Abel Aquino (na foto, com uma das equipas pioneiras da formação) assumiu quase em permanência a responsabilidade do trabalho de campo com os diversos grupos de infantis, mas os treinadores da equipa sénior, como Teszler, Siska ou Szabo também assinariam o livro de ponto. Aquino, entretanto, foi descobrindo e formando talentos até à década de 1940.
DA TEORIA À PRÁTICA
Em 1952, quando entrou no FC Porto, o treinador Artur Baeta redefiniu o projeto da formação e acrescentou aulas teóricas ao treino em campo: Leis do Jogo, Higiene, História Desportiva, Técnica e Tática do Futebol e Educação Física faziam parte do programa.
Neste ciclo, em que vários “professores” trabalharam sob a direção de Baeta – casos de Artur de Sousa “Pinga”, José Maria Pedroto ou Virgílio Mendes, três das maiores referências de sempre do FC Porto –, o clube sagrou-se pela primeira vez campeão nacional de juniores (sub-19) em 1952/53 e implementou, em 1964, o Lar do Futebol Júnior (hoje a Casa do Dragão), uma extensão do Lar do Jogador, que já existia desde os anos de 1930 (Quinta da Fonte da Vinha, em Vila Nova de Gaia).
Com a chegada do técnico António Feliciano, ainda nos anos de 1960, a continuidade de Artur Baeta e a aposta no treinador Costa Soares, a escola portista passou a conjugar mais vezes o verbo vencer a partir da década de 1970. Os títulos nacionais tornaram-se um hábito nos diversos escalões, consequência de maior eficácia na descoberta e no aperfeiçoamento de talentos. Gomes, Oliveira, Rodolfo e, um pouco mais tarde, João Pinto, fazem parte das gerações de “alunos” deste período da história.
UMA FORÇA INTERNACIONAL
Até à viragem para o novo milénio e à despedida do século XX, o FC Porto acrescentou mais 20 anos de construção de campeões nacionais, da Europa e do Mundo, afirmando-se claramente como uma universidade de vencedores, onde se doutoraram com distinção muitos dos melhores intérpretes do futebol internacional da era moderna.
A solidez de princípios e de conhecimento, associada à inovação, deu origem ao projeto Dragon Force – iniciado em Setembro de 2008, espalhou-se rapidamente pelo país e está presente no estrangeiro (Espanha, Colômbia e Canadá). Acumulando prémios e certificações importantes, esta é a escola onde se trabalha a formação desportiva e cívica de crianças dos 4 aos 14 anos, antes da progressão como atletas para as equipas Sub-15.
Em 2012, o conceito foi alargado a outras modalidades (basquetebol, andebol, hóquei em patins e, mais recentemente, bilhar) e representa um êxito que, naturalmente, já tem um lugar de honra na história.
DRAGÃO TREINA DRAGÃO
A escola portista também é um berço de treinadores. Ao longo dos mais de cem anos da formação futebolística azul e branca descobrem-se referências históricas no papel de “professores”, casos de Pinga, Pedroto e Virgílio, mas também de Custódio Pinto, José Rolando, Madjer e António André, ou André Villas-Boas. Na longa lista de técnicos da escola do FC Porto, António Morais, Rodolfo Reis, João Pinto e, atualmente, António Folha são exemplos de treinadores que também foram campeões nacionais como jogadores nos escalões de formação do clube.
SALAS DE AULAS
O Campo da Rainha, relvado, foi a primeira sala de aulas portista, mas pertence ao Campo da Constituição uma parte muito substancial da história da escola portista. No pelado da Constituição iniciaram-se percursos fantásticos no clube ao longo de quase cem anos, até à profunda modernização do espaço, em 2008, para dar lugar à sede das escolas Dragon Force. O já desaparecido complexo do Estádio das Antas e, neste século, o Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia também fazem parte desta história.
QUADRO DE HONRA
Quatro grandes mestres-escola pontuaram a história da formação futebolística do clube e destacam-se, naturalmente, num quadro de honra.
Abel Aquino
Membro de uma família que geriu um negócio de venda e revelação de películas na rua de Santa Catarina, no Porto, Aquino fez carreira como jogador entre o 4.º e o 2.º Grupos de futebol do clube, e também foi massagista (chegou a representar a Federação em jogos da Seleção). Em 1924, tornou-se Sócio Honorário do FC Porto, na sequência do primeiro título oficial do clube em provas oficiais da formação: o Campeonato de Infantis da AF Porto de 1923/34.
Artur Baeta
Treinador, educador, jornalista, homem de muitos ofícios e ligado à função pública, colaborou de várias formas com o FC Porto. Repórter e cronista no antigo jornal do clube, usou a escrita a favor da disseminação da causa azul e branca, mas foi a formar futebolistas que se destacou na história. Deu o nome à Escola de Futebol Artur Baeta, no Campo da Constituição, e foi quatro vezes campeão nacional como técnico da escola portista.
António Feliciano
O médio Fernando Pascoal das Neves – “Pavão” – foi o primeiro grande talento descoberto para o FC Porto por António Feliciano, na década de 1960, altura em que o treinador entrou no clube. Seguiram-se quase três décadas de ligação à escola azul e branca, marcada por oito títulos de campeão nacional e, sobretudo, pela capacidade de trabalhar um filão de virtuosos, desde Gomes a Rui Barros, alcançando as gerações emergentes nos anos de 1980.
Costa Soares
Iniciou atividade como treinador dos escalões de formação do clube a meio da década de 1970 e conservou uma longa relação de quase 40 anos com a escola portista até ao final da vida, em 2012. Campeões de Portugal, europeus e mundiais foram “alunos” de Costa Soares, um Dragão de Ouro eterno na memória azul e branca. Conquistou oito títulos de campeão nacional ao serviço do FC Porto, desde os iniciados aos juniores.