«Dedicado a um Poeta de
Fregim, José Diniz
O Sr. Diniz, como eu me habituei
a apelidar em miúdo, era visita frequente da família do meu falecido pai,
designadamente, da Casa da Cidreira em Fregim, onde gostava de falar e cultivar
a amizade, com os meus Tios, Domingos e Justina, e, com o meu Pai, Justino
Barros.
A freguesia de Fregim era até
então, um local de marcado bucolismo, onde a agricultura e todas as artes a ela
ligadas, marcavam de forma indelével toda a sua ecologia existencial e paisagem
física.
O Sr. Diniz sempre me pareceu ao
mesmo tempo, deslocado deste local, e, por outro lado, de forma paradoxal,
ligado de forma quase umbilical a esta terra que se lhe entranhou na Alma e
marcou toda a sua inquietação, no mais profundo âmago do seu ser.
Não falava como os demais, era
mais sofisticado e profundo nos seus pensamentos, sempre delicado no trato,
tudo nele contrastava com a rudeza de uma freguesia rural, cuja beleza tinha
que ser procurada e descoberta, por almas mais sensíveis e atentas, como era o
caso do Sr. Diniz.
Há uns tempos atrás, dei por mim
a remexer os livros e escritos do meu pai e, inopinadamente, deparo-me com um
livro de um Poeta de Fregim, com o título “Os meus primeiros versos”, que
devorei de uma assentada, podendo confirmar a ideia que tinha do Sr. José
Diniz.
A Freguesia de Fregim foi uma
fonte de inspiração para este Poeta que, como todos os Homens da escrita, são
inspirados por paisagens, acontecimentos, atos humanos, que são considerados
banais para o comum dos mortais… mas, para os Poetas não, eles vão sempre mais
fundo, vão mais longe que o alcance dos sentidos humanos, a sua sensibilidade
remete-os para viagens diferentes, mais ligadas aos caminhos insondáveis das
Almas!
Agora que estamos em alturas de
apertos financeiros, mas ainda restam reservas monetárias para espólios
culturais, urge sem dúvida tratar os acervos culturais que sobram, mas que
nunca são demais para enriquecer o património cultural de uma terra. Na falta
de quem se interesse, faço aqui um apelo às Escolas, para que façam uma recolha
de todos os Poetas de Amarante, dado que, mesmo aqueles que não são de
nomeada, oferecem-nos com o fruto do suor do seu trabalho literário, uma
profunda reflexão sobre as suas emoções sentidas, a partir do amor telúrico
pelo chão que sempre pisaram e amaram.
O Poeta José Diniz pela sua
curta, mas consubstanciada e qualitativa obra, merece ser relembrado, pelo
menos, por Fregim e pelos Malteses. Ainda recordo os tempos em que, sendo eu
ainda um miúdo tinha a oportunidade de ler as suas crónicas no jornal “Flor do
Tâmega”, onde se referia muitas vezes a Fregim, e à ligação desta freguesia à
Ordem de Malta. Que pena tenho eu de não ter acesso, hoje em dia, a essas
crónicas que me deliciavam.
É dever de uma sociedade não
deixar apagar e deixar morrer as suas nobres tradições e a sua cultura, ainda que
remotas no tempo e no espaço. Igualmente, os seus agentes de cultura que,
muitas das vezes fizeram autênticos trabalhos literários, a troco de nada,
apenas pelo prazer da escrita e pelo amor à Terra que os acolheu para nascer,
viver ou morrer, devem ser lembrados e divulgados. Mas, nem o nome de uma
simples Rua merecem, na recente classificação toponímica das freguesias… porquê,
pergunto eu?!...
A título de exemplo, deixo aqui
um Poema que José Diniz dedicou à sua Freguesia, Santa Maria de Fregim, que já foi também da Ordem de Malta:
“À minha aldeia
Na minha aldeia solitária e triste,
Que o sol beija por entre os pinheirais,
Sagrado é para mim tudo o que existe,
E vós meus tristes olhos contemplais.
Sagrada é a paz da tarde que declina,
Pela vertente íngreme do Outeiro,
Sagrado é o terno rouxinol que trina,
Sobre o galho franzino do amieiro.
Sagrado é o chão que piso em passos leves,
Dentro e fora do povo e dos casais,
E aquelas orações doces e breves,
No silêncio das tardes outonais.
Sagrados são os raios de luar,
Que a enchem de luz em noites calmas,
E das fontes o doce murmurar,
Na solidão que envolve as nossas almas.
É a canção do regato cristalino,
Na melindrosa e eterna melodia,
E no alto da torre lá no cimo,
A cruz que o sol afaga todo o dia.”
José Diniz, Poeta