(António Cardoso, Paisagem do Marão) «Marão, profunda elegia Que sinto vibrar em mim. Desnudo, de cor sombria, Cor de terra e penedia Duma tristeza sem fim.» Teixeira de Pascoaes
«O Poeta de Gatão Amarante, Teixeira de Pascoaes, em 1921 publicou «Cantos Indecisos», com pensamentos de grande magia e elevação. «O sol não vê a luz, E não sabe que tem perfume a violeta. E assim como o Senhor não conheceu a cruz, Ignorante de versos é o Poeta.» Teixeira de Pascoaes» in livro "Na Sombra de Pascoaes", uma fotobiografia de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
«Pascoaes propunha, às vezes, um pequeno desvio no trajecto para não passar pelos trabalhadores que cavavam a terra, na vinha, não fossem eles pensar que o patrão os ia vigiar. O Poeta tinha por eles o maior respeito. Por isso escreveu:
"O Poeta e o cavador.
A pena é irmã da enxada.
A página de um livro é terra semeada."
Teixeira de Pascoaes» in livro "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos, sobrinha do Grande Poeta de Gatão, Amarante.
António Sérgio, por altura da homenagem da Academia de Coimbra, em Maio de 1951, dedica soneto ao homenageado, o Grande Poeta de Amarante, Teixeira de Pascoaes, embora defendessem versões antagónicas sobre a questão Saudosista:
«As pessoas são nada, e as cousas tudo: Ah, se o pensaste assim, e se o disseste, É que infundindo-lhe a alma, às cousas deste Um coração represo, arfante e mudo! O penumbroso monte, o tronco rudo, Vivem na névoa humana em que os puseste; Tornaste irmão ansioso o vento agreste E carinhosa a relva em seu veludo. Bendito o canto teu, porque desperta Essa visão de uma alma já liberta Das cadeias da luta e da miséria. E ao paraíso ao cabo regressada, - Porque viu, ao fulgor da «"Vida Etérea"» Que as pessoas dão tudo e as cousas nada!» António Sérgio
"Meu coração é tudo «Em certas horas, desejo Estar contigo, falar-te, Mas não sei onde é que vives, Coração! Não fazes caso de mim. Eu, para ti, não sou nada. E amas tudo quanto existe E não existe. Sou caverna onde te metes, Durante a noite somente. Mal vem o dia, lá partes, Coração! Por isso, se quero ver-te, Olho as aves, os penedos, As florestas, as montanhas E o sol-pôr... Quantas vezes, nos meus olhos, és lágrima, a tremular; E sorriso nos meus lábios, Coração! E as estrelas, que arrefecem Vão banhar-se em tuas chamas; E cintilam como em novas, As estrelas... Apenas eu não consigo Acompanhar-te, um momento, Branca rosa, lírio roxo Coração! Sou a pegada que deixas Neste lodo, quando passas, A caminho do Infinito, neste lodo... Eu, para ti, não sou mais Que um antro negro e profundo, Onde só vens quando é noite, Coração!»
Foto: a modelo Dora Iva "RETRATO DE MULHER Visto o teu lindo olhar De castanho, E tecido Ao teu tamanho, Um negro vestido De amar. São de linho Os teus cabelos, Que se estendem ao deitar, Ou novelos Em remoinho, Como enormes ondas do mar. A tua boca é desejo, Em teus sorrisos largos, Que deixas juntar em beijo, Nos lábios doces-amargos. E os teus seios, São frutos altos impuros, Já colhidos em anseios, Por homens verdes-maduros. Quando passas pela rua, Ou sentada as cruzas, Todos te vestem nua, As tuas pernas de musas. Inspiram meus sentidos dedos Quando te toco na pele, Deixando-a em arrepio. E enquanto aos ouvidos Segredos, Há jardins em gemidos, Por abelhas com cio De mel."
"MULHERES AMADAS Carência em ânsia crescente, Rumos de direção em alento, O que a um o outro sente No peito, num momento. Ao cruzar um gesto se faz Tão distante, no embaraço De dar, por não ser capaz A vontade de um abraço. São instantes em desvio, Corações que batem à toa, Ao preencher o vazio Da vida, que tão magoa. Por tão longe a idade Da memória, num rosto, Faz acordar a saudade. Quanta por tão gosto! Como pedras calçadas De paixão, que foram ruas De mulheres tão amadas, Hoje, de palavras nuas."
"GOTA DE SEDE... Reinventa as tuas mãos em campos De amor verde Com um punhado infinito de desejos Sem mentira. Regressa a ti, E parte à procura daquela gota Viciada numa boca Que um dia quis ser sede louca De uma torrente sem razão. Não procures os lábios desidratados Que ecoam gritos desertos Por vales fartos de uma terra Semeada sem palavras de paixão. Regressa a ti... Regressa a mim..."
"SERRA DE AMAR Deitas-te perto do céu De onde descem diabos Ao teu corpo aberto Possuído por odores A rosmaninho E nos teus bege lábios Um sabor a alecrim. Cubro-te com um véu De montanhas de promessas. Tu dizes não que sim Com mãos de seda Aos botões com pressa De jardins de amar, E eu esvazio a minha alma em ti."
O Grande Poeta de Amarante e do Mundo, Teixeira de Pascoaes, também lançou quadras para Fados, mormente quando estudou em Coimbra, em famosas tabernas de fadistas.
"Saudade, palavra escura Mas por dentro iluminada. É como na noite sombria Um beijo da madrugada." «Na Sombra de Pascoaes» fotobiografia de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
"SE PUDESSE DEFINIR-TE... Se pudesse definir-te, O teu corpo seria o mar, E os teus olhos canoas, Que os meus abalroas, Com o teu lindo olhar. E o teu coração o sol, Despido a céu aberto, Que faz do meu mole, Como areia do deserto."
Foto: a modelo Stephanie Liporacci F. Santos "PRAIA DE UM ADEUS Já começa o fim… Passámos tantos caminhos, Que subiam e desciam para nada, Como praias de areia sem rimar. Agarro esse instante, de tempo de sol, E de um mar de palavras, por tão pouco. Aqui estou, tão longe de mim, Que esqueço o horizonte. Já é tarde e a maré alta que magoa, Escrevo-a, pela última vez, E entrego-me ao acaso. Rebentam ondas por um sonho feliz, Sonharei com ele à deriva, Junto ao por do sol, E amanhã, ao acordar, Nas dunas de uma ilusão, Valeu a pena."
«Nasci ao por do sol dum dia de Novembro, O meu berço o crepúsculo embalou... E até parece, às vezes, que me lembro, Porque essa tarde, triste, em mim ficou.»
(TEIXEIRA DE PASCOAES EXPOSIÇÃO NA BIBLIOTECA MUNICIPAL ALBANO SARDOEIRA AMARANTE)
"VOLTA... Já viste como ficou a minha boca, Nos lábios dormentes, De acordarem sem beijos! E as minhas mãos, Nos dedos trementes, De tantos escritos segredos! Já viste como ficaram os meus olhos, Nas lágrimas de sorrisos, De cegarem de desejos! E o meu coração, No peito em frisos, De tanto baterem por medos! E tu levaste contigo Todos os meus sentidos, Ficaram comigo Os teus, mas contidos. Volta..."
Imagem partilhada de A Lua e Eu "MARGENS DA VIDA Fui vê-la, Na margem de um rio, E levava comigo palavras de sol, Para cobrir O arrepio Do seu destino. Estava despida, Resignada, E lamentava à corrente, As suas folhas caídas, Já quietas e molhadas. Mas de repente, Daquele inverno sentido, E de um sol proibido, Fez-se a árvore da vida, Porque um dia será primavera, E as suas folhas serão mais verdes do que a esperança, E agitadas, Ao vento meigo e quente, De um abril qualquer."
"CHÃO DE AMAR Não demores o por do sol, Porque é inútil semear um canteiro, À sombra de um lençol. Amanhã voltarás a ter Montes de querer, Por tudo o que não fizeste. Não demores a vontade de um corpo em dolo, Com odor a pinhos, Deitado num chão agreste. Colhe-o pela cintura, Como à rosa o jardineiro, E com a mesma ternura Com que uma andorinha em consolo, Esvoaça um céu de espinhos."
Foto: a modelo Lorennah Carvalho "ILUSÃO É noite, Noite demais! Chamo-a, Para contar-lhe a ilusão, Mas ela não sabe o que é, E não pode esperar mais por causa do dia, Porque a vida é claridade, E é mais do que aquilo que queremos. O meu sonho entristece e esconde-se, Com medo do sol, E voa à deriva no escuro, Pelos lugares onde a perdeu de vista. Sonho até ser sonho, Mas já ninguém passa, E os olhos estão quase a chegar. É tarde, Tarde demais!"
"Olhos nos Olhos Lindos são os teus olhos, cor da terra, Verdes ousados, os meus contidos. Como janelas com vista para os céus Os teus estrelas, que iluminam os meus. E as tuas sobrancelhas, alecrim da serra, As minhas desnudas, outeiros despidos. Flores de girassol que se voltam para mim, Os teus, quantas vezes dispersos e alheios, Outras, asas de borboletas batem que sim, Ao sol, e ao olhá-lo nos teus, encandeio. E sonho, ao fixá-los tão profundamente, Ficam vidrados de paixão, reflexo dos teus. O mundo para! O olhar escurece! Porque os teus olhos leem os meus. O corpo desperta o peito, humedece A boca, e diz mudas palavras em voz. Sentinelas que abrem alas ao coração, Sorriso de alma embaciado em vós, Como semáforos em ruas de solidão. Noite de nevoeiro que cega o mar, De compaixão, faróis mostram o cais, Intermitentes, olho os teus sinais, Como pirilampos que brincam no ar. Fê-los Deus, e um dia ao olhar adeus, Levarei para sempre o amor dos teus."
"Amarante «Nobre digo por sua antiguidade Porque ia no tempo dos Romanos (E a história verdadeira o persuada) a fundarão fermosos turdetanos Foi seu nome Araduca n'essa edade antes de Christo vir muitos annos mas do tempo a inclemencia e desconcerto pouco a pouco a desfez e fes deserto.» «Em misera ruina sepultada, sendo exemplo de soberbas na ruina Logo por Amarantho reformada Fenis renace a villa de Amarantina é de seu nome ilustre derivada, a ser perpetua flor se determina mas que perpetua seia não me espanto porque he flor que não murcha d'Amarantho.» «Corrompeo ce este nome transmutando a letra o em e com que Amarante este nome foi sempre conservando, alguns, porque o Marão lhe está deante de ante Marão o forão derivando, falça ethemologia, mas galante e aqui se deixa ver, se se penetra o que faz a mudança de uma letra.»"
João Veloso de Queiroz (NOTA: Apenas as oitavas mais ligadas ao nome de Amarante, documento existente na Biblioteca da Universidade de Coimbra)