António Carneiro, "Porto Manso", 1927
«Óleo sobre tela
26 × 34,5 cm
assinado
Inv. 1571
Historial
Adquirido pelo Estado a Alfredo de Magalhães, em 1954.
Exposições
Lisboa, 1958, 41; Lisboa, 2006.
Bibliografia
LAPA, 1994, 108, cor; CASTRO, 1997, 155, cor.
Embora já tardia no conjunto da obra do artista, esta paisagem vem na continuidade de outras, como Melgaço, realizadas dez anos antes. Este facto permite incluir parte da obra do artista dentro de preocupações características das vanguardas do extremo final do século XIX com uma continuidade que ultrapassa o mero episódio circunstanciado. O entendimento naturalista está aqui completamente ultrapassado por uma organicidade própria à relação intersubjetiva entre o sujeito e o mundo. O pictórico não é apenas uma delimitada erupção mas generaliza-se a todo o quadro. As linhas de força tornam-se espessas faixas de cor marcadas pelo pincel. As suas formas ondulantes, adversas ao geometrismo, são ainda o desenvolvimento da poética arte nova do início do século. O envolvimento dos azuis e lilases, pontuado pelos brancos luminosos dos bancos de areia do rio, exploram uma paleta mais ácida que em situações anteriores. Insinua-se uma dimensão expressionista que quebra a dicotomia entre interioridade e exterioridade, presente em algumas obras anteriores, para figurar uma poética da empatia onde o natural é vivido interiormente e como tal se revela. Atinge-se aqui um momento extremo na obra do artista que, de precursor dos primeiros modernismos nacionais, o torna participante, ainda que afastado e num quadro de entendimento muito pessoal.
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