessivas investigações.
Quais as teorias para justificar o desaparecimento?
Desde o desaparecimento de Emanuela Orlandi, surgiram várias teorias da conspiração sugerindo ligações com a atividade da máfia romana e com escândalos sexuais.
Em maio de 1983, outra jovem da mesma idade de Emanuela, Mirella Gregori, já tinha desaparecido, e os dois casos foram quase imediatamente ligados. Contudo, nunca se conseguiu provar essa ligação, que vai agora ser investigada novamente.
No documentário da Netflix surgem também vários depoimentos que levam a diferentes teorias, entre as quais:
- Emanuela Orlandi foi abusada por "alguém próximo ao Papa" João Paulo II;
- A adolescente foi levada para Londres, para um albergue de uma instituição Católica, com despesas pagas pelo Vaticano. Quando morreu nesse local, os restos mortais foram levados de volta a Roma;
- Emanuela foi raptada por um grupo que pretendia chantagear o Vaticano para libertar Mehmet Ali Ağca, acusado de uma tentativa de assassínio do Papa João Paulo II em 1981;
- A jovem foi sequestrada por um grupo da máfia italiana, Banda della Magliana, que acabou por ordenar a morte de Emanuela.»