01/08/11

Carlos Babo - Biografia na Revista Pensamento, Órgão do Instituto de Cultura Socialista, Comissão Directiva: Dr. Agostinho Fortes e Dr. Amâncio de Alpoim, na edição de Agosto de 1934!




«Carlos Babo - Biografia

Carlos Babo, nasceu a 4 de Setembro de 1882, no lugar da Corredoura, freguesia de S. Tiago de Figueiró, Concelho de Amarante.

Aos 22 anos, incompletos, saiu da Universidade de Coimbra, formado em direito. Era vulgar entre os novos manifestarem-se republicanos durante o tempo de estudante e, mal chegavam ao fim da formatura, mostrarem-se logo acomodados às circunstâncias. O nosso biografado, porém, republicano de antes e depois, escapou-se conscientemente àquela transigência.

Já na «Voz de Amarante» Carlos Babo deixava um nome e a afirmação dos princípios em que se tem mostrado sempre irredutível.

Saiu da Universidade e foi direito tomar lugar na Comissão Municipal Republicana de Amarante, a par do Dr. António Cerqueira Coimbra, Alfredo Osório, José Pereira da Silva, Dr. Lago Cerqueira, Dr. Romão da Cruz, etc.

Aos esforços e cuidados deste intemerato partidário da República se deve em grande parte a constituição da 1.ª Comissão Municipal Republicana de Felgueiras. Durante o tempo em que esteve em Amarante escreveu um panfleto intitulado, Os mestres de Direito ou os Assizes da Universidade. Este trabalho foi editado em 1906, pela Livraria Moura Marques, de Coimbra, e é da propriedade, da Companhia Editora Portugal Brasil.

São notáveis as correspondências que enviou, durante os anos de 1907 e 1908, para o jornal republicano de Lisboa – O Mundo. Algumas delas se continuaram num romance intitulado Amôr Perfeito, publicado em 1922, no qual há muitas páginas que são, por assim dizer, a revivescência de sentimentos íntimos do autor, vividos com enorme intensidade.

Carlos Babo abandonou Amarante com muito pesar de todos os seus amigos, se bem que tendo sofrido a animadversão das classes chamadas gradas, onde até havia correlegionários seus – alguns republicanos transigentes ou timoratos – que fugiam dele para não caírem no desagrado dos monárquicos.
Terras pequenas!...

Já em 1906 este valioso correligionário estivera em Luanda (Angola). Todavia, rápida foi a sua passagem por aquela colónia portuguesa. A atividade política que lhe estava despertando a ditadura franquista chamava-o instantemente à Metrópole…

Carlos Babo foi pouco depois, investido nas funções de advogado do Directório do velho partido republicano, do qual eram respectivamente presidente e secretário Bernardino Machado e António José d’Almeida. Daí para o futuro passou a consagrar-se àquelas funções, tendo renunciado à advocacia particular, por lhe ser impossível dispor de si, além dos serviços que a sua situação no Directório lhe impunha, absorvendo-lhe este dever partidário toda a sua energia.

Carlos Babo defendeu com brilho e a maior solicitude todos os republicanos que os governos monárquicos acusavam de pertencerem às associações secretas.

Data desse tempo a publicação de um folheto a que se deu o título de Um conselho à Rainha de Portugal.

Por diversas vezes se desempenhou de missões secretas de confiança política.
A 3 de Setembro de 1910, estando no Rossio, à noite, a ouvir um concerto da banda dos marinheiros, foi detido pelo agente Branco, por alcunha o «Sota da Praça». Ao mesmo tempo era preso o estudante da Escola Médica, e agora médico, Dr. Manuel Bravo, que hoje pertence à comissão municipal da Aliança Republicana Socialista de Lisboa. Afinal só foi mantida a prisão de Manuel Bravo, que esteve preso até à proclamação da República. A Carlos Babo soltaram-no logo e sem mais preâmbulos. Mas, como correra a notícia da sua prisão, e depois o não viram solto, ficou-se na suposição, até ao dia seguinte, de que esta prisão se mantivera. Sobre a impressão causada pela convicção de que este republicano estava encarcerado, o almirante Cândido dos Reis, no Directório, indignou-se e desesperou-se, com dura vontade de revoltar tudo contra a monarquia, pois que, a detenção do advogado do directório representava uma provocação directa àquele corpo superior partidário. A prisão de Carlos Babo parece não ter passado afinal de uma experiência.

O escritor Carlos Babo, proclamada a República, foi investido no cargo de secretário particular do Dr. António José D’Almeida, Ministro do Interior. Nesta situação se conservou até que a necessidade o forçou a aceitar a chefia duma repartição da Direcção Geral do ensino primário e Normal; e, quando foi criado o Ministério da Instrução, em 1913, transitou para este novo organismo.

Foi proposto deputado à constituinte pelo Círculo do concelho do Dr. António José d’Almeida (Arganil). Escrúpulos particulares impediram-no de actuar dentro desta modalidade política.

Carlos Babo exerceu no Ministério da Instrução Pública, a contento de todos, por diversas vezes, as funções de secretário geral.

No período que vai de 1912 a 1913 deu à estampa um livro de crónicas, que já se encontra esgotado, a que deu o nome de Ridendo

É, porém, na «República», jornal do Dr. António José d’Almeida, onde o nosso biografado exibe méritos de publicista. Tem a data de 1916 o volume «Espírito Errante», com a capa do Dr. Manuel Monterroso, e que é, na generalidade, uma composição das suas crónicas naquele jornal.

Durante o período do Sidonismo, Carlos Babo combate esta política no jornal portuense «O Norte», prolongando-se esta acção até Setembro de 1918, data em que o jornal republicano foi empastelado e inteiramente destruído. Este valioso republicano, dias depois da morte de Sidónio pais, foi preso. A captura foi motivada por denúncia caluniosa. Alguém fora dizer ao Governo Civil que o Dr. Carlos Babo se regozijara num estabelecimento comercial com a execução de Sidónio. Era mentira. Reprovava essa morte, pois o que entendeu sempre, foi que se pedissem as devidas responsabilidades ao Ditador. E foi isto mesmo que, francamente, declarou perante o Director da Investigação.

Em 1915 esteve em São Tomé, exercendo interinamente o cargo de chefe dos Serviços da Curadoria Geral dos Serviçais, tendo desempenhado durante cerca de 5 meses, cumulativamente, as funções de juiz interino de uma das Varas Judiciais. E, neste último cargo, distinguiu-se por algumas sentenças importantes e, sobretudo, por ter feito, em polícias e processos correcionais, aplicação da Lei do trabalho aos indígenas de São Tomé.

Deste sistema de repressão resultou o rareamento do crime, é claro, e, portanto, portanto, um bem, embora, por isso mesmo, os indígenas, certamente por mal compreenderem o uso legítimo e oportuno de uma legislação, cuja eficácia só redundara em melhoria social da própria raça, - tivessem chegado a fundar um ou dois jornais para o combaterem…
Esta fase da vida de Carlos Babo pode ver-se desenvolvida no folheto «Pela colónia de S. Tomé», a que adiante se alude.

Carlos Babo foi o único publicista português que tomou parte no concurso literário do Chile, quando do centenário de Fernão de Magalhães, em 1920. A sua memória sobre este navegador foi enviada para Punta-Arenas tendo sido coroada com uma medalha de honra. Escreveu, pode-se dizer, que à beira da cama de um filho em perigo de vida e a dois dias de me ter morrido uma filha – disse-me um dia.

Desde 1906 até 1932, Carlos Babo conta os seguintes trabalhos literários: Os mestres de Direito ou os Assizes da Universidade, (1906); Ridendo (1913), A pérola do Atlântico (1915); Pela Colónia de S. Tomé (depoimento e crítica, 1916); Espírito Errante, (retalhos de um diário) 1916; A sombra de D. Miguel, (evocação histórica), 1921; Amor Perfeito, (romance, 1922); Á beira do Centenário de Camilo, (1924); Seara de Luz, (contos, 1926); Epístolas aos padres, (1.ª série, celibato eclesiástico, 1932); e os folhetos incertos na Enciclopédia pela Imagem: As lutas liberais, A Inquisição; e o Marquês do Pombal.

Até 28 de Maio de 1926 colaborou nos jornais: República, do dr. António José d’Almeida; A Manhã, de Luiz Derouet; «Pateada», dirigida pelo Dr. Nunes Simões; O Primeiro de Janeiro (Porto); Diário de Lisboa, onde foi um dos primeiros colaboradores com Manuel de Sousa Pinto; revista Contemporânea, dirigida por José Pacheco.

Depois de 28 de Maio de 1926 tem colaborado nos seguintes jornais: O Rebate, suspenso, de Lisboa; O Povo, suspenso, de Lisboa; A Montanha, do Porto; A Humanidade, suspenso, do Porto; Liberdade, de Lisboa; O Clarim, de Penafiel; A Mocidade Livre, suspenso, de Castelo Branco; O Porvir, suspenso, de Beja; A Alvorada, suspenso, de Castro Marim; O Povo, do Funchal; O Raio, da Covilhã; A Voz de Alcobaça; A Gazeta de Torres, suspenso, de Torres Vedras; a revista Pensamento, do Porto; O Laico, suspenso, de Lisboa; A Acção, suspenso, de Tomar; A Ala Esquerda, de Beja; Diário Liberal, suspenso, de Lisboa; A Plébe, de Valença; A Vitória, suspenso, de Setúbal.Lisboa, Agosto de 1934.» in Revista Pensamento, Órgão do Instituto de Cultura Socialista, Comissão Directiva: Dr. Agostinho Fortes e Dr. Amâncio de Alpoim.
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Dados gentilmente fornecidos pelo Sr. António Leite de Leça da Palmeira, a quem estou, eternamente grato, pela informação biográfica deste primo direito do meu Bisavô materno, ilustre amarantino, que tanto lutou pela implementação e consolidação da 1.ª República em Portugal e de quem tão pouco se fala, decerto, por nunca se ter posto em bicos de pés...


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