03/04/13

Amarante Pessoas - A Família Soares de Amarante tem a bondade de partilhar o que tem... por exemplo: uma malga de sopa, com Mário Abreu!

 
«A partilha; sem mais…
 
Já conhecia a simpatia do João e da Dona Maria do Carmo, pessoa que desde miúdo, estou habituado a ver pelas ruas, sempre com uma piada para dizer a quem passa. Ela nunca gosta de deixar nada por dizer, nem que ninguém conhecido passe por ela triste e indiferente, sem uma boa gargalhada que ela facilmente provoca com as suas “bocas” picantes e engraçadas, mas sempre bem intencionadas. Gosta de interpelar os seus conhecidos - numa lógica de: não passarás sem te rir comigo -, o que é muito saudável, nestes tempos de individualismo doentio e desumanizado…


O João Gonçalves, o filho da Dona Maria do Carmo que melhor conheço desde a nossa juventude, num estilo e registo muito mais discretos, trata-se de um homem com uma educação excepcional e é daquelas pessoas que cumprimenta sempre com um sorriso sincero, de quem quer mesmo com a sua saudação, mudar o nosso dia, igualmente, para melhor.


O gesto da Família Soares, para com Mário Abreu, prova que a nobreza está muitas vezes onde menos se espera... o facto de se oferecer um prato de sopa a quem pede; sem mais, não pedindo explicações, nem fazendo julgamentos com cargas de moralismo inoportunas e despojadas de sentido, prova a capacidade de entrega, de bondade e de dádiva da Dona Maria do Carmo e dos seus: afinal penso que, Jesus Cristo, não faria diferente…


O meu respeito e a minha vénia é para vocês, família Soares, que me emocionaram com este nobre gesto, que é muito mais do que caridade... é nobreza de coração! E não me venham com a teoria dos holofotes! Afinal, se ajudaram a dar visibilidade a este caso, também isso pode ser uma preciosa ajuda ao Mário Abreu, no sentido da resolução do seu problema de partilhas, o que poderia obviar esta sua dramática situação.


Há muita gente com estatuetas e com medalhões de honra que não vos chega aos calcanhares, Família Soares, como seres humanos intrínsecos, humanistas e completos! Vocês substituíram a burocracia que invade muitas das instituições sociais que poderiam obviar a situações como esta e similares, com a vossa ajuda imediata e holística. Estais do lado da partilha, da resolução do problema imediato, sem mais! 


Já agora, por onde andarão, nesta altura, os amigos que rodearam o Mário Abreu no período de abastança?... complexos, os humanos de Deus... em qualquer condição social e a dada altura das nossas vidas, penso que muitas pessoas já sentiram este amargo de boca, da amizade falsa e interesseira que alguns seres indignos usam de forma quase vampírica, retirando de nós tudo o que lhes é útil e… de repente, quando necessitamos de um qualquer “porto de abrigo”, físico ou sentimental, só vemos um mar de desilusões… esta, foi só mais uma prova desta inexorável verdade. 
Como diria o meu falecido Pai, os amigos na verdadeira acepção da palavra contam-se pelos dedos de uma mão, o resto são conhecidos e, não raras vezes, desconhecidos na sua essência oportunística e de má formação moral e ética…


Penso que a mediatização deste caso que, não me custa a admitir, teve mais destaque por ser um membro de uma família que já foi muito influente em Amarante, deverá servir para nos conduzir à essência deste inefável gesto, desta simples, mas nobre família. Para a família Soares, nenhum preconceito pairou no ar, o sentimento primordial foi para a ajuda de um ser humano que humildemente lhe pediu uma malga de sopa.


Os julgamentos que se fazem à posteriori são muito confortáveis, pois o argumentário, ou a narrativa como diria alguém, torna-se fácil para os dois lados. O dar sem mais, sendo um gesto aparentemente simples, é dos mais complexos e ao mesmo tempo puros e nobres, que um homem pode realizar. Como diria John Lennon: “It’s easy if you try!”.


Sendo gestos aparentemente simples e imediatos, a complexidade das relações humanas, torna a partilha e a dádiva, como algo sempre associado a julgamentos e preconceitos, muitas vezes difíceis de ultrapassar e de permitir que se avance em frente, na sua plena concretização.  Penso que Sua Santidade, o Papa Francisco I, ao escolher o nome e por conseguinte, o exemplo de São Francisco de Assis, para muitos o seguidor de Cristo mais autêntico, nos quer desde logo alertar para a necessidade de uma mudança de paradigma existencial…


A Dona Maria do Carmo e família são autênticos heróis que, por acaso, saíram do anonimato. Estou certo, porém, que não foi essa a sua intenção primordial. Quem os conhecer ainda que só por observância de comportamentos sociais, consegue facilmente descobrir a nobreza e sinceridade dos seus gestos. De facto, há heróis que nunca terão medalhas, mas que serão sempre iguais a si próprios: sinceros e nobres na ação, com uma práxis inspiradora!


Por fim, uma palavra para Mário Abreu, que não quis esconder mais uma situação de pobreza envergonhada, entre tantas que assolam atualmente a sociedade local e nacional, podendo contribuir para o despoletar de denúncias de situações similares e, como em todas as situações de carência, momentâneas ou permanentes, tendem a crescer nesta sociedade dominada pelo “Deus” moeda única e por uma União Europeia que está longe de cumprir o escopo basilar da sua fundação, uma união solidária de estados; pelo contrário, vive um processo de autofagia acelerado, com os países denominados de periféricos ou do Sul, a sofrerem muitas agruras…»  

(Artigo a publicar na próxima edição semanal de "O Jornal de Amarante)

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