«COISAS DA SÁBADO: REFLEXÕES SOBRE UMA ENTREVISTA
1 -UM PAÍS SEM ESPERANÇA
Portugal é já há muito tempo um país sem esperança. Vão longe os tempos em que cresceu pela última vez, quando o progresso do país se podia ver nas fotografias aérias, quando vilas e pequenas cidades quase duplicavam no interior do país. Era no tempo em que a primeira vaga de “betão” atravessava literalmente o país, o tempo dos cartazes “europeus” anunciando os apoios que a recente entrada na Europa fazia jorrar pela primeira vez, era o tempo em que “modernizações” (como o IVA) que ficaram até hoje mexiam no tecido arcaico da nossa burocracia, o tempo em que uma revisão constitucional bloqueada tempo demais restituiu ao país o dinamismo de uma economia fora do estado, o tempo em que a privatização da televisão, dos jornais e a explosão das radios mexeram numa modorra ainda salazarista, o tempo em que com uma maioria de governo se governou e com uma presidência que acabou com as veleidades de “socialismo aprofundado” que numa primeira volta travaram o seu ultimo combate institucional, foi o tempo de Cavaco Silva primeiro-ministro e de Mário Soares no primeiro mandato.
Depois houve momentos de euforia, mas já não de esperança. Era como se houvesse que aproveitar os milhões com que a bolsa fazia enriquecer muitos, enquanto o governo distribuía benesses aos empresários, aumentos de salários e milhares de empregos no estado. Valia tudo e muita gente ganhou muito dinheiro, mas todos sabiam que não se estava a construir, como nos anos anteriores, mas a gastar. Era primeiro-ministro António Guterres e foi com ele e com o seu ministro das Finanças Pina Moura que as nossas desgraças actuais começaram e começaram de forma quase criminosa. O país deve-lhes o maior desperdício possível no menor espaço de tempo, e uma factura que deixou o país de “tanga”, expressão não muito feliz, mas inteiramente verdadeira.
O pai e a mãe do nosso descalabro foram Guterres e Pina Moura, algo que não podemos esquecer com a tendência que o actual Primeiro-ministro tem em começar tudo em 2005. Barroso e Santana pecaram por falta de coragem em ir mais longe nas duras medidas restritivas necessárias (convém não esquecer que Barroso e o PSD encarregaram-se de afastar Manuela Ferreira Leite que as defendia e a quem acusavam de impedir o partido de ganhar as eleições), mas encontraram já a máquina frágil da nossa economia muito avariada pelo esbanjamento dos anos Guterres. Como os portugueses são sábios e muitos, ainda lembrados das suas recentes origens camponesas, manhosos, aproveitaram o que puderam, mas sabiam com o que contavam depois. Amanhã se veria.
2 -O PRIMEIRO-MINISTRO QUE FOGE EM FRENTE
Amanhã deu-nos Sócrates, vitorioso por sobre o desastre santanista, com todas as condições para tentar remendar o que o seu anterior governo (Sócrates foi ministro de Guterres) tinha originado e que a inconsistência Barroso-Lopes acabara por deixar intacto ainda por cima com o onus de iniciar a austeridade. Sócrates fez campanha por um programa expansionista, de redução de impostos, de investimentos do estado, contra a “obsessão do défice” e depois fez exactamente o contrário. Fez bem, mas pouco e atabalhoadamente e, vemos agora, sem grande consistência. Na verdade, antes do início da “crise que veio de fora”, estava instalada a “crise de dentro”, com os números de Sócrates muito perto dos de Santana em 2005, nalguns casos muito pior como no emprego. Mas Sócrates tinha um plano para ganhar as eleições.
Na verdade, mesmo antes da “crise” que agora serve para tudo, Sócrates contava regressar ao “betão” para que o “betão” lhe desse o habitual: empresas satisfeitas, autarquias agradecidas pelo “progresso”, emprego, e votos. Ou seja, Sócrates preparava-se para voltar ao mesmo padrão de Guterres e para, no final do mandato, começar a gastar muito dinheiro, com as eleições à vista. Enquanto Guterres distribuía dinheiro em grandes sessões em hotéis de luxo com os empresários, Sócrates chamou-os ao escuro dos gabinetes e aí negociou com eles. Só que as coisas correram mal, muito mal e a “crise que veio de fora” encontrou-se com todas as debilidades da “crise que veio de dentro”. E, como é seu hábito, Sócrates foge em frente, disparando medidas para todos os lados, acertando nalguns casos em que copia o modelo europeu, mas misturando irremediavelmente a sua idiossincrasia autoritária e controleira, com a sebenta estatista do socialismo. Entre duas medidas possíveis Sócrates escolhe sempre aquela que maior controlo dá ao estado, logo ao governo e aquela que menos conta com a liberdade e a individualidade de pessoas e empresas. Recusa-se por isso a fazer aquilo que melhor, mais imediata e menos burocraticamente daria resultados em melhorar a situação de pessoas e empresas – baixar os impostos – a favor do subsídio e do apoio directo do estado, logo do governo. E ele encontrou na crise uma excepcional maneira de mandar mais, nem que para isso tenha que atirar dinheiro, muito dinheiro, por cima dos problemas. Dinheiro que o país não tem e dinheiro, que a curto prazo, ninguém nos quererá emprestar. Aproxima-se um desastre, mas como só será para a década de dez, Sócrates não se importa. Sócrates fiel discipulo de Guterres, prepara-se para deixar as gerações futuras com uma dívida gigantesca, ou seja ,a a condenar o país à pobreza.
3 - E QUEM É QUE TINHA RAZÃO?
É. Pouca gente o dirá porque isso significa morder a língua das suas próprias afirmações e críticas, mas quem tinha razão foi Manuela Ferreira Leite. Quem pela primeira vez chamou a atenção para o problema social que se avizinhava, ainda Sócrates negava a crise? Quem pôs em causa a sustentabilidade do programa faraónico das obras públicas? Quem chamou pela primeira vez (em termos muito próximos dos que o Presidente usou agora) para o problema da dívida? Quem propôs medidas que iam noutro sentido – por exemplo, em vez de incentivos a novos empréstimos às pequenas e medias empresas, já muito endividadas, sugeriu que o estado pagasse as dívidas e baixasse os impostos? Ou seja, outro caminho muito diferente, alternativo, pensando na “crise que vem de fora”, mas evitando agravar a “crise que vem de dentro”. O patrulhamento que o governo faz da líder da oposição, assim como o ruído interno, tem tornado pouco audível a voz de Manuela Ferreira Leite, mas quanto aos factos não há volta a dar.» in blogue Abrupto.
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Como escreve o Dr. Pacheco Pereira e muito bem, o Eng. José Sócrates não se cansa de fazer passar a ideia de que antes dele só existiu a governação Durão Barroso/Santana Lopes. Mas não, houve também a governação Guterres, a que o Eng. Sócrates esteve ligado como Ministro do Ambiente e houve a longa governação em maioria do Dr. Cavaco Silva, com a qual se podem estabelecer muitas comparações... só que isso não dá jeito ao nosso Primeiro Ministro, é melhor falar da efémera governação do Dr. Santana Lopes... é um propagandista nato, José Sócrates, mas um estadista muito medíocre...