Quando deixou o poder, em 1990, Margaret Thatcher tinha a aprovação de
apenas 24% dos britânicos, a mais baixa para um primeiro-ministro em
mais de 50 anos. Vinte anos depois, foi apontada como a chefe de governo
mais competente do Reino Unido em mais de três décadas.
A "Dama de Ferro" foi – e continua sendo – amada e odiada quase na mesma
medida no Reino Unido. Para os admiradores, foi a responsável por
restaurar a autoestima de um país quase paralisado pela crise econômica e
por greves sistemáticas. Para os detratores, foi uma governante tirana e
desatenta, que promoveu um governo individualista que acabou por
aprofundar as diferenças entre ricos e pobres.
"A missão dos políticos não é agradar a todos", disse certa vez. Em
outra, afirmou: "Ninguém lembraria o Bom Samaritano se ele tivesse
apenas boas intenções – ele também tinha dinheiro".
Thatcher com Ronald Reagan em 1981: parceria durante a Guerra Fria
Filha de comerciante, Thatcher foi eleita premiê britânica em
1979 – e se tornou a primeira mulher a liderar uma potência industrial.
Sua chegada ao poder representou uma completa transformação no Reino
Unido. Ela apoiou a privatização de indústrias estatais e do transporte
público; reformou os sindicatos, reduzindo drasticamente o poder deles;
reduziu os impostos e o gasto público; e cortou a então grande
flexibilidade laboral.
Pragmática e dogmática
Thatcher foi responsável pelo resgate do Partido Conservador, então no
ostracismo na política britânica, e também por levar o Reino Unido à
controversa Guerra das Malvinas, que terminou em dois meses com uma
acachapante derrota argentina. Ao mesmo tempo, combateu com mão de ferro
o grupo separatista IRA (Exército Republicano Irlandês) e negociou – e
terminou com – a dominação britânica sobre Hong Kong, outro resquício do
período colonialista.
Durante a Guerra Fria, manteve uma estrita colaboração com o então
presidente americano, Ronald Reagan, mas, ao mesmo tempo, dizia
considerar o líder soviético Mikhail Gorbatchov um homem com quem ela
podia negociar.
"Nossas relações pessoais foram às vezes complexas, com altos e baixos,
porém sérias e responsáveis de ambas as partes", disse Gorbatchov nesta
segunda-feira (08/04), ao saber da morte da britânica.
A "Dama de Ferro" com Cameron em 2010, na volta dos conservadores ao poder
Nascida Margaret Roberts, a "Dama de Ferro" herdou o nome que
consagria a si e seu estilo de governo (o thatcherismo) do marido Denis
Thatcher, com quem teve dois filhos gêmeos. Ela costumava dizer que
qualquer mulher que entende os problemas de uma casa estava preparada
para conduzir um país.
Seu pragmatismo – às vezes com fortes doses de dogmatismo – acabou
levando-na durante seus 11 anos de governo a negar a presença do Estado
em vários âmbitos da vida cotidiana do Reino Unido, o que, para muitos,
colaborou para a deterioração dos serviços públicos no país, como saúde,
educação e transporte.
Auge e derrocada
Para Thatcher, liberalismo econômico e liberdade individual eram
interdependentes; democracias deveriam sempre reagir de forma firme a
qualquer tipo de agressão; e responsabilidade pessoal e trabalho duro
eram a única forma de levar prosperidade ao país. "Moedas não caem do
céu. Elas têm que ser ganhas na Terra", dizia.
O auge de sua carreira política foi após a Guerra das Malvinas, e o
declínio chegou no final dos anos 1980, com a impopular política poll tax – um imposto municipal que, se não pago, levava à perda do direito ao voto – e com sua total aversão à integração europeia.
Meryl Streep interpretou a Dama de Ferro no cinema
A carreia política que começou em 1959, com sua eleição como
deputada, começou a terminar com uma revolta interna em seu próprio
partido, que culminou em sua renúncia como primeira-ministra em 1990.
Para muitos, Thatcher pecou pelo mesmo excesso de determinação que
havia, quase 11 anos anos, levado-a ao poder.
Thatcher estava há anos retirada da vida pública. Seu nome voltou à tona
em 2011, com o lançamento de um filme-biografia estrelado por Meryl
Streep. O longa resgatou a velha divisão entre os britânicos em torno de
sua figura: os thatcheristas o criticaram por mostrar a ex-premiê com
sintomas de demência; e seus detratores por humanizar a figura de uma
mulher que, para eles, governou de forma desumana.
De qualquer forma, A Dama de Ferro arrecadou três vezes mais nos cinemas britânicos do que A Rainha (filme
de 2006 sobre Elizabeth 2ª), um exemplo do interesse despertado por uma
figura que ainda divide os britânicos, mas cuja habilidade política até
hoje é reverenciada por aliados e adversários.» in http://www.dw.de/%C3%ADcone-do-s%C3%A9culo-20-thatcher-foi-amada-e-odiada-com-a-mesma-intensidade/a-16728429
(Morre Margaret Thatcher, ícone de ferro do liberalismo)
(Margaret Thatcher brighton bomb speech )
(Margaret Thatcher - Capitalism and a Free Society)