19/05/20

Amarante Rio Tâmega - E aqui está o rio de Pascoaes, dos invernos místicos de nevoeiros intensos, de verões e primaveras, atlânticos..

(Amarante, Rio Tâmega, que tanto impressionou e inquietou poeticamente, Teixeira de Pascoaes e Eduardo Teixeira Pinto, Fotografias, qual poesia...)



"CANÇÃO SAUDOSA


A Saudade vem bater,

Vem bater à minha porta,

Quando o luar é de lágrimas

E a terra parece morta.


E a saudade bate, bate,

Com tal carinho e brandura,

Que nem a aurora batendo

À porta da noite escura!


Mas eu ouço-te, Saudade...

E o silêncio é tão profundo!

Ouço vozes, choros de alma,

Que ninguém ouve, no mundo!


Misteriosas imagens

Passam, por mim, a falar...

Bem entendo o que elas dizem,

Bem o quisera contar!


Mas -- que tragédia! -- emudeço.

Caio, de mim, sobre o nada!

Sou a minha própria sombra

Não sei onde projectada!


E entra a Saudade... Fiquei

Como assombrado e sem voz!

Sinto-a melhor, que senti-la

É vê-la, dentro de nós.


Vinha com ela a tristeza

Que a tarde espalha no ar...

Vinha cercada das sombras

Que andam, na terra, ao luar.


E vinha a sombra dos Ermos,

Com os olhos rasos de água...

E os segredos que a noitinha

Vem dizer à nossa mágoa.


Vinha a sombra do Marão

Sob a lua em várias fases;

E, no seu rosto de bronze,

Trazia um véu de lilases.


Vinha a alma do Desejo,

Toda a arder... Em volta dela,

Giram mundos e fantasmas,

Como em volta duma estrela.


Tudo o que é sonho em vigília

No sono da Criação;

E, entre falsas aparências,

É divina Aparição;


Tudo vem com a Saudade,

De noite, bater-me à porta,

Quando o luar é de lágrimas

E a terra parece morta..."


(Teixeira de Pascoaes)



(Eduardo Teixeira Pinto)


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