25/06/25

Amarante Literatura - Como o Escritor e Filósofo Panteísta Amarantino de Gatão, Teixeira de Pascoaes, foi interpelado pela vida de São Paulo.





«É ainda nesse mesmo ano de 1931 que sai a tradução francesa do «Regresso ao

Paraíso», de Suzanne Jeusse.

Aparece mais uma obra em verso — «O Pobre Tolo» —, elegia satírica, cuja

versão em prosa saíra em 1924.

E assim termina a sua carreira poética. Pascoaes continua a escrever febrilmente.

Escreve, fuma, bebe café que a Maria Amélia ou a Emília lhe trazem de hora

a hora. Chamámos-lhe sempre «As chefas» e sempre as considerámos como pessoas

da família. Bebe café e volta a escrever. Sem descanso. Mas agora abandona a poesia.

Diz que a Poesia é um fenómeno da juventude. Só no fim da vida retomará a lira,

mas com grande hesitação.


XIII

Em 19234, alugámos casa na Av. Presidente Wilson (hoje Av. D. Carlos 1) 111, 3.º.

Tínhamos uma cozinheira muito pitoresca chamada Justina. Quando ia no

carro eléctrico, metia conversa com toda a gente.

Um dia, um senhor perguntou-lhe: «Você é de Trás-os-Montes?» E ela respondeu:

«Serei, serei, meu senhor, porque na minha terra há muitos montes...»

No ano seguinte, alugámos casa na Rua da Vinha, 33, 1.º, no Bairro Alto.

Depois voltámos à York House.

Agora vai surgir a era das grandes biografias. Pascoaes, nesse mesmo ano,

lança a grande revelação — «São Paulo».

Faz o retrato de uma alma enamorada de Deus.

Logo no prefácio, Pascoaes diz que S. Paulo «foi o transviado que se orientou,

orientando os outros, o faminto que transformou em pão a sua fome».

Descreve a lapidação de Santo Estêvão e o remorso que se apoderou de S. Paulo

quando se dirigia para Damasco e uma névoa o surpreendeu e se rasga num enorme

clarão que o derrubou:

«O facho acende-se, em pleno azul do meio-dia! É um clarão maravilhoso, precipitado

das Alturas, e um grito incandescente: Saulo! Saulo! Porque me persegues? O

relâmpago instantâneo bate-lhe na fronte e lança-o por terra, deslumbrado: Quem és,

Senhor? E a voz celeste lhe responde: Sou Jesus, a quem persegues. Duro é para ti

recalcitrar contra o aguilhão. Consumou-se o milagre, o mais surpreendente dos

milagres! A realidade ficou vencida! E eis a alegria da nossa alma!

«Este milagre deu à pessoa de Paulo um resplendor extraordinário. Quem concebeu

idêntica visão? Que outra fronte recebeu, em cheio, uma torrente de luz, a

despenhar-se do céu aberto? Que outros ouvidos foram abalados pela súplica de um

Deus aflito? Que outro homem a quem Deus pedisse misericórdia?

«Esta cena da estrada de Damasco demonstra a inspiração divina do apóstolo, a

força sobrenatural que o animava.

«Os seus companheiros levantam-no e conduzem-no pela mão. Não vê nada, que

o deslumbramento é cegueira. A luz é... meia luz. A vida é entre zero e cem, um

acaso de temperatura...»

«É ainda nesse mesmo ano de 1931 que sai a tradução francesa do «Regresso ao Paraíso», de Suzanne Jeusse.

Aparece mais uma obra em verso — «O Pobre Tolo» —, elegia satírica, cuja

versão em prosa saíra em 1924.

E assim termina a sua carreira poética. Pascoaes continua a escrever febrilmente.

Escreve, fuma, bebe café que a Maria Amélia ou a Emília lhe trazem de hora

a hora. Chamámos-lhe sempre «As chefas» e sempre as considerámos como pessoas

da família. Bebe café e volta a escrever. Sem descanso. Mas agora abandona a poesia.

Diz que a Poesia é um fenómeno da juventude. Só no fim da vida retomará a lira,

mas com grande hesitação.» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.


Mais sobre o assunto: https://ensina.rtp.pt/artigo/sao-paulo-de-teixeira-de-pascoaes/


#amarante    #gatão    #biografia    #sãopaulo    #teixeiradepascoaes    #saulo

Sem comentários:

Enviar um comentário