Maria de Jesus Teixeira nasceu, ao que se sabe, em Fafe, no último quartel do século XIX. Viveu numa humilde casa no lugar da Seara na antiga Vila, onde em 1893 foi atirada para o seu leito com uma doença que o seu médico, Maximino de Matos, diagnosticou de “Catalepsia” uma alteração nervosa que, voluntária ou involuntariamente provoca a paralisia de grande parte do corpo. Durante 44 longos anos, Maria de Jesus permaneceu quase imóvel na sua cama.
A conhecida poetisa fafense Soledade Summavielle conheceu a “santinha” e descreve-a “sentada na cama, de tez clara, dois bandós negros a emoldurarem-lhe o rosto oval, olhos piedosos, brandos e escuros; um sorriso leve nos lábios finos e vermelhos, um longo rosário nas mãos e uma varinha de cana com que abria a porta aos que batiam”.
“ A casa de Maria de Jesus ficava a caminho da Escola Primária e os alunos, na passagem, pediam-lhe orações e deixavam-lhe moedas num pequeno prato de barro junto do seu oratório. Nele havia sempre dois castiçais de vidro com velas, palmitos de papel, raminhos de perpétuas e uma lamparina acesa brilhando no escuro”. Soledade conta ainda que as paredes do quarto da “santinha” estavam forradas a notas de banco, suspensas pelas pontas.
“Havia ali escudos, pesetas, liras, francos e dólares, enviados das mais diversas partes do Mundo”, refere o conto da escritora.
Dizia-se que a “santinha nunca sentia fome e raras vezes comia”. Outros diziam que se alimentava durante a noite.
Maria de Jesus era muito generosa e distribuía dinheiro das dádivas pelos mendigos e também para pagar a uma senhora que cuidava da inválida e da casa.
Maria de Jesus afirmava: “Não faço milagres, simplesmente peço a Deus pelos que sofrem”. “Sonhara que vira o Céu e ouvira o coro dos Anjos”.
Soledade Summavielle acompanhou de perto Maria de Jesus e fala-nos na “Rainha” nome de uma pomba branca que servia de companhia à paralítica durante as longas noites. “Ao nascer do sol, desaparecia.”
A fama da “santinha de Fafe” espalhou-se rapidamente por todo o Norte do país. “ De Amarante, do Douro etc., se fazia uma romagem constante para Fafe, a invocar milagres. O famoso poeta Teixeira de Pascoais chegou a mostrar interesse pela senhora pedindo informações ao jornal “O Desforço”. Outros jornalistas conhecidos tentaram, sem sucesso, entrevistar e fotografar Maria de Jesus.
“Debaixo de uma misteriosa chuva de borboletas brancas que caía sobre Fafe e arredores, Maria, a santinha, fora a enterrar”
Não sabemos com que idade, Maria de Jesus Teixeira, a “santinha de Fafe”, foi sepultada no cemitério de Fafe em 29 de Abril de 1937. Alguns afirmam ter assistido ou ouvido contar que, no dia do funeral o céu de Fafe ficou coberto de borboletas brancas. A pomba “Rainha, essa nunca mais foi avistada.