A 7 de julho de 1935, o FC Porto venceu o Bétis e a primeira prova que opôs os campeões de Portugal e de Espanha.
O imortal FC Porto de Szabo acumulou registos impressionante através da bravura de equipas preparadas para atacar: O Real Bétis Balompié e outros campeões espanhóis acabaram vergados ao poder de linhas atacantes constantemente renovadas e com uma capacidade ímpar para marcar. Só Pinga fez três dos quatro golos da vitória na primeira edição da Taça Ibérica, disputada em 1935.
Historicamente, foi o FC Porto quem desbravou os caminhos de todas as principais competições regionais e nacionais. Desbravou-as e conquistou-as. Essa queda especialíssima para vencer todas as primeiras edições das provas prioritárias criadas em Portugal estendeu-se à Taça Ibérica, prova de referência em que a capacidade dinamizadora do FC Porto do século XX esteve sempre presente.
É com um orgulho natural que o FC Porto olha para a História e se revê vencedor do primeiro Campeonato de Portugal (1922), do primeiro Campeonato da I Liga (1935), do primeiro Campeonato Nacional da I Divisão (1939) e da primeira edição oficial da Supertaça (1980/81). E, ao alargar das fronteiras, da primeira edição da Taça Ibérica, a 7 de Julho de 1935.
A vocação para fazer história resume essa rara qualidade do FC Porto, capaz de se impor em qualquer circunstância, mesmo desconhecendo em rigor o real valor dos adversários, como era o caso do Real Bétis Balompié, o campeão espanhol que defrontou o campeão português na primeira edição da Taça Ibérica, sendo de notar que, por esses tempos, Espanha era vista como uma das maiores potências europeias e “sovava”, regularmente, a selecção portuguesa em goleadas que chegaram a atingir os 9-0…
Um dos grandes méritos do FC Porto ao longo de mais de um século de existência foi essa invulgar capacidade de rasgar fronteiras, como voltou a ficar provado no triunfo sobre o poderoso Bétis, com os temíveis goleadores Simon Lecue e Victorino Unamuno. O último transferiu-se, mais tarde, para o Atlético Aviación (hoje Atlético de Madrid), marcando golos atrás de golos no campeonato espanhol.
Mas o FC Porto de Szabo, o primeiro campeão da I Liga, já era uma equipa do mundo. Desde 1930, adquirira a boa prática de abater os melhores conjuntos europeus e mundiais e, na coleção particular de vítimas de primeira grandeza, estavam os campeões da Hungria, da Checoslováquia, da Áustria, ou o invencível Vasco da Gama de 1931.
Entre 1930, após a entrada de Pinga, e 1935, com a fusão do trio Waldemar-Pinga-Acácio, ninguém escapou ao poder de fogo deste trio infernal e a primeira edição da Taça Ibérica seria, com alguma naturalidade, marcada por mais uma poderosa demonstração de superioridade do FC Porto e, em particular, de Pinga, autor de três dos quatro golos que derrotaram o campeão espanhol.
Num Ameal superlotado de público e de autoridades civis, militares e consulares, o FC Porto chegou ao intervalo a vencer por 1-0, com um golo fortuito, raro e feliz, de área a área, obtido por Pocas, médio transmontano em estreia absoluta. No reatamento, Pinga elevou rapidamente a marca para 3-0.
Um breve lapso de evasão, associado à qualidade da equipa espanhola, permitiu que Caballero e Unamuno, no espaço de apenas dois minutos, reduzissem para 3-2. Sentindo o perigo, Pinga sacou do seu inesgotável arsenal mais uma diabrura e bateu Urquiaga para estabelecer o 4-2 final, muito mais concordante com a realidade do jogo e, ainda assim, vagamente lisonjeiro para o Bétis.
Estava encontrado o primeiro campeão ibérico. Pena que a eclosão da Guerra Civil espanhola tenha congelado a prova e perturbado a realização dos campeonatos espanhóis, cujos vencedores não foram reconhecidos durante o período (1936-1939) em que o conflito não deu tréguas.
O facto de as autoridades desportivas espanholas não terem atribuído oficialmente o título nesses três anos impediu que se colasse ao jogo o rótulo formal de segunda Taça Ibérica. Mas que houve taça, lá isso houve… E mesmo sem Taça Ibérica oficial (só reatada em 1984), a tradição ainda se manteve por alguns anos.
O FC Porto era o alvo preferido dos campeões espanhóis e, além de derrotar várias vezes o orgulhoso Real Madrid nos anos 1940 e 1950, seria uma vez mais a primeira equipa portuguesa a bater, em Espanha, um campeão espanhol: o Valência, em Outubro de 1947.
Este Valência, que dominou a década de 1940 (três títulos e duas Taças do Rei) era um brutal ministério de atacantes comandado pelos imortais Edmundo Suárez e Epifanio Fernández, dupla de área que ganhou o apelido de “ataque eléctrico”, ainda assim incapaz de eletrocutar o FC Porto do argentino Eladio Vaschetto, também ele um colossal ex-avançado da escola do River Plate, com centenas de golos espalhados pelo Rive, pelo Colo-Colo (Chile) e pelo Puebla (México), três dos grandes sul-americanos do século XX.
FC Porto-Bétis, 4-2
Campo do Ameal, no Porto
7 de Julho de 1935 (15h00)
Assistência: 15.000 espectadores
Árbitro: José Pereira (Coimbra)
FC PORTO: Soares dos Reis; Avelino Martins, Jerónimo; Nova, Pocas, Carlos Pereira; Waldemar Mota, Pinga, António Santos, Carlos Nunes, Carlos Mesquita
Jogaram ainda: Álvaro Pereira, Raul e Castro
Treinador: Joseph Szabo
BÉTIS: Urquiaga; Arego, Aêdo; Peral, Gomez, Lecue; Saro, Adolfo, Unamuno, Caballero, Valera.
Jogaram ainda: Timimi, Espinosa e Fernandez
Treinador: Joseph O’Connell
Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Pocas, Pinga (3); Caballero e Unamuno
Quando Jerónimo pagou a viagem a Szabo