(Aspeto do Porto – Igreja dos Congregados e trecho da Muralha com a porta dos carros, vendo-se do lado direito do observador o antigo Mosteiro de São Bento de Avé Maria, onde atualmente se encontra a Estação de São Bento.)
«BÁCULO DA ABADESSA DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA AVÉ MARIA
Museu Nacional Soares Dos Reis
Por empréstimo do Museu Nacional de Arte Antiga, o Báculo da Abadessa do Mosteiro de São Bento da Avé Maria do Porto encontra-se exposto no Museu Nacional de Soares dos Reis entre o dia 17 de julho e o dia 7 de setembro. A excecionalidade deste Tesouro Nacional, a importância da sua relação com a História do Porto e a rara oportunidade dos seus conterrâneos poderem observá-lo na sua cidade, são motivos suficientes para abrir uma exceção na apresentação que aqui tem sido feita das coleções do museu.
Atributo da dignidade abacial, este báculo de prata dourada é um magnífico exemplar de ourivesaria portuguesa. Profusamente decorado, surge como símbolo da importância do seu possuidor e como testemunho da riqueza e poder do convento.
A profusa decoração que se expande por toda a peça inspira-se nos motivos maneiristas das ferroneries e enrolamentos de finais do século XVI. O fragmento que liga o nó à base é ornamentado com cariátides e cartelas enroladas nas quais se aplicaram quartzos e vidros coloridos engastados.
Na face exterior de uma pequena voluta que pende do enrolamento da croça foi aposto um brasão, cuja leitura heráldica tem levantado várias questões não só na identificação do encomendante e doador como também na atribuição correta da data da sua feitura, na ausência de qualquer registo documental. Se para alguns autores, será o brasão das famílias Ataídes e Aguiar, relacionando a peça à abadessa D. Guiomar de Ataíde (1578/1612), outra leitura toma estas como as armas das famílias Ferreira e Azevedo, associando assim esta alfaia à abadessa D. Maria Conceição de Azevedo (1694/97).
No sentido da missão pastoral da abadessa, o Báculo segue todos os requisitos da sua tipologia de bastão, com uma vara dividida em anéis sobrepujada por nó a terminar numa croça em voluta.
A complexa estrutura decorativa que apresenta sugere de base um programa iconográfico doutrinal sintetizado na Anunciação do nascimento de Cristo, na Sua morte redentora, na fundação da própria Igreja e na disseminação da Sua Palavra.
O tema da Anunciação surge no interior da voluta da croça com as figuras em vulto do Arcanjo São Gabriel e da Virgem Maria, encimados no exterior da mesma pela albarrada que conteria as flores simbólicas da virgindade coroada pela pomba do Espírito Santo, numa clara alusão à evocação do orago do Mosteiro de São Bento de Avé Maria.
O nó, de estrutura arquitetural organizada em dois registos, com entablamentos sobrepostos e duas ordens de edículas. No registo superior e em cada uma das edículas surgem figuras de anjos sustentando os emblemas da Paixão de Cristo: a cruz, os pregos, a lança, a escada e o martelo.
Inv. 232 Des CMP MNSRAspeto do Porto – Igreja dos Congregados e trecho da Muralha com a porta dos carros, vendo-se do lado direito do observador o antigo Mosteiro de São Bento de Avé Maria, onde atualmente se encontra a Estação de São Bento.
Nas edículas do registo inferior são representados São Pedro, São Paulo e os quatro Evangelistas.
A sua apresentação museográfica é complementada com parte de um núcleo de peças provenientes da demolição deste convento para a construção da atual Estação do Caminho de Ferro de São Bento, expostas na zona exterior do Museu, antiga cerca do Palácio dos Carrancas.
Retirado do texto de Maria de Fátima Pimenta, conservadora da coleção de Ourivesaria do Museu Nacional de Soares dos Reis. Escrito segundo o novo acordo ortográfico.
Ficha:
BÁCULO
Portugal; Século XVI/XVII
Prata dourada, quartzos e vidros coloridos
A. 235 cm
Aquisição: Legado Valmor, 1916
Inv. 536 MNAA» in http://www.porto24.pt/memoria/baculo-da-abadessa-mosteiro-de-sao-bento-da-ave-maria/