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Amarante Cineclube apresenta: Vida Heróica
Cinema Teixeira de Pascoaes
6ª Feira, dia 21 às 21: 30
Telefone: 255 431 084
Gainsbourg: Vida Heróica
Título original: Gainsbourg (Vie Héroïque)
De: Joann Sfar
Argumento: Joann Sfar
Com: Éric Elmosnino, Lucy Gordon, Laetitia Casta, Doug Jones, Anna Mouglalis, Sara Forestier, Mylène Jampanoï, Yolande Moreau, Kacey Mottet Klein
Género: Biografia, Drama, Musical
Classificacao: M/12
FRA, 2010, Cores, 129 min.
Uma biografia surreal e lúdica de Serge Gainsbourg, o controverso cantor francês, autor de "Je t'aime... moi non plus" ou "Bonnie & Clyde". A sua vida boémia e incomum, os seus romances escaldantes com Brigitte Bardot ou Jane Birkin, as suas constantes provocações transformá-lo-iam numa das personagens mais icónicas da cultura francesa do século XX. Descrito pelo seu realizador como "um conto", o filme conta a sua carreira, as suas paixões e as suas ligações a outros artistas, terminando em 1991 com a sua morte, aos 62 anos.
Trata-se da primeira longa-metragem de Joann Sfar, autor de BD conhecido pelas séries "Donjon" e "O Gato do Rabi". No papel de Gainsbourg surge o actor de teatro Éric Elmosnino, com a actriz e modelo Laetitia Casta como Brigitte Bardot, Anna Mouglalis como Juliette Gréco e Lucy Gordon (tragicamente falecida após a rodagem do filme) como Jane Birkin.
Para quem não quiser seguir os links, tem o trabalho facilitado em anexo com crítica, entrevista a Joann Sfar e artigo sobre Serge Gainsbourg. Cortesia do Cineclube de Joane que exibe o filme na 5ª feira.
Retrato do artista enquanto ícone
Jorge Mourinha, Público, 19/10/2010
Um singular olhar sobre Serge Gainsbourg que, mais do que biografia da pessoa, é uma assumida celebração do mito
Que não se entre nesta "vida heróica" de Serge Gainsbourg, o provocador icónico da música pop francesa da segunda metade do século XX à espera de um filme biográfico tradicional. Não foi isso que o argumentista e desenhador de BD Joann Sfar quis fazer na sua primeira longa. O genérico, aliás, é sintomático, ao chamar a "Gainsbourg" um "conto" - uma biografia do mito mais do que da pessoa, um olhar sobre as vidas e as imagens que Gainsbourg projectou e viveu usado como meio para chegar mais perto da essência de alguém que se tornou num ícone de uma certa ideia da França artística. Este Gainsbourg é uma vedeta relutante que escreve canções como declarações de amor ou frases de engate (a Brigitte Bardot, a Jane Birkin, a Juliette Gréco, às mulheres que atravessam a sua vida), desdobrado num alter ego fantasmático (La Gueule, uma representação grotesca das suas fraquezas tornadas em força) e numa criança precoce. No processo, Sfar desenha um delicioso retrato do artista enquanto criação pop como raras vezes se terá visto no cinema, ajudado pela criação de estarrecer de Éric Elmosnino, que transcende o mimetismo para se tornar numa espécie de encarnação livre do ícone. Mas "Gainsbourg, Vida Heróica" é também um exercício sublimemente minucioso na mecânica da "féerie" hollywoodiana, que recria com amor e carinho as convenções do musical e do "biopic" para em seguida as subverter subterraneamente através da incrustação de elementos oníricos. O efeito é simultaneamente lúdico e hiper-realista, com Joann Sfar a manipular as figuras obrigatórias com desenvoltura e irrisão, conseguindo combinar fantasia e rigor com uma segurança surpreendente para um estreante. Mesmo que tudo perca gás no terceiro acto e se comece a reduzir a uma sucessão de episódios um pouco apressados e desconexos, o que ficou para trás é suficiente para garantir que o realizador sabia muito bem o que estava a fazer: um filme pop singular e fascinante, tão caleidoscópico como a multiplicidade de imagens que Gainsbourg projectou. Parece-nos bem que o artista aprovaria.
Gainsbourg: Vida Heróica
Vasco Câmara, Público, 22/10/2010
As intenções de Joann Sfar de resgatar o seu filme a um paradigma "realista" do cinema francês encontram matéria à altura em "Gainsbourg, Vida Heróica". Mas isso - e é o mais interessante - também não empurra automaticamente o filme para a gaveta da contra-corrente artificiosa que se desenvolveu na indústria francesa nos anos 80 - devedora de um "chic" publicitário, com nomes como Jean Jacques Beineix, Luc Besson ou (na altura) a dupla Jeunet e Caro.
Se quisermos encontrar filiação, vamos encontrá-la, por exemplo, na afectação neurasténica de Spike Jonze ou Wes Anderson. Dito isto, Sfar não aguenta sempre "Gainsbourg (vie héroïque)" nas alturas - nas alturas, por exemplo, do encontro entre Gainsbourg, Gréco, Bardot e Jane Birkin ou nas alturas da abrasiva dança do homem com o seu duplo. Está em todo o projecto, aliás - mesmo que isso possa casar com a "decadência" da figura - um certo sentimento de lassidão. Mas o filme faz-se notar.»
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Elsa Cerqueira
Cineclube de Amarante