«A 1 de Janeiro de 1912, sai o primeiro número da revista «A Águia», orgão da Renascença Portuguesa, dirigida por Teixeira de Pascoaes. António Carneiro é o director artístico.
Pascoaes publicou então o «Regresso ao Paraíso», outro longo poema cheio de alegorias e pensamentos muito próprios. Com grande harmonia descreve o Juízo Final, onde todos os seres são julgados:
«E Deus chamou depois um rouxinol:
«Quem és tu? Quem és tu?
«Eu fui um rouxinol dos salgueirais.
Batia, à noite, as asas da minh'alma,
E cantava! Cantava! ia subindo
Até pousar nos astros. E ás estrelas
Tirava fios de oiro,
E com eles no bico, cintilantes,
Ia tecer meus ninhos que eram quentes
E luminosos como a luz do sol.
E os meus ovos chocavam, por milagre,
Sem o menor calor das minhas penas...
Uma noite, ai de mim, pousei cantando
Na cruz do teu irmão, eis o meu crime.»
«E não tiveste medo do seu aspecto
ensanguentando e humano?»
«Estava morto, imóvel; e, além disso,
era tão clara e bela a sua fronte
Que lembrava um luar amanhecendo...
E esse luar divino embriagou-me
E cantei toda a noite...»
«Bem poderias, sim, tê-lo acordado!
Num deus o sono é leve, a própria morte
É um brando meio sono...»
«Mas o canto adormece...
E sempre que eu cantava, tudo em volta
De mim fechava os olhos... E sonhava...
E ele mesmo, ele mesmo, o teu irmão,
Parecia sonhar... E a própria cruz
E a própria negra fraga que a sustinha!
«Vai; põe o teu canto na balança.»
E a divina balança estremeceu.»
Fernando Amado encenou este poema na casa da Comédia.» in "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos, Fotobiografia.
Pascoaes publicou então o «Regresso ao Paraíso», outro longo poema cheio de alegorias e pensamentos muito próprios. Com grande harmonia descreve o Juízo Final, onde todos os seres são julgados:
«E Deus chamou depois um rouxinol:
«Quem és tu? Quem és tu?
«Eu fui um rouxinol dos salgueirais.
Batia, à noite, as asas da minh'alma,
E cantava! Cantava! ia subindo
Até pousar nos astros. E ás estrelas
Tirava fios de oiro,
E com eles no bico, cintilantes,
Ia tecer meus ninhos que eram quentes
E luminosos como a luz do sol.
E os meus ovos chocavam, por milagre,
Sem o menor calor das minhas penas...
Uma noite, ai de mim, pousei cantando
Na cruz do teu irmão, eis o meu crime.»
«E não tiveste medo do seu aspecto
ensanguentando e humano?»
«Estava morto, imóvel; e, além disso,
era tão clara e bela a sua fronte
Que lembrava um luar amanhecendo...
E esse luar divino embriagou-me
E cantei toda a noite...»
«Bem poderias, sim, tê-lo acordado!
Num deus o sono é leve, a própria morte
É um brando meio sono...»
«Mas o canto adormece...
E sempre que eu cantava, tudo em volta
De mim fechava os olhos... E sonhava...
E ele mesmo, ele mesmo, o teu irmão,
Parecia sonhar... E a própria cruz
E a própria negra fraga que a sustinha!
«Vai; põe o teu canto na balança.»
E a divina balança estremeceu.»
Fernando Amado encenou este poema na casa da Comédia.» in "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos, Fotobiografia.