CLÁUDIA LIMA CARVALHO 06/09/2015 - 17:22
O realizador de Efeitos Secundários, com Maria João Luís e Nuno Lopes, tinha 45 anos.
Estreou-se na realização apenas nos anos mais recentes mas o cinema foi sempre o seu trabalho. Paulo Rebelo, que foi argumentista, assistente de realização e montador dos filmes Odete e O Fantasma, de João Pedro Rodrigues, morreu neste sábado aos 45 anos. O realizador de Efeitos Secundários estava doente com um linfoma do fígado e morreu no hospital Garcia da Orta, em Almada.
Não era um nome conhecido do grande público mas há muitos anos que Paulo Rebelo trabalhava nos bastidores do cinema português. Formado em Montagem na Escola Superior de Teatro e Cinema, o primeiro grande trabalho de Rebelo foi na edição do documentário Viagem à Expo, de 1998, iniciando aí uma parceria com João Pedro Rodrigues, com quem viria a trabalhar em O Fantasma, um ano depois, e Odete, em 2005.
Paulo Rebelo foi coargumentista destas duas longas-metragens de João Pedro Rodrigues, além de assistente de realização e montador. Tarefas que também desempenhou na curta protagonizada por Núria Madruga e Paulo Pires, A Rapariga no Espelho, realizada em 2004 por Pedro Fortes. Rebelo foi ainda montador da curta de Marco Martins de 2005, Um Ano Mais Longo (2006), e de Terra Sonâmbula, a adaptação do livro homónimo de Mia Couto que marcou a estreia na realização de Teresa Prata, em 2007.
É então que surge a vontade de se aventurar na realização. Escreveu Efeitos Secundários, filme que rodou na sua terra, a Costa da Caparica. Inspirada no filme Tudo o que o Céu Permite (1955), de Douglas Sirk, a história de Rebelo retrata, tal como título indica, os efeitos secundários da solidão, do amor e do preconceito. O filme é protagonizado por uma jovem que esconde ter sida (Rita Martins), por uma cabeleireira viúva (Maria João Luís), por um pescador (Nuno Lopes) e por um surfista (Nuno Gil).
“Efeitos Secundários é a história de uma mulher que não tem medo de acreditar que a felicidade não só é possível, como é a única verdade a alcançar”, escreveu então o realizador. “Uma mulher que se recusa a deixar de acreditar nas pessoas e que luta com todas as suas forças para impedir que os outros desistam de viver. Mas hoje, o desejo de felicidade é um acto heróico”, acrescentava Paulo Rebelo na sinopse do filme. “São histórias de pessoas com vidas solitárias, sobre uma rapariga que tem o vírus da sida e que está fora daquele mundo, suburbano, e que chega e provoca o caos”, contava em 2011 à Lusa, a dias da estreia do filme no Teatro do Bairro, em Lisboa.
Paulo Rebelo terminou Efeitos Secundários em 2009 mas só dois anos depois é que conseguiu estrear o filme por não ter encontrado um distribuidor. A estreia aconteceu em 2011 mas fora do circuito comercial. “Ninguém está interessado em exibir filmes portugueses. Procurámos distribuidora, mas a coisa foi-se arrastando, decidimos distribui-lo diretamente. É muito ingrato para quem faz cinema”, lamentava o realizador.
Numa entrevista ao jornal i em Dezembro de 2011, Paulo Rebelo falava desta nova aventura atrás das câmaras como “um desafio muito feliz”. “É sempre diferente quando estamos a comandar. Quando trabalhamos com outros temos de ir ao encontro da sua visão. Neste filme era o meu olhar e a responsabilidade era toda minha”, explicava.
“Ele estava a construir o seu caminho. Era um mestre da sensibilidade, um ser criativo com uma forma única de olhar para os projetos”, lembra ao PÚBLICO Pandora da Cunha Telles, com quem Paulo Rebelo trabalhou nos últimos meses. “Ele olhava para os filmes, para as histórias com um olhar muito genuíno, sempre que me sentava com ele havia uma história nova, havia sempre mais”, continua a produtora para quem o realizador era “um promissor diretor de atores”.
Nas redes sociais, aqueles que o conheceram, como o actor Nuno Lopes ou o realizador João Rui Guerra da Mata, expressam a sua tristeza pela morte de Paulo Rebelo.