«Em 1952, vieram passar uns dias à Casa de Pascoaes dois jovens com muito interesse, amigos do Poeta. Eram eles o poeta António Luís Moita e o escritor Joaquim Montezuma de Carvalho, filho do Prof. Joaquim de Carvalho. Este rapaz cheio de valor tinha sido, pouco tempo antes, a cabeça da grande homenagem da Academia de Coimbra a Teixeira de Pascoaes, que se realizou a 12 de Maio desse mesmo ano.
Foi uma festa profundamente comovente.
O Poeta estava muito emocionado.
Os estudantes encheram por completo o Jardim de Santa Cruz onde se realizou o espectáculo dedicado a Pascoaes.
Na primeira parte actuou a Tuna Académica, na segunda o Orfeão Académico, na terceira o Teatro dos Estudantes com coros falados que terminou com a «Ode aos Poetas», de Miguel Torga. Na quarta parte, os estudantes fizeram entrega a Pazcoaes da colectânea que lhe era dedicada e de um exemplar da «Via Latina», também exclusivamente dedicado ao Poeta homenageado. Na quinta parte foram lidos, e declamados por elementos do T.E.U.C., poemas de Teixeira de Pascoaes.
O espectáculo era impressionante. Um mar de negrume, um esvoaçar de capas pretas que logo se estendiam no chão, ao longo de toda a alameda, formando um imenso tapete. Pascoaes, de capa aos ombros, percorreu o longo percurso amorosamente atapetado que o levou ao topo do jardim onde se situava o palco. E logo agradeceu aos estudantes, acabando por dizer: «Fui pago numa hora por cinquenta anos de trabalho...»
Nessa magnífica homenagem estiveram presentes Miguel Torga, Maria Germana e Manuel Tânger, o pintor Guilherme Filipe, o escultor António Duarte, Carlos Carneiro e muitos outros.
Na sede da Academia abriu a Exposição Bibliográfica onde figurava a colectânea intitulada «A Teixeira de Pascoaes», com depoimentos e desenhos de todos os escritores, poetas e artistas portugueses e um alguns brasileiros, que quiseram associar-se a esta homenagem.
«Não forçou a originalidade equilibrada companheira dos seus arroubos de inspiração, nem se prendeu a preocupações de escolas, nem se submeteu a influências de meios literários estrangeiros. Os seus versos, os seus poemas em prosa, são produto de um raro temperamento de artista no convívio com a natureza e na vibratilidade de sentimentos apurados no equilíbrio de uma mentalidade de eleição.
«Nunca se prendeu aos sortilégios dos aduladores, nem arredou um passo do caminho da independência. Nunca se afastou da nobreza de sentir que é timbre dos grandes caracteres.»
Foi ainda em 1951 que saiu a brochura «Aos Estudantes de Coimbra», uma plaquete com o soneto «Calvário» e uma novela intitulada «Os Dois Jornalistas».» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes» de Maria José Teixeira de Vasconcelos.