A pandemia de Peste Negra que há quase 700 anos devastou o mundo transformou o microbioma oral de formas que contribuem para doenças crónicas nos humanos modernos.
Segundo um estudo inovador, recentemente publicado na Nature Microbiology, a Peste Negra, que devastou a Europa no século XIV, teve um impacto duradouro no microbioma oral humano.
A uma pesquisa sugere que o rescaldo da também chamada Grande Peste, incluindo mudanças na dieta e higiene, transformou o microbioma oral de formas que contribuem para doenças crónicas nos humanos modernos.
Um estudo publicado em 2022 na revista Nature tinha já sugerido que a Peste Negra gerou o processo de seleção natural mais rápido da história da Humanidade, com o surgimento de quatro genes que aumentaram a resistência da população à doença, que afetaram a nossa saúde até aos dias de hoje.
Os microbiomas modernos estão ligados a uma série de doenças crónicas, como obesidade, doenças cardiovasculares e problemas de saúde mental. Compreender as origens destas comunidades microbianas é crucial para gerir estas doenças.
O estudo enfrentou desafios, particularmente na rastreabilidade precisa da evolução dos microbiomas orais.
Estratégias anteriormente usadas, como usar os microbiomas de povos indígenas contemporâneos com estilos de vida tradicionais como um termo de comparação para os microbiomas pré-industriais, foram consideradas imprecisas e eticamente questionáveis.
A nova pesquisa, em vez disso, analisou o tártaro de 235 indivíduos enterrados em 27 locais na Inglaterra e Escócia, abrangendo de 2200 a.C. a 1853 d.C.
Os investigadores processaram as amostras num laboratório de ADN antigo estéril para minimizar a contaminação e identificaram 954 espécies microbianas, encontrando duas comunidades bacterianas distintas.
Uma destas comunidades, uma dominada por Streptococcus, é comum em povos industrializados modernos; a outra, com domínio de Methanobrevibacter, está agora praticamente extinta em populações industrializadas saudáveis.
O estudo revelou que quase 11% da variação na composição das espécies de microbiomas ao longo do tempo, incluindo durante a peste negra, foi atribuída a mudanças na dieta.
Os sobreviventes da pandemia, com rendimentos aumentados, podiam comprar alimentos mais calóricos, potencialmente alterando os seus microbiomas orais.
Os investigadores utilizaram diferenças funcionais entre bactérias ligadas à dieta, como a digestão de fibras e o metabolismo de carboidratos e descobriram que o grupo Streptococcus tinha traços associados a dietas pobres em fibras, ricas em carboidratos e ao consumo de laticínios, típicos das dietas modernas.
Em contraste, o grupo Methanobrevibacter carecia de traços associados ao consumo de laticínios e açúcar, refere o SciTech Daily.
O grupo Streptococcus foi associado à doença periodontal, que pode levar a problemas de saúde graves quando bactérias entram na corrente sanguínea. O grupo Methanobrevibacter foi associado a patologias esqueléticas.
“As microbiomas modernos estão associados a uma vasta gama de doenças crónicas, incluindo obesidade, doenças cardiovasculares e saúde mental deficiente,” explica Laura Weyrich, professora associada de antropologia da Penn State e corresponding author do estudo.
“Descobrir as origens destas comunidades microbianas pode ajudar a compreender e gerir estas doenças”, conclui a investigadora
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