«Alexandre Babo
escritor e revolucionário
• Urbano Tavares Rodrigues
Alexandre Babo é ainda hoje um jovem de cabelos prateados, com alguns achaques e desilusões, muitas lembranças e sonhos vivos, muitos afectos cultivados.
Teve, na sua já longa existência – 83 anos – ofícios e amores, tarefas cumpridas, amarguras e alegrias. Viveu por vezes sobre a lâmina da aventura e do risco. Deu-se muito aos outros, às amadas, aos amigos, à escrita e ao teatro, às grandes causas, norteado pelos valores da justiça e da liberdade. Firme na esperança, ousado e cortês, revolucionário e homem de cultura, incansável praticante da pedagogia democrática e do associativismo.
Passou pelo Socorro Vermelho, pelo bloco-académico antifascista, pelo MUD, formou-se em Direito e advogou, entrou em 1943 para o Partido Comunista, defendeu presos políticos no Supremo.
Dava-se, no Porto e depois em Lisboa, com jornalistas e escritores e assim nos encontrámos e nos tornámos amigos e companheiros de jornada: nos colóquios em que, sob a orientação de Óscar Lopes e de outros intelectuais progressistas, se discutiam livros e ideias para podermos dizer também as verdades que iriam despertar o povo, acorrentado por mitos e medos, para um futuro a construir.
Ambos tínhamos paixão pelo teatro. Li do Alexandre Babo, ao longo dos anos, tudo o que ele ia publicando, as suas inteligentes e polémicas peças, proibidas pela censura, Estrela para um Epitáfio e Jardim Público, os seus contos de Sem Vento de Feição e de Autobiografia, estes também apreendidos; os seus artigos e ensaios sobre teatro; o seu eufórico ditirambo à Pátria do Socialismo;esse livro forte e saboroso, político e humaníssimo que ele intitulou Recordações de um Caminheiro; e já noutra fase, mais tardia, das nossas existências, o seu sensual e melacolicamente lúcido romance A Nativa do Arquipélago do Vento.
O Alexandre foi sempre um entusiasta dos empreendimentos colectivos, inúmeras vezes sacrificou lazeres e despendeu esforços generosos para criar ou empurrar instituições culturais, com o Centro Cultural do Porto, o TEP, o Palco Clube de Teatro, a Sociedade Portuguesa de Escritores e, já no período marcelista, a actual Associação Portuguesa de Escritores. E, muito particularmente, a Associação de Amizade Portugal-RDA, a que se dedicou de alma e coração.
Caminhos cruzados
Algumas vezes, meio a brincar, lhe chamei estalinista e ele sê-lo-ia na verdade um pouco (outra era a minha leitura da história da União Soviética, especialmente da ditadura de Staline);mas o Alexandre curiosamente, admirando embora esse vulto e esse período, era na sua prática social e política – e afinal em quase tudo na vida – profundamente democrático e ansioso de liberdade, contradição que tantos outros nossos camaradas também viveram.
Cruzámo-nos por vezes nos corredores obscuros da resistência, eu mergulhado em intentonas e aventuras de risco, às vezes para salvar companheiros de luta das garras da PIDE, e o Alexandre, por outros caminhos, à beira dos mesmos perigos.
Seguríssimo nas suas convicções, lado a lado estivemos durante mais de vinte anos nas reuniões da célula dos escritores e do sector de artes e letras do nosso Partido e aí admirei sempre a sua compreensão, o seu carácter afectuoso, não raro impulsivo e exigente, mas pronto a admitir a razão dos outros. Um grande afecto o tempo cimentou entre nós e por isso e porque o admiro escrevi ainda há pouco tempo um prefácio no seu excelente, pitoresco, evocativo livro de crónicas No meu Tempo; e aqui estou a dizer-lhe:Parabéns, camarada! Juntos continuaremos, sempre no essencial, mesmo que possamos não conceber exactamente da mesma maneira, nos seus contornos ainda difusos, o futuro socialista da humanidade.
O meu abraço, Alexandre!» in http://www.pcp.pt/avante/20000621/386t3.html
«Urbano Tavares Rodrigues
Nascido em 1923 (faria 90 anos em dezembro), Urbano Tavares Rodrigues estava internado há três dias no Hospital dos Capuchos, em Lisboa.
Formado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, destacam-se as suas atividades como escritor, ensaísta, tradutor, professor.
O seu último romance a ser publicado foi Escutando o rumor da vida seguido de solidão em brasa, em 2012.
De 1974 a 1993 integrou os quadros da Faculdade de Letras de Lisboa, onde exerceu a atividade docente. Durante a ditadura, envolveu-se com frequência em acções de resistências e, 1969, filiou-se no Partido Comunista. Foi detido várias vezes. Depois do 25 de abril de 1974, participou ativamente na vida política nacional, tendo integrado as listas do PCP nas eleições legislativas de 1975.
Colaborou em diversas publicações periódicas, como como "Bulletin des Études Portugaises", "Colóquio-Letras", "Jornal de Letras", "Vértice" e "Nouvel Ovservateur". Foi diretor da revista "Europa" e crítico de teatro nos jornais "O Século" e "Diário de Lisboa".
Foi diretor da extinta Sociedade Portuguesa de Autores e, em 1980, nomeado presidente da Associação Portuguesa de Escritores.
A sua obra literária valeu-lhe várias distinções, como o Prémio Ricardo Malheiros para Uma Pedra no Charco, em 1958; o Prémio da Imprensa Cultural, em 1966, para Imitação da Felicidade; o Prémio Aquilino Ribeiro da Academia de Ciências para Fuga Imóvel, em 1982; o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, em 1987, para Vaga de Calor; o Prémio Fernando Namora para Violeta e a Noite, em 1991; e o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, da Associação Portuguesa de Escritores, para A Estação Dourada.
Urbano Tavares Rodrigues foi casado com a também escritora Maria Judite de Carvalho.» in http://visao.sapo.pt/morreu-o-escritor-urbano-tavares-rodrigues=f744902#ixzz2bYRInZQO
(Urbano Tavares Rodrigues: A Última Colina)
(Memória das Palavras I __ pré-trailer)
(2M | Apelo de Urbano Tavares Rodrigues)