«Em 1931, Pascoaes sofreu outro rude golpe, a morte de mais um amigo muito querido - Raul Brandão.
Em carta dirigida à irmã Maria da Glória, a 6 de Dezembro, Pascoaes fala desse grande desgosto:
"Cá vim encontrar o Raul Brandão morto, com a esposa desolada, a beijá-lo e a afagar-lhe os restos dos cabelos brancos que lhe fugiam do alto da testa mais ampla e cor de cera. parecia dormir, emagrecido, o nariz mais saliente e fino, a boca desaparecida quase, com o bigode e as sobrancelhas dando-lhe ao rosto o aspecto de uma verdadeira máscara de cera ou de marfim: a máscara de um Santo.
Numa salinha contígua, um cunhado, três sobrinhos e duas sobrinhas (uma delas chorava constantemente) e o Mário Beirão. Lá fora a rua deserta, num deserto que abrangia toda a cidade.
Demorei-me com a Miquelina, até às oito da manhã. Descansámos até à uma hora e voltámos para junto do querido morto que foi o melhor amigo que tive em Portugal e um dos maiores intérpretes da Dor Humana.
Às três horas saiu o enterro, com meia dúzia de pessoas, debaixo de uma chuva constante. No cemitério, um cavalheiro de exótica figura, pede a palavra para dizer só três palavras: "Foi um bom!" E aqui tens o elogio fúnebre do maior escritor de Portugal!"
Pascoaes ficou depois muito chocado quando soube que a viúva recebera um cartão de Salazar que dizia apenas «A pesames»... Mas a verdade é que quando Pascoaes morreu, nem sequer isso!»
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