«Berlim: 50 depois, o que resta do "muro da vergonha"?
Berlim assinala hoje, Sábado, o 50º aniversário da construção do muro de Berlin com uma cerimónia solene em memória de todos os que morreram a tentar atravessá-lo para fugir para a Europa Ocidental.
A madrugada em que nasceu o muro
O muro começou a nascer às primeiras horas de Domingo, 13 de Agosto de 1961 - um dia escolhido pelas autoridades da Alemanha de Leste porque era a melhor forma de apanhar de surpresa os habitantes da cidade: muitos estariam fora, a aproveitar o domingo de verão.
Numa operação secreta chamada "Rosa", dezenas de milhar de soldados e milícias recrutadas entre os operários fabris foram chamados a colocar uma barreira entre o sector oriental da cidade, ocupado pelos soviéticos, e os sectores ocidentais, ocupados pelos EUA, Inglaterra e França desde o final da II Guerra Mundial.
O Muro, a que os alemães de Leste chamavam "barreira de protecção anti-fascista", foi feito para pôr fim ao êxodo de cidadãos do lado oriental: era-lhes mais fácil passar primeiro para Berlim Ocidental, e daí seguir por avião para o Ocidente, do que tentar atravessar a fronteira entre as duas Alemanhas.
Em 1961, mais de 2,5 dos 19 milhões de alemães de Leste já tinham expressado a sua opinião política indo para o Ocidente e, com cerca de 3000 a tomar esse rumo todos os dias, as autoridades comunistas receavam ficar com um país despovoado.
Os soldados bloquearam as ruas, cortaram linhas de comboio e começaram a construir uma barreira com arame farpado e pedras do pavimento das ruas - um muro que, com o passar dos anos, se tornou mais alto e mais complexo, com mais de 155 quilómetros.
Hoje, o que resta do muro?
Hoje, grande parte do muro desapareceu. Ficaram apenas fragmentos que não excedem, no total, 3 quilómetros. "Há quem faça acusações de que derrubámos mais o muro do que devíamos", reconheceu o presidente da câmara de Berlim, Klaus Wowereit, na semana passada. "Talvez os turistas vejam a questão dessa forma. Mas na altura estávamos tão tão felizes por o muro ter caído que nem podíamos esperar que viessem as escavadoras removê-lo, aquela coisa que tinha criado tanta infelicidade nesta cidade, que dividiu famílias, que provocou tantas vítimas e tanto sofrimento", acrescenta. "Mas talvez devesse ter ficado mais muro para mostrar mesmo o horror da divisão", continua.
Os pedaços do muro que continuam de pé estão agora a ser restaurados e registados para preservação histórica. Até ao fim do ano serão reparadps os blocos de betão da Bernauer Strasse, o local onde decorreram algumas das tentativas de fuga mais dramáticas e onde está agora o principal Memorial do Muro. "A maioria dos estragos foram provocados pelos 'pica-muros' entre 1989 e 1991", diz Guenter Schlusche, diretor do memorial, usando o termo berlinense para os caçadores de souvenirs que foram partindo pedaços do muro depois da abertura da fronteira, em 9 de Novembro de 1989.
Um minuto de silêncio pelos que morreram
Sábado de manhã, o presidente alemão Christian Wulff, a chanceler Angela Merkel (que cresceu no Leste) e Wowereit estão presentes numa cerimónia religiosa Sábado de manhã, numa capela construída no local onde durante 28 anos esteve o muro.
E muitos grupos, incluindo um que pretende lembrar "as vítimas da tirania comunista", pediram um minuto de silêncio em toda a cidade, ao meio-dia, para recordar aqueles que morreram no muro. O serviço de transportes públicos da cidade disse também que autocarros e comboios vão parar a essa hora para recordar as vítimas.
Conhecem-se pelo menos 136 pessoas que morreram no muro. Os historiadores sugerem que o número global de vítimas mortais na tentativa de atravessar o muro de leste para Oeste pode estar entre os 600 e 700. Os jornais e as televisões alemãs têm assinalado este aniversário com entrevistas a pessoas que tentaram a travessia e documentários sobre a história do muro. Decorrem também várias exposições, incluindo uma na estação de Friedrichstrasse, o único ponto em que o metropolitano atravessava a cidade dividida.
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