«Projeto Ruin'arte: património incompreendido
Em novembro de 2008, Gastão de Brito e Silva, fotógrafo, foi à procura de um edifício abandonado que não lhe saía da cabeça há anos. Começou assim o projeto Ruin'arte. Na foto, Aqueduto dos Pegões, em Tomar. © Gastão de Brito e Silva.
Desde há uns meses que Gastão não fotografa edifícios antigos. "O projeto não tem tido apoio nenhum de ninguém, como tal o meu raio de ação tem diminuído cada vez mais", lamenta o fotógrafo ao SAPO.
Apesar de não atualizar com frequência o seu blogue nos últimos tempos, o artista organizou uma exposição que tem estado em Lisboa (no Centro Cultural de Cascais e no Casino de Lisboa) e ruma ao Porto na próxima sexta-feira, onde vai estar exposta no Gallery Hostel. Um investimento por conta própria. "Apenas o papel fotográfico foi oferecido por uma empresa bem como as molduras", conta.
O resultado são mais de uma dezena de fotos de edifícios em ruínas por todo o país, com uma cor carregada. "Exploro a arquitetura, os grafismos e os contrastes".
Na verdade, o que é uma degradação social consegue tornar-se, de certa forma, uma fotografia apelativa pelo contraste das cores. "As ruínas são uma degradação social e isto nunca é belo, mas é, ao mesmo tempo, um trabalho extremamente emocional onde se ligam memórias. As pessoas olham e dizem: 'olha o meu pai já trabalhou naquela fábrica'", explica.
"As ruínas tornaram-se uma coisa banal e as pessoas já não ligam", refere o fotógrafo.
Este sentimento é, no entanto, passageiro quando se percebe que em muitas cidades os edifícios abandonados já parecem fazer parte da paisagem.
Projeto mal amado, de edifícios mal amados
Em 2009, Gastão de Brito enviou uma carta ao governo e aos deputados do parlamento a chamar a atenção para a degradação de vários edifícios e monumentos históricos. "Até hoje não recebi nenhuma resposta. Só o vereador do urbanismo da Câmara de Lisboa me devolveu resposta mas também não deu em nada", diz.
O fotógrafo já tentou também vários contactos com o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) e o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) mas sem sucesso.
"O sistema condena as ruínas, mas a maior parte das vezes a culpa acaba por ser do Estado, por excesso de zelo. As decisões demoram tanto tempo a ser tomadas que quando se cede, por exemplo, a exploração o edifício já ruiu", explica.
Por enquanto, Gastão espera conseguir alertar para o problema no seu blogue e nas suas exposições. "Tenho tido um grande reconhecimento por parte das pessoas. As ruínas representam a parte decrépita da sociedade e é para isso que quero que as pessoas fiquem sensibilizadas", conclui.» in http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/a-historia-mal-acabada-de-um-edi_3915.html
(Projecto Ruin'Arte)