DANIEL COSTA, 30 MARÇO, 2023
Visto como um génio por Enrico Fermi, Ettore Majorana desapareceu misteriosamente no auge da sua carreira, sem que ninguém soubesse o que lhe aconteceu.
Ettore Majorana foi um dos maiores físicos do século XX. É mais conhecido pelo seu trabalho sobre a natureza do neutrão, que levou ao desenvolvimento da compreensão moderna das partículas subatómicas.
A vida de Majorana foi repleta de mistério e intriga, tendo o físico desaparecido sem deixar vestígios, ainda para mais no auge da sua carreira.
Majorana nasceu em Catania, em Itália, no ano de 1906. Desde cedo revelou aptidão para matemática e ciências e foi estudar para a Universidade de Roma. Em 1928, juntou-se ao grupo de físicos de Enrico Fermi, vencedor do Prémio Nobel, e começou a trabalhar no problema do neutrão.
“Existem várias categorias de cientistas no mundo; os de segundo ou terceiro escalão fazem o possível, mas nunca vão muito longe. Depois, há o primeiro escalão: aqueles que fazem descobertas importantes, fundamentais para o avanço científico. Mas depois há os génios, como Galileu e Newton. Majorana pertencia à última categoria”, disse Fermi sobre Majorana.
Na altura, o neutrão foi uma descoberta relativamente nova e os físicos lutavam para entender as suas propriedades. O italiano rapidamente fez contribuições significativas para o campo, propondo uma teoria que explicava o comportamento do neutrão.
Apesar do seu trabalho inovador, Majorana era bastante reservado. Era conhecido pela sua habilidade matemática ímpar, mas também era conhecido pelo seu comportamento excêntrico, chegando mesmo a desaparecer por vários dias.
Suicídio ou sequestro?
Em 1938, Majorana deixou abruptamente o seu emprego na Universidade de Nápoles e desapareceu sem deixar vestígios. O seu desaparecimento foi um choque para a comunidade científica, dada a sua genialidade. Ao longo dos anos, muitas teorias foram apresentadas sobre o que aconteceu com Majorana, desde suicídio a rapto por agentes estrangeiros.
O seu último avistamento foi no dia 25 de março de 1938, quando apanhou o comboio de Nápoles para Palermo. O cientista disse aos seus familiares e amigos que ia a Palermo tratar de uns assuntos pessoais, mas acabou por nunca chegar ao destino.
Quando saiu de Nápoles, deixou para trás os seus pertences, incluindo o seu passaporte e as suas roupas.
A família e amigo tentaram contactá-lo depois do desaparecimento, mas as suas cartas nunca tiveram resposta. Majorana era uma pessoa próxima da sua família, o que gerou estranheza.
A teoria mais consensual é que Majorana cometeu suicídio, possivelmente atirando-se ao mar durante a travessia de Nápoles para Palermo. Uma carta que Majorana escreveu para a sua família pouco antes de desaparecer expressava o seu desejo de cometer suicídio.
A viver na Venezuela?
Tudo mudou em 2015. A Procuradoria-Geral de Roma divulgou uma declaração declarando que Majorana estava vivo entre 1955 e 1959, tendo vivido na Venezuela.
A descoberta foi possível graças a uma pista que surgiu num programa televisivo italiano chamado “Quem o viu?”, que se dedicava a procurar pessoas desaparecidas. Em 2008, um homem chamado Roberto Fasani ligou e disse que tinha informações sobre o famoso físico desaparecido em 1938.
Fasani disse que se mudou de Itália para Valência, na Venezuela, em 1955. Lá, conheceu um amigo siciliano que lhe apresentou um certo Sr. Bini. Certo dia, disseram a Fasani: “Não sabes quem ele realmente é, ele tem um grande cérebro e o seu nome verdadeiro é Majorana”.
No seu carro, o suposto Sr. Bini guardava imensos papeis, entre os quais Fasani chegou a ver um postal datado de 1920, escrito pelo tio de Ettore Majorana, o físico Quirino Majorana.
Fasani queria uma prova e, a grande custo, conseguiu convencer Bini a tirar uma foto com ele. Fasani chegou a pensar que a tinha perdido, mas viria a encontrá-lo vários anos depois. Foi então que ligou para o programa. Finalmente tinha uma prova para sustentar a sua alegação.
Fasani e, supostamente, Majorana, na Venezuela.
Com base nessa foto, a equipa forense da polícia italiana cruzou com fotos existentes de Ettore Majorana e as do seu pai, sugerindo que eram a mesma pessoa.
As suas ideias sobre a natureza do neutrão abriram caminho para o desenvolvimento do modelo padrão da física de partículas, que ainda hoje é usado para descrever o comportamento das partículas subatómicas. Hoje, Majorana é lembrado como um dos físicos mais brilhantes do século XX.
Daniel Costa, ZAP //» in https://zap.aeiou.pt/ettore-majorana-genio-desapareceu-528837
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