(Capela de São Gonçalo - Armamar)
(Capela de Sao Gonçalo - Fornelos)
(Capela de São Gonçalo - Lamego)
«S. GONÇALO NO ALTO DOURO
Escrevi estas linhas nas vésperas dos Santos populares, em coluna de luxo.
A crónica real deve manter uma ligação ao tempo sem prejuízo do espaço. Por isto e por aquilo, a de Junho teria de ser púlpito dos Santos Populares.
O desuso e o abuso têm tirado alguma força a esta popular tradição que nos trouxe, em termos culturais, um Património muito especial em arte, ex-votos, música, romance, quadras, culinária e em outros possíveis costumes de folclore. Cultural entrou na moda, embora por vezes haja, à sombra protetora e investidora da Cultura, manifestações mais próximas do animalesco e do selvagem. Não são cultura de gente.
É com o pensamento e com a palavra em cultura perdida que gostaria de catalogar a devoção duriense a um Santo, que à semelhança de Santo António, de S. João e de S. Pedro, já subiu à categoria de popular: o S. Gonçalo.
Na terra de origem como Santo é casamenteiro das velhas. Não há dúvida que esta graça é milagre notável...
Numa primeira apanha consegui "descobrir", na área da diocese de Vila Real, uma Vintena de Capelas dedicadas a este Santo, desde a fronteira do Cambedo, onde é padroeiro local, até as margens do Douro. Os pergaminhos ou os documentos são poucos e a tradição está quase muda. Pelo menos gagueja.
Fronteira à Régua, num alto de Loureiro, ergue-se, velhinha e humilde, uma Capela de S. Gonçalo com magnífica vista e arredores. O que tem é fracos acessos com caminhos de penitência. Há que fazer subir aquele alto, onde há festa em Janeiro, estrada para automóvel.
O S. Gonçalo de Lobrigos parece ter sido trazido por uma família com parentes em Amarante e hoje, o Santo e a Capela dão nome, corpo e alma a uma airosa povoação, miradouro entre a Régua e Penaguião.
S. Gonçalo tem capela em Cidadelhe e particular em Sedielos, sendo aquela com porta aberta e com festa depois da Páscoa, com dias a contar pelas marés dos astros.
Ainda no Douro, em terras de Alijó, em Vila Verde, há um S. Gonçalo proprietário, com extenso pinhal ao lado da capela que abriga um magnífico tríptico do séc. XVII com a pintura do Santo, da ponte e do Rio. Peça que merecia categoria de "monumento nacional".
O espaço disponível apenas me permitiu o indicativo mais que imperfeito do culto de S. Gonçalo em terras do Douro. Será uma recomendação a quem pretenda fazer um estudo.
Vem aí o Santo António, o S. João e o S. Pedro. Os doces, os balões, as velas votivas, os bombos a encher-nos de alvoroço e as cascatas são complementos feitos pelo povo à festa canónica.» in "Subsídios Históricos e Etnográficos do Alto Douro" de Exmo. Padre Luís Morais Coutinho.