«João Pereira Teixeira de Vasconcelos nasceu em Amarante, a 10 de Fevereiro de de 1847.
Ingressou cedo na política. Foi presidente da Câmara Municipal de Amarante. Conseguiu instalar na vila um liceu e um regimento de artilharia.
Foi desde muito cedo deputado da nação e Par do Reino, numa época em que essas funções se desempenhavam gratuitamente. Daí a independência e o desassombro com que discutia todos os problemas. Não escrevia nem preparava os seus discursos e porque tudo era espontâneo nada o perturbava.
Um deputado cortou-lhe, um dia, a palavra, gritando do fundo da sala:
"O Teixeira de Vasconcelos atira-se com garras!"
Serenamente, o orador respondeu: "Mas tenho-as limpas e aparadas."
E continuou imperturbável, retomando calmamente o ritmo do discurso interrompido.
Certa vez, defendeu no parlamento a «necessidade de chamar gente nova para todos os sectores da atividade política, incluindo a Câmara dos Deputados, a pedir renovação.
Isto valeu-lhe uma caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro, na «Paródia», que o representava carregado de biberons, rodeado de bebés, que sofregamente lhe estendiam os braços e se agarravam às suas vestes de ama seca.
A vida em Lisboa, as deslocações constantes, ficavam caras. Ele tinha seis filhos. O pai ainda vivia. Tinha poucos rendimentos. Um amigo ofereceu-lhe um lugar importante na Companhia de tabacos. Aceitou. Foi a Lisboa tomar posse. Indagou das condições de trabalho, do horário, queria saber se tinha de ir lá todos os dias.
Foi-lhe dito: "Mas V. Ex.º não precisa de ter esse incómodo. Basta assinar."
Surpreso, perguntou ainda:"E qual é o meu vencimento?"
A resposta não se fez esperar. "Trata-se de uma verba especial para despesas de representação. V. Ex.ª pode fazer a retirada que quiser. A companhia não faz questão. Oferece-lhe a maior liberdade."
Rapidamente, meu avô declarou: "Ah! Muito obrigado. Sabe?... Afinal venho pedir a minha demissão."
João Franco pediu-lhe que aceitasse o cargo de Governador Civil de Viseu, onde a política se agitava e onde os políticos estavam divididos...
Homem atraente, insinuante, convenceu mesmo aqueles que não queriam ser convencidos e salvou facilmente a situação.
Quando os Reis, a caminho das termas de S. Pedro do Sul, visitaram a cidade de Viseu, foram delirantemente aclamados.
Pouco tempo depois, a morte do Rei afastou-o definitivamente da política. Desgostoso, desiludido, indignado com o crime do Terreiro do Paço, refugiou-se na sua Casa de Pascoaes. Nunca mais foi a Lisboa nem ao Porto. Não passava de Amarante.
Lembro-me de vir um alfaiate da invicta cidade - o Amieiro - provar-lhe os fraques, na casa de Pascoaes.
Entregou-se à lavoura. Surribou os montes em redor de casa e transformou-os em vinhedos.
Foi o primeiro homem que podou as vides, nesta região. Os caseiros atarantados, diziam que mais valia cortá-las pelo pé!
Isolou-se por completo na sua aldeia, mas era muito visitado.
O povo adorava o Senhor Conselheiro.
Morreu a 3 de Janeiro de 1922, na sua Casa de Pascoaes.» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.