A 18 de junho de 1922, dragões e leões defrontaram-se no Porto, em prova organizada pela UDF, embrião da Federação Portuguesa de Futebol.
O Campeonato de Portugal debutou há 100 anos, com o FC Porto a bater o Sporting, por 3-1, após prolongamento, na finalíssima da primeira edição da prova, organizada pela então designada União Portuguesa de Futebol (UPF). Recém-consagrados campeões regionais de Porto e Lisboa, respetivamente, dragões e leões defrontaram-se em representação das duas principais urbes do país em 18 de junho de 1922, no Campo do Bessa, no Porto, sob arbitragem de José Neves Eugénio.
A decisão da primeira competição futebolística disputada à escala nacional empolgou o país, cuja aura tinha sido amplificada na véspera, quando Gago Coutinho e Sacadura Cabral concluíram com êxito a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada ao fim de 79 dias e 8.484 quilómetros, entre Lisboa e Rio de Janeiro, então capital brasileira.
Com ingressos à venda a dois escudos, os adeptos acorreram em massa ao Campo do Bessa, local definido por sorteio pela UFP, onde Balbino Silva adiantou o FC Porto no marcador, aos 51 minutos, e Artur Augusto desperdiçou o 2-0 de penálti, antes de Emílio Ramos repor o empate para o Sporting, aos 70, forçando meia hora de prolongamento. João Nunes, aos 100 minutos, e o capitão João Brito, aos 102, selariam o título azul e branco no tempo extra, numa eliminatória em que teve de ser desempatada através de uma terceira partida, face às vitórias caseiras dos portuenses (2-1), em 04 de junho, no Campo da Constituição, e dos lisboetas (2-0), uma semana depois, no Campo Grande.
O francês Adolphe Cassaigne, segundo treinador na história do FC Porto (1907-1922), privilegiou um onze com o guardião Lino Moreira, Artur Augusto, Floriano Pereira, João Brito, Alexandre Cal, Balbino Silva, José Tavares Bastos, João Nunes, José Mota, Velez Carneiro e Júlio Cardoso, numa altura em que os jogos ainda não previam substituições.
Maior rotatividade implementou o alemão Augusto Sabbo, terceiro técnico de sempre do Sporting (1922-1924), que conferiu a titularidade na finalíssima ao guarda-redes Amadeu Cruz, Jorge Vieira, Joaquim Ferreira, José Leandro, Henrique Portela, Filipe dos Santos, Francisco Stromp, Alfredo Torres Pereira, Jaime Gonçalves, João Maia e Emílio Ramos.
A conceção do Campeonato de Portugal esteve na base da fundação da UPF, em 31 de março de 1914, mas seria adiada por oito anos, atendendo ao conturbado período da I Guerra Mundial, além do acomodamento luso aos padrões vigentes no futebol europeu. As partidas entre clubes vizinhos iam acontecendo em catadupa e ajudaram a multiplicar campeonatos regionais pelo território nacional, com destaque para Lisboa (iniciado em 1906/07) e Porto (desde 1913/14), até confluírem numa competição de maior dimensão.
Praticamente seis meses depois da estreia da seleção portuguesa, com uma expectável derrota em Espanha (1-3), em dezembro de 1921, a UPF estreou uma prova estruturada em formato de eliminatórias, que passaria a apurar o vencedor da competição em cada época.
A primeira edição limitou-se a FC Porto e Sporting, reflexo da evolução diferenciada da modalidade nos dois principais centros urbanos, que já iam recorrendo às suas seleções regionais para se defrontarem anualmente, em contraste com outras latitudes do país.
Olhanense e Marítimo, campeões do Algarve e da Madeira, alegaram razões financeiras para ficarem de fora do Campeonato de Portugal em 1921/22, mas as suas associações entrariam nas edições seguintes, ladeadas também por Aveiro, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Leiria, Portalegre, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real ou Viseu.
FC Porto e Sporting (ambos com quatro troféus), Belenenses e Benfica (cada qual com três), Carcavelinhos, Marítimo e Olhanense (todos com um) triunfaram anualmente até à conclusão da prova, substituída desde 1938/39 pela contemporânea Taça de Portugal.
FPF vai decidir pareceres em breve
Se as primeiras quatro edições do Campeonato da Liga são integradas no palmarés da I Liga, o Campeonato de Portugal nunca foi reconhecido pela Federação Portuguesa de Futebol, que até criou em 2017 uma comissão técnica independente para estudar a categorização das provas internas, cujos pareceres serão agora debatidos e votados este mês em AG federativa. A polémica persiste há décadas e foi resgatada pelo Sporting, que, sob presidência de Bruno de Carvalho, reclamava ter 22 títulos nacionais em vez de 18.» in https://www.ojogo.pt/futebol/noticias/ha-100-anos-houve-um-fc-porto-sporting-no-campo-do-bessa-14948693.html