«Onde nasceu António Cândido (Ribeiro da Costa)?
A página 23 da obra “António Cândido, Sidónio Pais e a elite política amarantina, 1850- 1922 (elementos para o estudo das raízes familiares de Amadeo de Souza Cardoso)”, da autoria de Armando B. Malheiro da Silva e Luís Pimenta de Castro Damásio, editada pela Câmara Municipal de Amarante no ano de 2000, e prefaciada pela insigne escritora amarantina, Agustina Bessa-Luis, podemos encontrar uma afirmação deveras importante para ser ignorada, visto que a mesma vem alterar por completo aquilo que até a esse ano de 2000 era tido como uma verdade absoluta e incontestada!
Estes autores ao contrário do que sempre foi aceite sem contestação, apontam como freguesia de nascimento de António Cândido (Ribeiro da Costa), a freguesia de S. Faustino de Fridão e não a freguesia de Candemil.
E dizem textualmente:
“O Abade de S. Salvador do Monte, P.e Ezequiel Cândido da Cunha Botelho Galhano, encarregou-se de baptizar aos trinta de Março de 1850 uma criança do sexo masculino, nascida a 29 do mesmo mês não em Candemil como se tem repetido à saciedade, mas em S. Faustino de Fridão, outrora anexa à de Salvador de Lufrei, “filho natural d’Anna Joaquina Ribeiro, e esta filha legitima de Joze Joaquim Gonsalves(carpinteiro), e Anna Ribeiro Teixeira (costureira e tecedeira), da Freguezia de S. Faustinio de Fridão, Arcebispado Primaz de Braga, cuja creança me foi apresentada por Manoel Caetano Guedes Mourão d’esta Freguezia nos braços d’Anna Joaquina, cazada, também minha parochiana, o qual dito Manoel Caetano servio de padrinho e sua mulher D. Anna d’Abreu Delfina de Madrinha, do que forão testemunhas os meus creados Luis e Jose Bernardo do que fiz este assento” . Temos assim, que a naturalidade de António Cândido não ocorreu em S. Cristovão de Candemil, como António Cabral sustentou, trelendo o mesmo registo de baptismo da Paroquial igreja de S. Salvador do Monte, nem em Santa Maria da Aboadela de Ovelha do Marão, que segundo o mesmo autor fora erradamente indicada como terra natal no “registo da Câmara Eclesiástica de Braga”, ou seja, na referida inquirição de genere, documento acessível no Arquivo Distrital de Braga e onde tal erro não aparece!...”.
Lido este extracto da referida obra ficamos com a convicção de que António Cândido nasceu em S. Faustino de Fridão e não em Candemil, como sempre aparece referido...!
Sabíamos já que o biógrafo de António Cândido (António Cabral), escondeu deliberadamente alguns aspectos da vida do ilustre orador pensando que esses aspectos poderiam deslustrar tão insigne cidadão amarantino, tão insigne cidadão nacional, nomeadamente quando afirma que ele era filho de “humildes camponeses”...!
Claro que o Abade Colado de Candemil, seu pai, seria tudo menos um humilde agricultor...!
Talvez por sabermos que António Cabral havia deturpado parte da história pessoal do nosso “Águia do Marão”, aceitamos de imediato como verdadeira, esta afirmação daqueles autores...!
E desde aí sempre tenho reafirmado que António Cândido nasceu em Fridão!
E residindo eu em Fridão há largos anos, e ligando-me a esta terra uma grande afeição, repetia-o sempre com um certo orgulho e até vaidade! Aliás dava-me sempre um certo prazer corrigir aqueles que continuavam a dizer que António Cândido era natural de Candemil!
Mas, raios, há sempre um mas...!
E como não sou homem de me ficar só pelas informações que outros me dão (mesmo escritas por autores de renome, mesmo que prefaciados por gente ainda mais insigne), há que “escarafunchar” a questão, para a tirar a limpo!!!
E o motor de arranque foi uma certa insistência do meu amigo Helder Barros em clarificar a questão! Estava ele interessado em “corrigir” esse erro, repetidamente cometido, de indicar Candemil como local de nascimento de António Cândido!
Desilusão das desilusões...! Afinal aqueles autores é que “treleram” o registo de nascimento!
Em contacto com esse documento tive oportunidade de confirmar que estão certos os nomes do apresentante “da crença”; da mãe; dos avós maternos; dos padrinhos e até das testemunhas do baptismo.
Mas do mesmo registo consta um entrelinhado onde se afirma claramente que é ele:
“Natural da Freguezia de S. Christovão de Candomil”
Fiz do dito registo de nascimento, a transcrição possível, para alguém que não estudou paleografia:
“Em trinta de Março de mil e oitocentos, e cincoenta baptizei solemnemente a (entrelinhado- natural da Freguezia de S. Christovão de Candomil), António Cândido, filho natural d’Anna Joaquina Ribeiro e esta filha legitima de José Joaquim Gonsalves e Anna Ribeiro da Freguezia de S. Faustino de Fridão, Arcebispado Primaz de Braga cuja creança me foiu apresentada por Manoel Caetano Guedes Mourão d’esta freguezia de Salvador, que servio de padrinho, e sua mulher D. Anna Delfina d’Abreu de madrinha: do que forão testemunhas , os meus creados Luis e José(?) Bernardo, do que fiz este assento escrito supra. Declaro que o bapetizado supra naceo no dia antecedente , e (...?)”
Mas também aqui o deixo para quem possa fazer uma melhor e mais científica leitura!
Posto isto, resta-me esperar que os autores da obra inicialmente referida, venham clarificar esta questão e fundamentar a afirmação, ou então, recuar e reconhecer que algum erro cometeram...!
(Agradeço muito este contributo do meu antigo Professor de História e desde sempre meu Amigo, Professor António Aires, um apaixonado por Fridão, mas antes de mais, um defensor da verdade histórica!)