«Leonardo Coimbra aparecia muitas vezes. Costumava hospedar-se na Casa de Tourago, na margem esquerda do Tâmega, mesmo em frente da Casa de Pascoaes. Das respetivas varandas, faziam sinais um ao outro com toalhas brancas e assim combinavam os encontros, ora em Pascoaes, ora à beira-rio. Geralmente Leonardo Coimbra vinha acompanhado por um sobrinho das senhoras de Tourago - o engenheiro Ângelo Morais -, muito inteligente, culto e de grande sensibilidade. Foi também um grande amigo do Poeta.
Quando Leonardo pensou em casar, escreveu a Pascoaes pedindo-lhe a sua opinião: deveria casar civilmente ou pela Igreja? Pascoaes respondeu que não queria influenciá-lo, mas que ele deveria escolher entre uma capelinha, caiada de branco, no alto de um monte, com um altar cheio de flores ou uma repartição pública, com um manga de alpaca e o chão cheio de nódoas de tinta e periscas de cigarro.
Apesar do contraste, Leonardo casou pelo civil.
Muito mais tarde, depois de ter perdido um filho e o outro adoecer gravemente, Leonardo converteu-se ao Catolicismo. Foi o Padre Cruz quem o casou e lhe baptizou o filho a quem já me referi.
Depois de casado, com o filho ainda pequeno, Leonardo vinha frequentemente hospedar-se na Casa de Pascoaes, onde passava longas temporadas, nas férias.
Era um grande escritor e filósofo, um conversador extraordinário, um orador empolgante e arrebatador. lembro-me de o ouvir em Viana do Castelo, no dia 1 de Setembro de 1930, onde a convite do Instituto Histórico do Minho, a par de outros oradores galegos, enalteceu a obra de Pascoaes. Eu estava extasiada. Falou com tal fulgor e vibração que, quando acabou de falar, perguntou a minha Tia Maria da Glória o que lhe parecera, e ela respondeu: «Pareceu-me a jaula pequena para o leão.»
Leonardo tinha uma figura que se impunha, uma farta cabeleira negra, o gesto largo, a voz troante. falava sempre de pé e de pé era sempre delirantemente aplaudido.
Lembro-me de uma vez em que falou sobre Pascoaes no Clube de Amarante. Começou por dizer: «Este homem escanzelado, magro como um cão, que morre de fome, não de pão, mas de Espírito, é o maior poeta vivo português.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes", de Maria José Teixeira de Vasconcelos.