04/03/13

Música Portuguesa - O fadista amarantino, Marco Rodrigues, está de regresso aos álbuns, com "Entretanto".




«"Entretanto" marca o regresso aos discos de Marco Rodrigues
04 | 03 | 2013   11.22H

Marco Rodrigues está de regresso aos álbuns, com "Entretanto". São 12 novos temas para saborear, que deambulam entre o fado e outras tantas influências.
Filipa Estrela | festrela@destak.pt

Porque escolheu o nome deste tema para dar título ao álbum?
O fado é uma música que vive de uma série de emoções. E entre tantas músicas que oiço, entre tantas noites de fado, entre tantas influências, este nome saltou-me à vista, e nasce este "Entretanto".

Nos seus discos tenta reinventar um pouco o fado. Onde está a fronteira entre o fado tradicional e a identidade que lhe dá?
Comecei a apaixonar-me pelo fado quando tinha 15 anos. Até então não conhecia muito ou nada praticamente. O fado é um estilo pelo qual as pessoas se vão apaixonando. Atualmente faço do fado a matriz da música que faço. Depois naturalmente e sem qualquer tipo de esforço deixo que as influencias que tenho e tudo o que se passa à minha volta interfira na música que faço, conhecendo muito bem as características do fado tradicional. O papel fundamental dos intérpretes é conhecer profundamente a música com a qual mexem e depois deixar que as influências interfiram.

Que influências são essas? O que gosta de ouvir?
Gosto de ouvir muita coisa, consumo muitos tipos de música, desde música brasileira ao jazz, de world music. Gosto muito de Richard Bona, que é um músico camaronês que canta e toca viola baixo indescritivelmente, gosto imenso de Frank Sinatra, de Tom Jobim, de Elis Regina - uma das melhores cantoras de sempre completamente incontornável -, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo. Desta nova geração da música portuguesa, sou fã da Luísa Sobral, gosto muito do trabalho da Ana Moura.

Por falar em Luísa Sobral, este disco conta a sua participação...
Fiz uma música e como gosto muito do trabalho dela como intérprete, como música e como compositora decidi lançar-lhe o desafio. Ela aceitou, gostou muito da música que fiz e escreveu este tema que é “Uma Rosa e Um Narciso”.

O disco conta com outras parcerias, umas já antigas outras novas. Como surgiram?
Normalmente costumo compor a música e depois arranjar letristas. Tenho pessoas que já compuseram para mim, por exemplo no "Tantas Lisboas" já tinha o Tiago Torres da Silva e a Inês Pedrosa, e em equipa que ganha não se mexe, por isso recorri aos dois novamente. O Tiago Machado aparece aqui também como produtor, compositor e arranjador, sendo uma peça fundamental par ao som deste disco. Como não tinha cantado nada da Manuela de Freitas lancei-lhe o desafio. Também desafiei a Isabel Noronha, que canta comigo todas as noites na Adega Machado. Quando comecei a ver o que tinha, reparei que havia muitas letristas femininas.

Estes 12 temas mostram uma certa versatilidade ou há uma coerência muito coesa?
A minha principal preocupação era tentar ultrapassar a barreira de levar uma música como o fado para o estúdio, de uma forma mais transparente. Queria que quando as pessoas estivessem a ouvir o disco sentissem que os músicos e eu estávamos a tocar e a cantar ali à frente. Houve uma preocupação – ou falta de preocupação. No disco anterior ficou tudo muito polido, muito perfeito, muito limpinho. Aqui queria que fosse como se estivesse a tocar numa casa de fados, uma coisa mais directa. Houve respirações que não se limparam, barulhos de cordas que tornam o som mais real. Queria que fosse um disco que mostrasse que a matriz é o fado tradicional. É assumidamente um disco de fado. Quis manter o trio base de fado guitarra, viola e baixo, para tornar o disco mais tradicional. E assumo-me neste disco sempre também como músico na viola.

Como é tocar e cantar ao mesmo tempo? Há quem não se consiga concentrar a 100% nas duas tarefas...
Sem dúvida que tocar ou cantar numa casa de fados é como ir à escola todos os dias. E eu comecei a tocar há 8 anos. Tocar e cantar todos os dias é um traquejo que se ganha. Se inicialmente ainda sentia alguma dificuldade em tocar e cantar, neste momento em certos fados específicos até prefiro ser eu a acompanhar-me porque sai como se fosse um bolo. A minha interpretação de voz e a minha forma de tocar permitem que controle as dinâmicas e os andamentos e sai com muito mais coesão.

Este single "Coração Olha o que Queres" é um tema representativo do disco?
Este é o primeiro single e não sinto que seja representativo, mas representa-me nas minhas influências. Nasci em Amarante e comecei a tocar no alto Minho. Quando encontrei este poema com mais de 500 anos e tão atual sobre as verdades do universo feminino é quase como quem diz "não tentes compreender as mulheres, aceita-as como elas são". Pedi ao Custódio Castelo para me fazer uma música e ele fez uma que está entre o fado e o alto Minho.

As letristas femininas foram por acaso, mas os temas mais femininos também foram?
Mais do que esse universo feminino, o fado fala quase sempre de amor, por uma mulher, uma cidade, um rio, um bairro típico. Estas verdades numa escrita tão antiga que continua tão atual é caricato. Faço questão que a minha música represente o que penso também e este tema é reflexo disso.» in http://www.destak.pt/artigo/156356-entretanto-marca-o-regresso-aos-discos-de-marco-rodrigues

Marco Rodrigues - "Coração Olha O Que Queres"

Marco Rodrigues - "O Homem do Saldanha"

MARCO RODRIGUES - "LOUCURA"

"Loucura

Sou do fado
Como sei
Vivo um poema cantado
De um fado que eu inventei

A falar
Não posso dar-me
Mas ponho a alma a cantar
E as almas sabem escutar-me

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raiz
Da vida que nos juntou

E se vocês
Não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

Esta voz
Tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vida

É loucura,
Ouço dizer
Mas bendita esta loucura
De cantar e de sofrer

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raiz
Da vida que nos juntou

E se vocês
Não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou"


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