Mostrar mensagens com a etiqueta Religião Papa Francisco I. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Religião Papa Francisco I. Mostrar todas as mensagens

23/02/18

Religião - Foram seis dias de retiro espiritual para Francisco, orientado por Tolentino Mendonça e ao longo de dez meditações, houve espaço para mais do que a Bíblia, sendo que o sacerdote, teólogo e escritor português levou consigo várias referências literárias, mostrando que Deus pode falar em qualquer texto.



«Francisco viajou 30 quilómetros para ouvir Tolentino Mendonça. E estas foram as palavras do padre português para o Papa

Foram seis dias de retiro espiritual para Francisco, orientado por Tolentino Mendonça. Ao longo de dez meditações, houve espaço para mais do que a Bíblia. O sacerdote, teólogo e escritor português levou consigo várias referências literárias, mostrando que Deus pode falar em qualquer texto. O que teve a dizer o padre português ao Papa Francisco?


Vatican News

A 18 de fevereiro, o Papa Francisco deslocou-se até Ariccia, a cerca de 30 quilómetros de Roma, para um retiro espiritual até esta sexta-feira, dia 23, orientado pelo padre e teólogo português José Tolentino Mendonça, ordenado em 1990, e consultor do Conselho Pontifício para a Cultura da Santa Sé.

Às 15h de Lisboa, o Papa Francisco abandonou o Vaticano, de autocarro e na companhia de alguns elementos da Cúria, o governo do Vaticano. Em vista estava o retiro espiritual de uma semana, que se realiza todos os anos durante a Quaresma, período que antecede a Páscoa. Durante este período foram suspensas todas as habituais audiências do líder da igreja católica.

As sessões de meditação — dez, no total —, em torno do tema "O elogio da sede", decorreram sob a orientação do padre José Tolentino Mendonça, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, na Casa do Divino Mestre dos religiosos paulistas, em Ariccia. Ao SAPO24, D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, explica que “os pontos de reflexão são naturalmente da responsabilidade do pregador”.

Num texto publicado no site da Pastoral da Cultura, Tolentino Mendonça refere este convite do Papa Francisco. “Quando o Santo Padre quis falar comigo para que colaborasse nos Exercícios da Quaresma, disse-lhe que eu sou apenas um pobre padre, e é a verdade. Ele encorajou-me a partilhar da minha pobreza. Veio então à minha mente propor um ciclo de meditações muito simples sobre a sede, intitulado 'Elogio da sede'. A sede é um tema bíblico, elaborado muitas vezes pela tradição cristã, e ao mesmo tempo é um mapa real, muito concreto, que nos ajuda a ficarmos sintonizados com a vida de todos os dias. Interessa-me sobretudo uma espiritualidade do quotidiano”.

O programa do retiro consistiu na celebração da missa às 7h30 locais, seguida de uma primeira meditação às 9h30. Da parte da tarde, às 16h, uma segunda meditação — exceto no primeiro e último dias —, a oração das vésperas e a adoração eucarística. O conteúdo base nas meditações foi disponibilizado no site Vatican News.

18 de fevereiro
A primeira meditação do retiro teve como tema “Os aprendizes do espanto”, inspirada no Evangelho de S. João. Com a história de Jesus que pede de beber à samaritana, Tolentino Mendonça fala da surpresa da mulher para com o pedido, trazendo a mesma admiração para o dia-a-dia quando Jesus se dirige a cada pessoa. “Dá-me o que tens, abre teu coração, dá-me o que és” são os pedidos de Jesus, explicou o teólogo.



créditos: Vatican News

O momento contou ainda com citações, por parte de Tolentino Mendonça, dos escritores Eduardo Galiano, Lev Tolstoi e Fernando Pessoa. No fim, a lição pareceu simples: temos de “aprender a desaprender”.

“Desaprendamos para aprender aquela graça que tornará possível a vida dentro de nós. Desaprendamos para aprender até que ponto Deus é a nossa raiz, o nosso tempo, a nossa atenção, a nossa contemplação, a nossa companhia, a nossa palavra, o nosso segredo, a nossa escuta, a nossa água e a nossa sede”, referiu.

19 de fevereiro
A segunda meditação intitulou-se “A ciência da sede”. Mais uma vez, a inspiração é bíblica, agora vinda do livro do Apocalipse. Mas as influências literárias do responsável pelo retiro fizeram-se sentir novamente. Na sala ouviram-se Milan Kundera, Emily Dickinson e Saint-Exupéry, entre outros.



créditos: Vatican News

Na passagem do Apocalipse, as palavras usadas são “quem tem sede”, “quem quiser” — “expressões que se referem a nós”, afirmou Tolentino Mendonça. “Estamos tão próximos da fonte e vamos para tão longe, perdidos em desertos, em busca da torrente que nos mate a sede e ignorando assim o dom que Deus tem para nos dar.”

Já na terceira meditação — “Dei-me conta de ser sedento” —, o objetivo do padre português foi chamar a atenção para o facto de haver “nas nossas culturas e nas nossas igrejas, um défice de desejo”. Mas há solução: "tratar as vidas como campos que precisam de ser irrigados e fecundados, para poderem germinar".

Para ajudar, novamente os escritores, nomeadamente Clarice Lispector e Simone Weil. “Utilizamos, nos nossos dias, a literatura ao fazer teologia. Os escritores são mestres espirituais importantes”.

20 de fevereiro
“Esta sede de nada que nos faz adoecer”. Este foi o mote da primeira meditação de terça-feira. “O contrário da sede é a preguiça”, referiu o teólogo português. “Quando perdemos a curiosidade e nos fechamos ao inédito ficamos apáticos e começamos a ver a vida com indiferença”.



créditos: Vatican News

Para exemplificar, referiu um dos problemas mais frequentes na atualidade: a síndrome de Burnout. Este esgotamento emocional é definido por “síndrome do bom samaritano desiludido”, afetando muitas pessoas cuja principal ocupação é ajudar o próximo, como é o caso dos sacerdotes. Segundo uma sondagem entre o clero da Diocese de Pádua apresentada por Tolentino, os padres com maior probabilidade de virem a sofrer esta síndrome têm entre os 25 e os 29 anos, passando depois para a faixa etária dos 70 anos.

Na última meditação do dia, José Tolentino Mendonça centrou-se na “sede de Jesus”, com base no episódio do Evangelho de S. João em que Cristo, na cruz, afirma ter sede. “A sede física documentava de forma convincente que Jesus era de carne e osso, como qualquer pessoa”, mas também tinha “sede da salvação dos Homens”, referiu.

Por outro lado, a ideia da sede foi desconstruída através do episódio da samaritana, que já havia sido referido: Jesus pede água, mas é Ele quem lhe dá de beber e promete “água viva”. As palavras são então interpretadas “como sede física, mas desde o início que tinham um sentido espiritual”, disse Tolentino.

21 de fevereiro
Naquela que foi a sexta meditação do retiro do Papa Francisco, Tolentino Mendonça aproveitou os exemplos das mulheres que aparecem nos Evangelhos para referir “As lágrimas que falam de uma sede”.



créditos: Vatican News

Nos Evangelhos, a forma de expressão feminina passa mais por gestos do que por palavras. Mas, mesmo assim, “com esta linguagem, evangelizam com o modo dos simples, dos últimos”. Em S. Lucas há um fio condutor entre as mulheres: as lágrimas. E o próprio Cristo também chora.

Mais uma vez Tolentino usou uma referência literária. As lágrimas “contam histórias” sem palavras, como referiu Roland Barthes. “As lágrimas suplicam a presença de um amigo capaz de acolher a nossa intimidade sem palavras e abraçar a nossa vida, sem julgar”, acrescentou o sacerdote.

À tarde, na sétima meditação, o tema foi “beber da própria sede”, uma necessidade de construção. Usando os conceitos de nomadismo e sedentarismo, Tolentino Mendonça lembrou que a fé cristã é uma experiência nómada, enquanto a “doença do século XXI” é o sedentarismo — que também pode ser espiritual. “Tornamo-nos guias de peregrinos, mas não peregrinamos mais”.

22 de fevereiro
A meditação da manhã de quinta-feira começou com referências à parábola do filho pródigo, um história de misericórdia, perdão e amor. Há um filho mais novo com “um desejo de liberdade e passos falsos”. E, por isso, acaba no vazio e na solidão. Por outro lado, o filho mais velho, que tem “dificuldade em viver a fraternidade, recusa a alegrar-se do bem do outro e é incapaz de viver a lógica da misericórdia”.



créditos: Vatican News

Para José Tolentino Mendonça a mensagem a transmitir era óbvia: todos somos assim. “Na verdade, dentro de nós não existem apenas coisas bonitas, harmoniosas e resolvidas. Dentro de nós existem sentimentos sufocados, tantas coisas que devem ficar claras, doenças, inúmeros fios por ligar. Existem sofrimentos, reconciliações necessárias, memórias e fissuras que devem ser curadas por Deus”, disse. E, para isto, a resposta: a misericórdia é um dos “atos soberanos de Deus” — tal como se revelou aos irmãos da parábola.

A meditação da tarde, intitulada “escutar a sede das periferias”, teve como objetivo olhar para o mundo. “É essencial ter os olhos bem abertos à realidade do mundo que está à nossa volta”, iniciou Tolentino Mendonça.

Olhar para os outros foi o que fez também o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si. “Um problema particularmente sério é o da quantidade de água disponível para os pobres, que provoca mortes a cada dia”, citou. A resolução passa, também, por “adotar uma autêntica conversão de estilos de vida e de coração” diante da “sede das periferias”.

Mas que não se pense que Cristo não olha para estes espaços. Afinal, era ele também um “homem da periférico”. “Não nasceu cidadão romano, não pertencia ao primeiro mundo da época, nasceu em Belém e cresceu em Nazaré” — ficou entre as periferias de Israel e do domínio romano, mas dali chegou a todo o mundo.

Para o sacerdote português, a Igreja do século XXI é também ela periférica, trazendo desafios: é preciso encontrar espaços que não sejam “vazios do religioso”, mesmo que não sejam centrais. Referiu, também, outros espaço que podem ser considerados periferias dentro de uma cidade, como hospitais ou prisões, dirigindo-se também para aí a Igreja.

23 de fevereiro
A última meditação do retiro orientado pelo padre José Tolentino Mendonça teve como título “A bem-aventurança da sede”. Nesta intervenção, o teólogo centrou-se na passagem do Evangelho sobre as Bem-aventuranças para mostrar que estas são “um auto-retrato de Jesus”: pobre em espírito, manso e misericordiosos, sedento e homem de paz, necessitado de justiça, acolhedor de todos, alegre no testemunho à humanidade. Com isto, questionou “como anunciamos nós as bem-aventuranças?”.



créditos: Vatican News

No anúncio e na descoberta, a figura de Maria para encerrar o retiro. “Maria é mulher de escuta. Deixa-se visitar, mantém abertas as portas do coração e da vida”. Mas nós tendemos a viver numa cápsula, fechados. Contudo, à semelhança do anjo que a visitou, também cada pessoa pode acolher Deus: com atos de hospitalidade e honestidade.

Mas mais do que um aviso para cada presente no retiro, Tolentino deixou um conselho para a Igreja, que “deve aprender com Maria a compaixão, a ternura e a cura que a sede de cada ser humano requer”.

No final, o Papa Francisco dirigiu algumas palavras a Tolentino Mendonça: "Quero agradecer, em nome de todos, por este acompanhamento ao longo destes dias, que hoje se prolongarão com jejum e orações pelo Sudão do Sul, pelo Congo e também pela Síria, lembrando com esta referência o dia de hoje como jornada mundial de oração e jejum pela paz.

"Obrigada, padre, por ter falado da Igreja, por nos ter feito sentir de facto Igreja, este pequeno rebanho. E também por nos ter avisado para não nos 'encolhermos' com a nossa mundanidade burocrática! Obrigada por nos ter recordado que a Igreja não é uma gaiola para o Espírito Santo, que o Espírito voa e trabalha também fora. E com as citações e as coisas que disse, mostrou-nos como Deus trabalha com os não crentes, com os pagãos, com as pessoas de outras confissões religiosas: é universal, é o Espírito de Deus que é para todos", disse Francisco.

Com isto, o Papa Francisco e os seus colaboradores concluíram esta manhã os Exercícios Espirituais de Quaresma. Está previsto que o Santo Padre regresse ao Vaticano ao início desta tarde.» in https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/francisco-viajou-30-quilometros-para-ouvir-tolentino-mendonca-e-estas-foram-as-palavras-do-padre-portugues-para-o-papa

21/04/17

Religião Papa Francisco I - O Papa Francisco será o quarto papa a visitar Fátima, a 12 e 13 de maio, para o centenário das “aparições”, em 1917, tendo também previstos encontros com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa.



«Francisco e Jacinta são canonizados em Fátima, a 13 de maio

A data da canonização foi divulgada hoje, no Vaticano, no Consistório Ordenado Público para o voto sobre algumas causas de Canonizações. O anúncio foi feito pelo Papa, tendo sido fixadas as datas para a cerimónia de canonização de 37 futuros santos, entre eles Jacinta e Francisco.

O Santuário de Fátima divulgou já na página do Facebook o anúncio da canonização dos pastorinhos.

"É com grande alegria que anunciamos que a canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto terá lugar aqui no Santuário de Fátima, no dia 13 de Maio, na peregrinação que Sua Santidade o Papa Francisco aqui fará. É com grande alegria mas também com uma profunda gratidão; gratidão a Deus que nos concede estes novos Santos, mas gratidão também ao Santo Padre que decidiu fazer este ato solene da canonização neste lugar tão significativo como é este Santuário de Fátima", diz o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas.

"Há três motivos principais para considerarmos este acontecimento muito especial. O primeiro motivo é termos aqui as relíquias dos novos Santos. De facto, eles estão sepultados na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, aqui no Santuário. Um outro segundo motivo que torna esta canonização feita aqui em Fátima tão especial é que a escolha de Fátima para um ato solene desta grandeza mostra o reconhecimento da importância mundial de Fátima e da Mensagem de Fátima como escola de santidade. Um terceiro motivo que torna esta canonização tão especial é o contexto da celebração do Centenário das Aparições. Sem dúvida que nós celebraríamos o Centenário das Aparições de Nossa Senhora aqui na Cova da Iria, mas também não há qualquer dúvida de que esta canonização vem coroar o conjunto das celebrações jubilares e, por isso, é para nós motivo de grande contentamento. Sem dúvida que este dia 13 de maio será o auge da celebração do Centenário das Aparições", afirma o reitor.

O padre Carlos Cabecinhas deixou ainda o convite para que todos visitem o Santuário, "para rezar com o Papa Francisco" a 12 e 13 de maio, e "para celebrar a santidade do Francisco e da Jacinta".

Os sinos do santuário de Fátima tocaram a repique cerca das 09:40, minutos depois de o Papa Francisco ter anunciado ao consistório, em Roma, a canonização de Jacinta e Francisco. Fonte do santuário disse à agência Lusa que os sinos tocaram “mal se soube da notícia”.

O reitor do santuário vai anunciar a notícia no santuário, rezar uma missa na Capelinha das Aparições e fará uma oração de ação de graças.

A canonização de Francisco e Jacinta, beatificados pelo papa João Paulo II, em Fátima, a 13 de maio de 2000, estava dependente do reconhecimento de um milagre, a cura de uma criança brasileira, em 2013, o que aconteceu a 23 de março.

Oriundos de uma “humilde família” de Aljustrel (na paróquia de Fátima, concelho de Ourém), no seio da qual “aprenderam a doutrina cristã”, as duas crianças começaram a pastorear o rebanho dos pais em 1916, atividade no âmbito da qual vieram a assistir às “aparições” de um anjo, nesse ano, e da Virgem Maria, no ano seguinte.

Francisco e Jacinta faleceram ainda crianças, pouco depois de, com a sua prima Lúcia de Jesus (1907-2005), terem estado na origem do fenómeno de Fátima, entre maio e outubro de 1917.

O Papa Francisco será o quarto papa a visitar Fátima, a 12 e 13 de maio, para o centenário das “aparições”, em 1917, tendo também previstos encontros com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa.

Os anteriores papas a estar na Cova da Iria foram Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991, 2000) e Bento XVI (2010).» in http://24.sapo.pt/atualidade/artigos/francisco-e-jacinta-sao-canonizados-em-fatima-a-13-de-maio


(FÁTIMA DOCUMENTÁRIO SOBRE AS APARIÇÕES DE FÁTIMA PORTUGAL)


Os 3 segredos de Fátima [Documentary The History Channel]


(TERCEIRO SEGREDO EM 2017)

26/12/14

Religião Francisco I - No seu discurso de Natal ao organismo central administrativo da Igreja Católica Apostólica Romana, a Cúria – e como já nos tem vindo a habituar – este Papa fez o que nunca nenhum tinha feito: esfregou sal nas feridas que já tinha aberto nos cardeais.



«Papa Francisco abana a Igreja Católica

Podiam ser 20 doenças ou apenas uma, mas Francisco escolheu enumerar 15. No seu discurso de Natal ao organismo central administrativo da Igreja Católica Apostólica Romana, a Cúria – e como já nos tem vindo a habituar – este Papa fez o que nunca nenhum tinha feito: esfregou sal nas feridas que já tinha aberto nos cardeais com o seu Evangelho da Alegria, os mesmos que se recusam a evoluir e a abandonar o carreirismo para oferecerem os seus serviços aos que mais precisam e a toda a comunidade. Ao fazê-lo, Francisco terá provavelmente engrossado a lista dos que o criticam e não o vêem nem às suas acções com bons olhos nos círculos mais fechados e conservadores (o maldizer, uma das 15 doenças). “Os cardeais achavam que iam receber a bênção de Natal e levaram com uma saraivada”, resume Frei Bento Domingues. Em vésperas de Natal, este e outros dois teólogos da Igreja portuguesa analisam a lista de maleitas 

1-Imortais e essenciais

“Francisco mostrou uma frontalidade exemplar para combater uma tragédia que é o carreirismo na Igreja”, defende o bispo das Forças Armadas. “Hoje a Cúria é um conjunto de cardeais que estão ali pela idade, que a usam como um posto. Em bom português estão-se a borrifar para o que devia ser a sua função, servir a comunidade, porque têm o poder.”

2-Actividade excessiva

“É o que na Igreja se chama de Martismo”, explica D. Januário, em referência às passagens da Bíblia sobre Marta. “É não ter tempo para estudar, para ouvir outras opiniões, é correr a maratona sem ouvirem o treinador. É não ter tempo para reflectir nem para rezar. Isto mata a espiritualidade da cultura, esta falta de preparação, este desinteresse e falta de dedicação ao que importa.”

3-Petrificação mental e espiritual

O que devia ser plasticina, diz o bispo das Forças Armadas, é pedra. Na Cúria como “com este governo que só vê economia”. “Este Papa não convida ao politicamente correcto. Pede inteligência para penetrar a realidade à medida que esta se altera e evolui. Por exemplo, os cardeais falam dos jovens como revolucionários baratos sem interesse no trabalho de Deus e não é assim.”

4 e 5-Má coordenação e planos a mais

É uma doença que se cruza com a actividade excessiva. Frei Bento sublinha que estas 15 doenças enumeradas são uma só, a hierarquia imutável da Igreja, e que o Papa já as delineara no seu Evangelho da Alegria. “Mas perante as resistências e a má-língua decidiu pôr o dedo na ferida, para fazer doer, para que a Cúria acorde para as suas raízes, as de Jesus Cristo, de servir os que mais precisam.”

6-Alzheimer espiritual

“OPapa teve uma táctica fantástica, que foi começar por si próprio, seguindo a simplicidade na sua vida, nas suas acções, vendo o mundo com os olhos com que Jesus Cristo viu o mundo no seu tempo”, explica Frei Bento. Foi assim que o primeiro Papa latino-americano angariou simpatia entre variados grupos no mundo inteiro e “foi isto que ele pediu aos cardeais que façam”.

7-Rivalidades e vanglória

A simpatia generalizada que Francisco angariou fez ferver muitos conservadores na Igreja, que ao invés de ajudar o Papa estão, nas palavras de Frei Bento, “a torpedeá-lo”. “Acabou de acontecer um momento histórico, que foi a viagem dele à Turquia. Há mil anos que o patriarca ortodoxo estava excomungado e ele foi lá e pediu-lhe a bênção. Isto irritou ainda mais estes círculos conservadores.”

8-Esquizofrenia existencial

A “varridela da Igreja de que estávamos a precisar”, diz Carreira das Neves, ataca uma Cúria “que vem da Idade Média” e onde “quem lá vive se habituou a ter um estatuto especial”. Francisco acaba por ser o primeiro a combater esta esquizofrenia existencial e faz desta mensagem uma dirigida a toda a humanidade. “Antes de sermos católicos, cristãos, muçulmanos, somos pessoas”, defende o padre.

9-A má-língua e os boatos

Os três teólogos citam o recente sínodo como outro exemplo que, a par desta mensagem aos cardeais, mostra que Francisco “tem opositores mas não está preocupado com isso”, como refere o padre Carreira das Neves. “Há muitas resistências organizadas no Vaticano”, acrescenta D. Januário. “E em Portugal deve haver também muitos que não receberam bem esta mensagem.”

10-Desafiar a liderança

Como outras mensagens e posições assumidas por este Papa, também esta “terá certamente opositores”, no Vaticano como na conferência episcopal portuguesa e em todo o mundo católico, diz Carreira das Neves. Francisco já tinha enumerado esta e as outras doenças, mas contra os ouvidos moucos de muitos, decidiu falar directamente sobre a cegueira dos que se julgam poderosos.

11-Indiferença para com os outros

Esta será talvez uma das doenças citadas pelo Papa que melhor congrega o grande problema que a Igreja Católica enfrenta hoje em dia. “Temos todos de nos pôr na vida e no papel de servidores dos que mais precisam, dos pobres e excluídos, da comunidade. E hoje o que temos é uma hierarquia que em vez de prestar esses serviços é uma autoridade indiferente aos outros”, diz Frei Bento.

12-Cara de funeral ou inferiorização

A expressão “cara de funeral” serve para ilustrar a postura superior de muitos dentro da Igreja Católica. O Papa Francisco, diz o padre e teólogo Carreira das Neves, “quer que, do Papa aos bispos, todos se encarem como pessoas normais”, como aqueles que deveriam servir. “O pessimismo estéril é um sintoma do medo e da insegurança dentro de si próprios.” Palavra de Papa.

13-Acumulação de coisas

A referência a esta doença, aos olhos de D. Januário Torgal Ferreira, “é uma crítica aos que vivem para os seus próprios interesses”. Não se fala aqui apenas de coisas materiais. “São palavras contra o egoísmo”, explica o bispo português. “Contra os que vivem dos títulos que recebem, das peneiras que os aplausos lhes trazem. Dos que vivem de coisas baratas que são o seu verdadeiro Deus.”

14-Círculos fechados

“Os cardeais sabiam quem estavam a nomear, porque este Papa já tinha esta postura nos debates que precederam a eleição”, refere Frei Bento. Ainda assim, existem círculos herméticos e conservadores no Vaticano sempre prontos a criticar. “Quando os cardeais achavam que iam receber a bênção de Natal levam com esta saraivada. Foi um abanão tremendo para todas as estruturas da Igreja.”

15-Exibicionismo e lucro global

É o tal carreirismo que todos os teólogos citam como endémico na Igreja, aos que vivem agarrados ao poder. “Isto foi uma crítica directa aos que procuram fazer carreira, que não se mexem, que estão, digamos, como lapas ali colados ao Vaticano”, explica Frei Bento. “[Os cardeais] são magnatas quando deviam estar ao serviço dos mais pobres, dos excluídos, de toda a comunidade.”» in http://www.ionline.pt/artigos/mundo/papa-francisco-abana-igreja-catolica/pag/-1


('Cúria sofre de Alzheimer espiritual', diz papa Francisco)

25/12/14

Religião - Mais importante do que procurar a "ternura de Deus" é deixar que seja Ele a encontrar-nos, defendeu o Papa Francisco, esta quarta-feira, na Missa do Galo.

 ´

«"Permito a Deus que me queira bem?". A pergunta de Natal do Papa

Mais importante do que procurar a "ternura de Deus" é deixar que seja Ele a encontrar-nos, defendeu o Papa Francisco, esta quarta-feira, na Missa do Galo. 

"Como acolhemos a ternura de Deus? Deixo-me alcançar por Ele, deixo-me abraçar, ou impeço-O de aproximar-Se? ‘Oh não, eu procuro o Senhor!’, poderíamos replicar. Porém, a coisa mais importante não é procurá-Lo, mas deixar que seja Ele a encontrar-me e cobrir-me amorosamente com a sua ternura. Esta é a pergunta que o Menino nos coloca com a sua mera presença: permito a Deus que me queira bem?", disse Francisco. 

"Temos a coragem de acolher, com ternura, as situações difíceis e os problemas de quem vive ao nosso lado, ou preferimos as soluções impessoais, talvez eficientes, mas desprovidas do calor do Evangelho? Como é grande a necessidade que o mundo tem hoje de ternura!", acrescentou. 

Na homilia, o Papa lembrou a forma como a Bíblia apresenta o nascimento de Jesus: uma "luz que penetra e dissolve a mais densa escuridão. A presença do Senhor no meio do seu povo cancela o peso da derrota e a tristeza da escravidão e restabelece o júbilo e a alegria." 

A mensagem bíblica permanece actual. "Também nós, nesta noite abençoada, viemos à casa de Deus atravessando as trevas que envolvem a terra, mas guiados pela chama da fé que ilumina os nossos passos e animados pela esperança de encontrar a ‘grande luz’. Abrindo o nosso coração, temos, também nós, a possibilidade de contemplar o milagre daquele menino-sol que, surgindo do alto, ilumina o horizonte." 

"A origem das trevas que envolvem o mundo perde-se na noite dos tempos", afirmou Francisco. "O curso dos séculos tem sido marcado por violências, guerras, ódio, prepotência", mas, "ao longo do caminho da história, a luz que rasga a escuridão" revela que "Deus é Pai e que a sua paciente fidelidade é mais forte do que as trevas e do que a corrupção." 

"Nisto consiste o anúncio da noite de Natal. Deus não conhece a explosão de ira, nem a impaciência; permanece lá, como o pai da parábola do filho pródigo, à espera de vislumbrar ao longe o regresso do filho perdido."

Na Missa do Galo, Francisco apelou ao mundo que se deixe encontrar pela "ternura" de Deus. "Como é grande a necessidade que o mundo tem hoje de ternura!".» in http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=1&did=172984

12/03/14

Religião - Segredo do sucesso do Papa está na proximidade, defenderam participantes da conferência "Francisco: Um Papa do Fim do Mundo".



«Francisco, o "Papa incontornável”, o "tio que todos gostaríamos de ter"

Segredo do sucesso do Papa está na proximidade, defenderam participantes da conferência "Francisco: Um Papa do Fim do Mundo".

Como é que se explica o sucesso mediático do Papa Francisco, que foi quase imediato e que se mantém, um ano depois da sua eleição? Dois vaticanistas, Aura Miguel e Octávio Carmo, um jornalista, Henrique Monteiro, e um escritor, Pedro Mexia, debateram o assunto no último painel da conferência “Francisco: Um Papa do Fim do Mundo”, esta terça-feira, na Universidade Católica em Lisboa. 

Para Aura Miguel, vaticanista da Renascença, o segredo do Papa não está no seu estilo de governo ou na vontade de “arrumar a casa”.

O segredo do sucesso mediático do Papa Francisco está na sinceridade do seu testemunho e na forma como Francisco expõe a sua relação pessoal com Cristo: “Ele não pode calar aquilo que experimenta. O que experimenta é um encontro pessoal com Jesus. Ele vem exercer essa faceta que contagia todos à sua volta. É aí que está o segredo de Francisco. Ele assim revela que a Igreja não é um conjunto de regras, é um lugar de acolhimento, como um hospital de campanha em tempo de guerra, que cuida de quem está ferido. E não há quem não precise desse carinho.” 

Octávio Carmo, vaticanista da Ecclesia, considera que o Papa é “uma referência ética mesmo para quem não a procura. É de tal forma forte que não se consegue contornar. É um Papa incontornável.” 
“Falou-se muito da necessidade de mudar a cúria, mas o Papa já mostrou que quer mudar o mundo”, considera o jornalista.  

Octávio Carmo dá conta de um certo cepticismo entre algumas pessoas em relação às expectativas deste pontificado: “Há entre muitos a ideia de que o Papa está a falar muito, mas que isso não se vai traduzir em mudanças. Mas eu acho que vai e quem acompanha muito o Papa tem essa ideia”.  

“Francisco é o tio que todos gostaríamos de ter” 

O jornalista Henrique Monteiro alertou para o perigo de muitos fiéis, e também da comunicação social, terem criado expectativas irreais em relação a Francisco: “Há um Francisco imaginário, que há-de ordenar mulheres, permitir o aborto e casar homossexuais. Quando ele não fizer isto, não sei o que vai acontecer”. 

Para Henrique Monteiro, o facto de este Papa ter uma aceitação tão grande por parte da comunicação social nem é um factor positivo.“Para a maior parte da imprensa, se lhe perguntarmos se pode haver fé baseada na razão riem-se, não compreendem. Para os ‘media’, o mundo divide-se em dois: o lado certo, o lado da história, e o lado errado, da crença e do obscurantismo. Por isso, temos de ter calma, porque o facto de acharem que o Papa é ‘cool’, não demonstra nada. Apenas demonstra que ele, com gestos simples, agradou a muita gente que não é da Igreja. O problema é que pensam que o Papa é tão avesso aos dogmas da Igreja como eles são.” 

Em linha com os outros oradores presentes, Henrique Monteiro considera que o verdadeiro segredo está na linguagem afectiva e próxima. “João Paulo II falava para todos e chegava a cada um, Bergoglio fala a cada um e chega a toda a gente. É intimista e pessoal, fala por parábolas. Francisco é o tio que toda a gente gostaria de ter.” 

Pedro Mexia concorda e realça que a primeira grande ovação que o Papa recebeu, depois de ter sido apresentado, “foi depois do primeiro Ângelus, quando disse ‘Bom almoço e bom domingo’. Isto não tem qualquer conteúdo, mas evidentemente o tom de proximidade desarmou as pessoas e esse tom de proximidade chega mesmo a quem não se revê no que o Papa defende.” 

Também terá contribuído, considera o escritor, o facto de o Papa não se ter mostrado refém do Vaticano. Mas, para Pedro Mexia, o ponto alto do pontificado de Francisco, que revela claramente essa sua proximidade, foi a visita a Lampedusa, para realçar o sofrimento dos imigrantes ilegais. “Há gestos humanos que são importantes, o telefonar para uma mãe que pensa abortar… E depois há gestos como a ida a Lampedusa: só um Papa poderia ter feito aquilo, foi de longe o gesto mais significante deste papado.”  

A conferência "Francisco: Um Papa do Fim do Mundo" foi organizada pela Renascença, a Universidade Católica e a agência Ecclesia para assinalar o primeiro aniversário do pontificado de Francisco. Adriano Moreira, o músico Manuel Fúria, o presidente do Conselho Nacional Justiça e Paz, Alfredo Bruto da Costa, e a psicóloga Margarida Neto também participaram na conferência.» in http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=141759

)
(Papa salta discurso "aborrecido" e revela porque não quis "luxos")

01/01/14

Religião Papa Francisco I - O Papa Francisco despediu-se de 2013 com a celebração Te Deum, na Basílica de São Pedro.







«PAPA FRANCISCO CONVIDA FIÉIS A REFLETIREM SOBRE A FORMA COMO USARAM O TEMPO DURANTE O ANO DE 2013

O Papa Francisco despediu-se de 2013 com a celebração Te Deum, na Basílica de São Pedro. 

Na homilia, o Papa convidou todos a refletirem sobre a forma como cada um usou o tempo no ano passado.» in http://videos.sapo.pt/ASzs8Ogr7ZjiSAHvWbbR



(Papa Francisco I, interpela mais uma vez os homens do mundo)

17/12/13

Religião Papa Francisco I - Foi a 13 de Março: apareceu na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, e anunciou de onde veio: "Irmãos e irmãs, boa noite.



«O Papa que revoluciona o modo de dizer

Foi a 13 de Março: apareceu na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, e anunciou de onde veio. "Irmãos e irmãs, boa noite. Como sabeis, o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma, mas os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo." Chegou de longe para ficar perto: com um registo humilde e imprevisível, Francisco aproximou a Igreja Católica de crentes e não crentes. Esta terça-feira, o Papa faz 77 anos. 17-12-2013 6:15 por Matilde Torres Pereira e Filipe d'Avillez

Estamos dispostos a ouvir?

No início do 2013, poucos tinham ouvido falar nele. Hoje, é a personalidade do ano da revista "Time" e a pessoa mais comentada nas redes sociais. Os primeiros nove meses de pontificado do Papa Francisco ficaram marcados por inúmeros gestos de simplicidade e humildade, de aproximação às pessoas com palavras simples e fáceis de entender. Aos 77 anos, que celebra esta terça-feira, usufrui de uma enorme popularidade. 

Para o director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, cónego João Aguiar Campos, é na forma de comunicar do Papa que está uma chave do fenómeno. "Este Papa comunica ele todo. Não usa só palavras, mas comunica com gestos: sobretudo o que ele diz traz uma profunda simplicidade e autenticidade. Aproxima-se, usa metáforas e desafia os outros a aproximar-se. Ele é um homem que toca, que aspira, que vive, que não tem medo. Aliás, recomendou aos demais 'o cheiro das ovelhas' e tudo isso se nota."

Para o cónego João Aguiar Campos, a mudança na receptividade à mensagem é operada não tanto pelo conteúdo, mas pela forma. "Estamos numa mudança de estilo, pura e simplesmente. Ele é um Papa de continuidade. Todos os Papas são de continuidade, nesta perspectiva. A Igreja tem uma história de dois mil anos, não faz saltos, não faz erupções nem cortes na sua história. Mas acho importante realçar isto da continuidade, porque o Papa Francisco está a revolucionar o modo de dizer, mas não vai revolucionar tudo", aponta o também presidente do conselho de gerência do Grupo Renascença Comunicação Multimédia.

Os gestos do Papa carregam uma mensagem forte. Logo no início do pontificado, há uma série de acções que transmitem a humildade que o caracteriza. Depois do conclave, já eleito, decide evitar o carro oficial e junta-se aos outros cardeais no autocarro. No dia seguinte, vai pagar a conta à pensão onde tinha estado hospedado. Dispensa o calçado vermelho e continua a usar uma cruz de metal, recusando a cruz de ouro e pedras preciosas. Prefere viver na Casa de Santa Marta, uma residência, em vez dos mais confortáveis aposentos oficiais do Papa. 

"Não há melhor comunicação do que o testemunho e o Papa é de uma franqueza, de uma naturalidade que demonstra de uma forma marcante. Ele faz uma espécie de 'bypass' a qualquer máquina de comunicação que possa estar montada", considera Manuel Pinto, professor da comunicação da Universidade do Minho. "O Papa mudou a própria figura do Papado. O ter uma vida próxima de uma pessoa normal, com gestos e linguagem de qualquer pessoa, não instaura desde logo uma separação." 

Comunicados substituídos por telefonemas

D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, lembra um episódio que ilustra a forma distintiva que o Papa tem de comunicar. Em meados de Novembro, foi noticiado o despedimento de um jornalista italiano numa rádio católica devido a críticas que fez a Francisco. No seguimento do caso, o repórter acabou por receber uma chamada de apoio do próprio Papa.

"É de registar aquele gesto que Francisco teve com o jornalista que teria escrito um artigo desfavorável: o Papa agradeceu a ajuda que o repórter lhe tinha dado com aquele texto, quando outras pessoas, noutros tempos, poderiam esperar um comunicado da sala de imprensa", refere o bispo emérito de Setúbal. 

"Este Papa tem realmente encantado a Igreja. Só tenho medo, sem querer escandalizar ninguém, que o Papa passe à história como um Papa que fez coisas bonitas, invulgares, extraordinárias, mas que não sejamos capazes de apanhar as suas palavras, os seus gestos, como alertas, gritos de atenção do Espírito Santo relativamente à Igreja que Jesus quer e à Igreja que devemos ser", considera ainda D. Manuel Martins. 

Manuel Pinto também espera que a mensagem não se perca pelo caminho. "Não estou muito contente com a reacção de importantes sectores na hierarquia da Igreja", afirma.

"Alguns bispos aparentam a dificuldade de encaixar ou de digerir o que tem acontecido e os reptos que tem sido lançados, com argumentos como 'isto já é o que nós fazemos' ou 'isto é o que a Igreja sempre disse'", prossegue o docente da Universidade do Minho. "São formas - um pouco caprichosas, às vezes - de não agarrar esta oportunidade de a Igreja se abrir mais e assumir gestos que possam localmente repercutir este entusiamo e esta adesão, este novo momento que a Igreja vive. Não vemos muito as coisas a agitarem-se. Espero que se acorde e que sejamos capazes de ser dignos do Papa que temos", acrescenta Manuel Pinto.

"Ele não se coloca diante do capitalismo como um ideólogo, mas como alguém sensível"
O Papa tem sido extremamente crítico das consequências do capitalismo e da "idolatria do dinheiro". Considera a fome "um escândalo global", equipara as consequências das "guerras financeiras" às dos conflitos armados e, na sua primeira exortação apostólica, diz que o "dinheiro deve servir e não governar". "Assim como o mandamento 'não matar' põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer 'não a uma economia da exclusão e da desigualdade social'. Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na bolsa. Isto é exclusão", escreveu o Papa.

Para Manuel Pinto, Francisco pretende evidenciar que "não podemos tolerar um capitalismo desgovernado, com uma agenda que pretende levar para a frente os interesses de uma parte da sociedade, desprezando muitas vezes o interesse das maiorias". "Faz-nos perceber que alguns dos problemas do mundo não resultam apenas de deficiências pontuais, mas são muitas vezes estruturais de um sistema que marginaliza sobretudo os mais pobres e que não dá oportunidade a todos. Ele não se coloca diante do problema do capitalismo como um ideólogo ou um político, mas como alguém que é sensível e que deita a mão aos dramas provocados pelo capitalismo. Não se limita a acolher as pessoas que estão nas periferias, mas procurando ir às raízes do que faz crescer a pobreza", aponta o docente de comunicação da Universidade do Minho.

Para o bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, o problema do sistema é "uma questão de filosofia económica que só terá solução quando houver uma revolução de mentalidades". "O Papa está sempre a chamar atenção para isto, que é causa da pobreza, e foi até muito longe quando justificou a possibilidade de uma certa violência por parte daqueles que têm fome, que é devida ao sistema económico que vivemos e que impera sobre o nosso mundo", considera o bispo emérito.

"À Igreja compete descobrir quais são as causas da fome e denunciar as causas dessa fome. O Papa, para desgrado de muita gente, tem denunciado o capitalismo, a que chama mesmo 'capitalismo selvagem', que é a causa primeira, não sei por quanto tempo, desta pobreza que o nosso mundo vive, que Portugal vive e que a Europa vive", continua D. Manuel da Silva Martins. "Esquecemo-nos, às vezes, do conselho de São Paulo, de que a Palavra de Deus não está comprometida com nada nem com ninguém, e esquecemo-nos de denunciar as causas destas agressões aos direitos da pessoa humana."

Um ideal de justiça

O Papa tem feito, desde o início, um esforço para chamar a atenção para os mais marginalizados. Começou por fazê-lo numa visita à ilha italiana de Lampedusa, onde criticou a "globalização da indiferença" e lamentou a perda da capacidade de chorar com o sofrimento dos outros. Na sua primeira deslocação oficial fora de Roma, o Papa quis chamar a atenção para os milhares de imigrantes, oriundos sobretudo de África, que muitas vezes morrem a tentar chegar a Itália.

Para D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, a viagem a Lampedusa foi uma primeira prova da "comunhão que ele tem com o mundo que sofre". "Ele pediu ao mundo que não deixasse que a insensibilidade se globalizasse. Tem a coragem de dizer que prefere uma Igreja acidentada no mundo dos homens do que uma Igreja bem tratada, bem guardada e bela. Isto significa que, para ele - como foi para Jesus -, a Igreja tem de estar no mundo, tem de sofrer com os que sofre, alegrar-se com os que se alegram", aponta.

Para o bispo-eleito das Forças Armadas, D. Manuel Linda, "o Papa não governa a Igreja por decreto, mas faz revolução a partir do exemplo da sua vida". "Pelos vistos, a maioria das pessoas, mesmo as que estão fora da Igreja, dão-lhe crédito. É sinal então de que há uma espécide de perspectiva geral de moral, de justiça, que continua a influenciar os comportamentos e as mentes das pessoas. Claro que depois esta visão de justiça pode não ser seguida porque outros factores intervêem - as leis das economia, por exemplo, que são leis absolutamente injustas", acrescenta D. Manuel Linda.

"Mas está aí colocada a justiça que o Papa encarna, pelo menos como ânsia, como uma perspectiva de aspiração, como esperança. Na proximidade com o humilde, com o pobre, com aquele que efectivamente precisa, o Papa está a ser uma espécie de voz de consciência audível, que vem de encontro a uma estrutura que existe em todo o ser humano, que é a ideia de justiça", aponta o bispo-eleito das Forças Armadas.

A humildade e proximidade de Francisco são características destacadas por outras confissões religiosas. O rabino Eliezer Shai di Martino sublinha "a capacidade que o Papa possui de falar aos pobres": "É uma coisa de que gostei muito e que me toca pessoalmente". Para o líder da comunidade islâmica em Portugal, Abdul Karim Vakil, trata-se de um Papa que segue "de facto as pisadas de Cristo". "A forma como se tem comportado mostra aquela pobreza, sem ostentação, de um homem simples e isso é digno da nossa admiração."

"Tirar o melhor que há em nós"

A exortação apostólica de Francisco, que agitou o mundo, vai além de considerações sobre o sistema económico e financeiro. Parte do texto é dirigido à própria Igreja: no seu modo directo e simples, o Papa lamenta quem evangeliza com "cara de funeral", porque constata na alegria uma característica inerente aos cristãos. E pede mais: diz que prefere "uma Igreja acidentada, ferida e manchada por sair à rua em vez de uma Igreja enferma pela reclusão".

Para Manuel Pinto, este é um dos pontos centrais da mensagem do Papa: a defesa de uma Igreja que seja "como um hospital de campanha, enlameada por sair à rua" em vez de "ficar centrada em si mesma". A freira e missionário a Irene Guia, do Sagrado Coração de Jesus, contribui para o hospital de campanha solicitado por Francisco e mencionado por Manuel Pinto: ajuda há anos os mais necessitados e fá-lo no terreno.

"A Igreja só pode ser universal se for missionária. Nas últimas décadas, a Igreja voltou a meter-se para dentro. O que o Papa está a dizer, em relação ao acolhimento de pessoas em sofrimento pela sua não plena comunhão com a Igreja, é dar uma orientação completamente diferente", refere Irene Guia.

"O que vemos em Jesus é o grande consolador, o compassivo. Creio que este é o valor máximo que o Papa tem dado ao mundo: que as pessoas encontrem descanso na Igreja, porque são acolhidas, porque encontram compaixão", considera a freira e missionária. "Há uma alteração, não da doutrina, mas do paradigma e da maneira de fazer."

No início de Novembro, o Papa Francisco interrompeu uma audiência geral no Vaticano para consolar um homem doente que aparentemente sofre de neurofibromatose, que se caracteriza pelo aparecimento de tumores benignos na pele. "Vermos o Papa a abraçar e a agarrar corpos distorcidos, deformados, e que depois os vemos passados dias a deixarem de se esconder é das melhores recuperações de seres humanos que tenho visto", aponta Irene Guia. "Acho que este Papa vai ter um impacto muito grande. Está a conseguir tirar o melhor de nós."» in http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=132850


(Quem é o papa Francisco?)

08/11/13

Religião Papa Francisco I - O Papa Francisco parou na Praça de São Pedro, no Vaticano, para beijar, abraçar e abençoar um homem desfigurado devido a uma doença rara chamada neurofibromatose.



«Papa Francisco beija homem desfigurado

O Papa Francisco parou na Praça de São Pedro, no Vaticano, para beijar, abraçar e abençoar um homem desfigurado devido a uma doença rara chamada neurofibromatose.

Na última quarta-feira, após a audiência geral, o Papa Francisco percorria a Praça de São Pedro para fazer a bênção aos fiéis quando um homem com a cara desfigurada lhe captou a atenção, noticia o Telegraph.

Estas imagens do Papa a abraçar e a beijar o homem depressa, espoletando comparações com São Francisco de Assis, que também beijara um homem com lepra.

Neurofibromatose, a doença responsável pela desfiguração do homem, é genética e não contagiosa, de acordo com o site religioso CNA. Os sintomas consistem em dores intensas e tumores benignos por todo o corpo, dificultando a visão, a capacidade de aprendizagem e pode causar cancro.

A discriminação social é um dos efeitos mais nefastos desta rara doença, impedindo os doentes de terem uma vida normal.» in http://www.noticiasaominuto.com/mundo/128307/papa-francisco-beija-homem-desfigurado?utm_source=gekko&utm_medium=email&utm_campaign=afternoon#.Un1AsXDIZGQ/615/0
-------------------------------------------------------------------------------------------
Cristo tem um Grande Senhor a seguir Os Seus Passos, na Terra dos Homens... Francisco I, de seu nome, na linha de São Francisco de Assis.


(Pope Francis Kisses a Man Disfigured)
Pin It button on image hover