11/01/12

Religião - O São Gonçalo de Amarante também se comemora em Aveiro, como São Gonçalinho de Aveiro!




«S. Gonçalo de Amarante - ou «S. Gonçalinho de Aveiro»


S. Gonçalo de Amarante, da nobre família dos Pereiras, nasceu por volta de 1190, na freguesia de S. Salvador de Tagilde, no concelho de Vizela. Os pais deram-lhe uma esmerada educação moral e cristã não só pela palavra, mas sobretudo pelo exemplo da sua virtude. Tendo atingido o uso da razão, foi confiado a um douto e honesto sacerdote, sob cuja direção iniciou os estudos. Desde a adolescência, distinguiu-se na modéstia, na piedade, no esforço em se aperfeiçoar nos costumes cristãos e no progresso do trabalho escolar. Depois de cursar as ciências teológicas, foi ordenado sacerdote, iniciando o múnus pastoral como pároco da freguesia de S. Paio (ou S. Pelágio) de Riba-Vizela; logo começou a brilhar no zelo apostólico, além de se evidenciar na prática das obras de misericórdia.

Porque alimentava o desejo de visitar os túmulos de S. Pedro e de S. Paulo, em Roma, e de peregrinar a Jerusalém e aos lugares santos da Palestina, deixou os paroquianos ao cuidado dum sobrinho sacerdote e fez-se peregrino – ausência que demorou catorze anos. Tendo regressado à freguesia, o sobrinho, além de o não aceitar como pároco legítimo, rejeitou-lhe a guarida em casa.

Resignado com essa atitude, deixou S. Paio de Riba-Vizela e foi anunciar o Evangelho por aquelas terras até às margens do rio Tâmega, fixando a sua habitação num sítio quase despovoado, onde hoje é a cidade de Amarante. Construiu uma pequena ermida que dedicou a Nossa Senhora da Assunção, para nela se recolher em oração e penitência, e daí sair a pregar nos arredores. Pela sua devoção à Virgem Maria, resolveu seguir a vida conventual na Ordem dos Pregadores, recentemente fundada por S. Domingos. Consequentemente, entrou no convento de Guimarães e, uma vez concluído o noviciado, foi admitido à profissão religiosa; passado algum tempo, obteve licença de, com outro frade, voltar para o eremitério de Amarante, continuando a exercer o ministério evangélico e caritativo. Faleceu santamente em 10 de janeiro de 1262, sendo o corpo sepultado na referida ermida. Se durante a vida já se lhe atribuíam alguns milagres, mais se começaram a atribuir à sua intercessão após a morte.

Tendo-se efetuado o respetivo processo canónico, o breve pontifício da beatificação foi promulgado em 16 de setembro de 1561. A devoção ao santo mais popular dos santos portugueses, depois de Santo António de Lisboa, espalhou-se por Portugal e por muitas outras partes. Dessa veneração falou o padre António Vieira, no século XVII, no sermão que pregou no Brasil (Tomo VI, pg. 323): - «Se não têm filhos, a S. Gonçalo os pedem; e se têm muitos, a S. Gonçalo consultam se os hão de mandar à guerra, ou ao estudo, ou aplicar ao arado. Se hão de casar as filhas, S. Gonçalo é o casamenteiro, e se os próprios pais, ou não podem, ou se descuidam de lhes dar estado, a lembrança que elas por modéstia se não atrevem a lhes fazer, a fazem em segredo ao santo que, como mais poderoso e mais vigilante pai, se não descuida. A ele encomendam os pastores os gados, os lavradores as sementeiras; a ele pedem o sol, a ele a chuva; e o santo, pelo império que tem sobre os elementos, a seu tempo e fora do tempo, os alegra com o despacho das suas petições. Ele os remedeia nas pobrezas, ele os cura nas enfermidades, eles os reconcilia nas discórdias; ele, enfim, se andam desgarrados, os encaminha, e talvez os castiga também amorosamente, para que não degenerem de filhos de tal pai.»

Em Aveiro, o bairro típico da “Beira-Mar” e mesmo toda a cidade tratam carinhosamente S. Gonçalo de Amarante por S. Gonçalinho. Desde tempos imemoriais, é particularmente invocado para a cura de doenças ósseas… não recusando também o seu valimento na resolução de dificulda­des matrimoniais. As ofertas consistem não ape­nas em pernas, braços e mãos de cera… ou em flores, azeite e velas, mas ainda em cavacas do­ces. O templo atual em sua honra, que sucedeu a um anterior, ostenta a data da construção – 1714.

A festa anual realiza-se no dia 10 de ja­neiro ou no domingo próximo. A igreja e as ruas vizinhas são engalanadas com ornamentos e luzes; nos passeios, há barraquinhas onde se vendem doces variados, cavacas e diversas recordações. Para a Eucaristia, celebrada no templo decorado com primor, o espaço torna-se exíguo. Depois, durante a tarde, acontece a parte mais caraterística do programa; a dada altura, a platibanda da ermida enche-se de pessoas, o sino repica com entusiasmo e as cavacas dos ofertantes são lançadas lá de cima sobre a multidão. Os gaiatos correm e furam sem parança, dirigem-se aos pontos mais estratégicos, em­purram-se mutuamente, lançam-se ao chão à cata de alguma cavaca, enquanto o povo, em fluxos e refluxos, lhes vai facilitando a passagem ou propositadamente lhes estorva os movimentos. Até sucede que muitas pessoas usam redes colocadas em compridos paus ou abrem os guarda-chuvas que viram ao contrário; desta forma, apanham no ar as cava­cas, antecipando-se assim às mãos do rapazio sôfrego, que fica a olhar com desconsolo.

As alíneas festivas vão prosseguindo, mesmo pela noite dentro, à mistura com orações balbuciadas e promessas cumpridas em frente da imagem; nos intervalos, queimam-se muitos foguetes de vistas e de dinamite. Apesar do tempo frio de janeiro - e mesmo chuvoso - não há míngua de aveirenses, que não ficariam de bem com a sua consciência se não participassem no alegre e típico convívio. No dia seguinte, ao findar da festa, novos e velhos dão as mãos e caminham com a banda musi­cal a cantar e a dançar, enquanto os mordomos cessantes vão às casas dos mordomos do ano futuro, para os cumprimentar e lhes entregar o ramo; simultaneamente ouvem-se os der­radeiros foguetes, que estralejam no ar. Mas a festa quase sempre não termina aqui, porquanto alguns populares do bairro juntam-se à noite, na capela; aí se pode então apreciar a “dança dos mancos”. Durante algum tempo, os intervenientes executam tal dança, coxeando; simultaneamente cantam quadras populares, sob o olhar complacente de S. Gonçalinho.


Mons. João Gaspar» in http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=89042


(Reportagem - Festas de São Gonçalinho - Praça Alegria)

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