Orgulhosamente só
O Bicampeão já está só. É líder, depois inverter e ampliar diferenças cifradas num golo à escala mais rigorosa de uma vitória e três pontos. Assim não restam dúvidas ou confusões, desfeitas à cabeçada num instante de bravura argentina. Lisandro, aquele que nunca pára, fez o golo, definindo novas distâncias que fazem do Dragão um caso à parte, deixando-o isolado. Na frente, óbvia e orgulhosamente.
A abordagem portista ao encontro de líderes revelou muito mais determinação e audácia do que reservas e cuidados, razão pela qual o Dragão já se havia aproximado seriamente do golo por cinco vezes quando o Marítimo definiu os primeiros indícios de perigo, quase sempre relativo e resultante de gestos de contra-ataque de elaboração fortuita, que prescindiram de método e de meio-campo.
Em 15 minutos, Lisandro e Tarik colocaram repetidamente o golo na boca do estádio, sem, no entanto, alvejarem o lado certo das redes, absolutamente esquivo ao longo de mais de meia hora de insistência e invulnerável num último assalto antes de o árbitro autorizar o descanso, fase em que um trabalho notável do marroquino falhou os festejos por pouco. Por pouco menos do que o remate pronto de Bruno Alves, a livre cobrado por Quaresma, à direita.
Apesar do rendimento nulo de tanto investimento, o campeão persistiu no ataque, induzindo novas doses de velocidade ao processo, que lhe permitiram, por fim, chegar à vantagem, numa acelerada reacção à iminência do golo, que se desmantelara num cruzamento excessivamente longo, proveniente da direita.
Quando o «bruá» já ecoara, quando a imprecisão da assistência já havia devolvido os adeptos aos seus lugares, Cech não desistiu. Nem ele, nem Lisandro. Do lado oposto à primeira investida, por onde a bola parecia perder-se, o eslovaco cruzou e o argentino, cara a cara com Marcos, cabeceou, fulminante, sem reservar espaço ou tempo a um esboço de reacção ou defesa. No 150º jogo de Quaresma na Liga, brilhava Licha, argentino bravo, para quem um lance nunca está perdido. Raro exemplo de oportunidade e coragem, assinou o golo 4499 do F.C. Porto na competição.
Só então o Marítimo foi, verdadeiramente, a jogo, mas obrigando Nuno a uma única intervenção de vulto, enquanto, no extremo inverso do relvado, Leandro Lima, recém-entrado, acrescentava amplitude e variedade ao ataque portista, antes de falhar as medidas da baliza de Marcos num remate fortíssimo e surpreendente, entre uma relação de ameaças que continuaram a fazer dos Dragões os principais investidores na partida, apesar do risco envolvente. Pouco depois, ainda ciente da taxa de juro subjacente à atitude atacante, o F.C. Porto podia festejar a quarta vitória em quatro jogos e a liderança isolada.
FICHA DE JOGO
Liga 2007/08, 4ª jornada
15 de Setembro de 2007
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 38.519 espectadores
Árbitro: Lucílio Baptista (Setúbal)
Assistentes: Venâncio Tomé e Paulo Ramos
4º árbitro: Nuno Roque
F.C. PORTO: Nuno; Bosingwa, João Paulo, Bruno Alves e Cech; Lucho «cap», Paulo Assunção e Raul Meireles; Tarik, Lisandro e Quaresma
Substituições: Tarik por Farías (46m), Raul Meireles por Leandro Lima (71m) e Paulo Assunção por Bolatti (90m)
Não utilizados: Ventura, Stepanov, Mariano e Edgar
Treinador: Jesualdo Ferreira
MARÍTIMO: Marcos; Briguel, Ediglê, Antoine e Evaldo; Bruno «cap» e Olberdam; Marcinho, Mossoró e Fábio Felício; Kanu
Substituições: Marcinho por Bruno Fogaça (77m), Fábio Felício por Edder (88m)
Não utilizados: Marcelo, Wénio, Gregory, Luís Olim e Sidnei
Treinador: Sebastião Lazaroni
Ao intervalo: 0-0
Marcador: Lisandro (56m)
Disciplina: cartão amarelo a João Paulo (20m), Olberdam (34m), Fábio Felício (59m) e Quaresma (67m)» in site F.C.P.