11/12/11

Ciência - Há 100 anos, Marie Curie recebia o seu segundo prémio Nobel!

Marie Curie no laboratório

«O que devemos a Marie Curie: usos da radiação no nosso dia-a-dia


Há 100 anos, Marie Curie recebia o seu segundo prémio Nobel. Quando começou as investigações sobre a radioatividade e depois isolou o rádio pela primeira vez, a cientista não tinha em mente as aplicações práticas da sua descoberta. Tratava-se de ciência pura.


Mas rapidamente foi compreendido o papel que a radioatividade podia ter, por exemplo, nos hospitais - com a radioterapia, no tratamento de cancros.


Hoje, embora muitas vezes não nos demos conta disso, há inúmeras tecnologias presentes no nosso dia-a-dia que se tornaram possíveis graças ao trabalho de Marie Curie (ver perfil). Aqui ficam algumas.

Energia nuclear
Fotografia: Luís Cavaco


As origens da noção da divisibilidade do átomo (princípio no qual assenta a energia nuclear) remontam à descoberta da radioatividade no urânio, pelo francês Henri Becquerel, em 1896. A partir dos estudos de Becquerel, Marie e Pierre Curie descobriram vários elementos químicos novos muito radioativos - como o rádio, o polónio e o tório. O seu trabalho foi o ponto de partida para o desenvolvimento da energia nuclear. As centrais de energia nuclear funcionam um pouco por todo o mundo, no meio de polémicas várias quanto à sua segurança. E se muitos defendem que são a fonte de energia mais limpa, outros chamam a atenção para os riscos decorrentes de acidentes. Mas a vertente mais ameaçadora da energia nuclear continua a ser a produção de armamento, como a bomba atómica.

Cálculo de idade dos materiais orgânicos
Fotografia: Luís Cavaco


Do mesmo modo que a meia vida do urânio permite fazer a estimativa da idade da Terra, é possível verificar a idade de fósseis a partir da determinação da quantidade de isótopo 14 do carbono, um elemento radioativo que existe no fóssil. Simplifiquemos: a partir do momento em que uma planta ou animal morre, deixa de incorporar átomos de carbono: o teor deste isótopo 14 começa a diminuir, caindo para metade a cada 5600 anos, o que nos permite calcular o tempo que passou desde a sua morte.

Tratamento do cancro: a radioterapia
Fotografia: Luís Cavaco


Foi uma aplicações mais bem-vindas da radioatividade. Os raios formam uma radiação ionizante que actuam ao nível das células malignas do corpo, destruindo-as e impedindo-as de se reproduzirem. Recentemente, foi anunciada uma nova técnica de radioterapia que pode eliminar o cancro numa única sessão, mesmo com o tumor já espalhado. Estará em breve disponível em Portugal, através de uma máquina quase única no mundo que ficará instalada na Fundação Champalimaud.

Detetores de fumo
Fotografia: Luís Cavaco


Os detetores de fumo podem usar uma pequena quantidade de material radioativo necessário ao seu funcionamento. Um elemento químico frequentemente utilizado é o amerício. É completamente seguro - a radiação é fraca, já que o elemento está envolvido por uma câmara de metal.

Esterilização de equipamento médico
Fotografia: Luís Cavaco


A irradiação é usada para esterilizar equipamento e instrumentos médicos - material de laboratório, cirúrgico, odontológico, de frascos, embalagens, fármacos... A radiação mata as bactérias, ao danificar os cromossomas das células. Os instrumentos são selados e colocados sob efeito de uma radiação capaz de penetrar no invólucro (raios gama, raios x, por exemplo). O invólucro mantém os instrumentos estéreis até ao momento de serem utilizados.

Fabricação de cosméticos
Fotografia: Luís Cavaco


A irradiação é um dos métodos usados pelos fabricantes de cosméticos - champôs, pastas de dentes, cremes hidratantes, etc. - para garantir que os produtos não desenvolvem micro-organismos prjudiciais aos consumidores. No fundo, uma utilização semelhante à da esterilização do equipamento médico.

Conservação de alimentos
Fotografia: Luís Cavaco


A radiaçao é usada na produção de inoculantes para a agricultura e na esterilização de frutas e vegetais. Permite diminuir a incidência de intoxicações alimentares, inibe o brotamento de raízes e tubérculos, desinfeta frutos, vegetais e grãos, atrasa a decomposição, elimina organismos patogénicos (micróbios e fungos) e aumenta o tempo de prateleira das carnes, frutos do mar, frutas, sumos de frutas, que podem ser conservados durante muito tempo sem refrigeração.



Indústria
Fotografia: Luís Cavaco


São múltiplas as aplicações da radioatividade na indústria. As técnicas usadas permitem a impregnação de madeiras e outros materiais, soldagem, coloração de vidros, pedras preciosas, melhoria de fibras sintéticas e de polímeros.» in http://noticias.sapo.pt/tec_ciencia/artigo/o-que-devemos-a-marie-curie_1807.html

Retrato de Marie Curie

«Marie Curie: uma mulher de "primeiras vezes"


Este domingo, 11 de dezembro, passam 100 anos sobre o discurso de Marie Curie perante a Academia Sueca, que acabava de lhe atribuir o segundo prémio Nobel da sua carreira. Marie Curie inaugurou a presença ativa das mulheres em algumas áreas da sociedade na altura dominadas pelos homens. Pioneira, abriu caminho ao trabalho destas na ciência e na tecnologia. Foi também vítima da sua dedicação: morreu devido ao contacto intensivo com materiais radioativos.


Marie Curie (Maria Sklodowska) nasceu em Varsóvia a 7 de novembro de 1867. Desde muito nova o pai foi-lhe incutindo o gosto pela ciência. Durante a faculdade envolveu-se num movimento revolucionário de estudantes e teve de abandonar a sua cidade natal instalando-se em Cracóvia, território pertencente à Áustria, na altura.
Em 1891 mudou-se para Paris, onde terminou a Licenciatura em Física e Ciências Matemáticas na Sorbonne. Em França, conheceu Pierre Curie, professor na Escola de Física. Casaram em 1895. Com ele, Marie Curie levou a cabo muitas das suas investigações científicas. Em 1906, Pierre morreu atropelado. Maria sucedeu-o na docência da cadeira de Física Geral da Faculdade de Ciências, tornando-se a primeira mulher a dar aulas na Universidade de Paris.


Marie e Pierre Curie no laboratório
A descoberta do rádio



O rádio, uma "dádiva à humanidade"

Nas suas investigações, Marie Curie conseguiu descobrir as propriedades terapêuticas do rádio ao separá-lo dos resíduos radioativos. Isto embora o seu trabalho inicial fosse de pura investigação científica, sem ideia das possíveis aplicações da radioatividade nos hospitais. Durante a Primeira Guerra Mundial, ela e a filha Irene trataram muitos feridos de guerra, conseguindo mesmo instalar um laboratório de radioatividade em Varsóvia.
Um cientista no seu laboratório não é apenas um técnico: é também uma criança a olhar para fenómenos naturais que a impressionam como um conto de fadas.
Marie Curie citada na biografia escrita por Eve Curie Labouisse (1937)

Depois da guerra, o seu Instituto do Rádio, em Paris (mais tarde, Fundação Curie), tomou como missão o tratamento do cancro. A sua dedicação começou a valer-lhe o respeito da comunidade científica internacional. Em 1929, o Presidente dos EUA, Hoover presenteou Curie com 50 mil dólares doados pelos amigos americanos da ciência.


Apaixonada pelo seu trabalho, Marie Curie passou grande parte da  vida nos laboratórios. Morreu a 4 de julho de 1934, vítima de leucemia causada pela sobre-exposição à radiação. Depois de ter sido a primeira mulher professora na Universidade de Paris,  a primeira grande mulher com trabalho reconhecido na ciência e a primeira a receber dois prémios Nobel, Curie foi também, ironicamente, a única cientista mulher a morrer devido às suas próprias descobertas.» in http://noticias.sapo.pt/tec_ciencia/artigo/marie-curie-uma-mulher-de-primei_1811.html


«Quando a radiação era remédio para todos os males

Logo depois de descobertas as aplicações da radioatividade, acreditou-se que os produtos com materiais radioativos seriam benéficos para inúmeros problemas de saúde, e até para uso em cosmética e higiene. O rádio tornou-se remédio para todos os males - até se verificarem os seus efeitos, por vezes mortais.
Publicidade a um creme de beleza com rádioPublicidade a um creme de beleza com rádioA própria Marie Curie (ver perfil) acabou por morrer devido à exposição continuada à radiação no seu laboratório. A coleção bibliográfica de Marie e Pierre Curie, na Biblioteca Nacional de França, e mesmo algum mobiliário e os livros de cozinha da cientista mantêm-se radioativos todos estes anos após a sua morte. Ainda hoje, aqueles que pretenderem consultar a sua obra terão de vestir fatos especiais protetores e assinar um termo de responsabilidade.Hoje em dia continuam a usar-se materiais radioativos em produtos de consumo e tecnologia, mas em quantidades controladas.O "milagre" do rádioSupositórios com rádio revitalizantesSupositórios com rádio revitalizantes

Cremes de limpeza, mostradores que brilham no escuro, supositórios revitalizantes... são somente três das utilizações do rádio nos anos que se seguiram à sua descoberta. Foi apenas em 1938 que uma lei norte-americana proibiu a comercialização de produtos e bens de consumo radioativos. Mas muitos ainda se mantiveram nas décadas seguintes.

Aqui ficam alguns casos curiosos:
    O empresário e socialite americano Eben Byers tentou curar uma ferida num braço com aproximadamente 1400 garrafas de água engarrafada radioativa. Foi enterrado num caixão revestido de chumbo.
  • O tório radioativo chegou a ser utilizado na fabricação de pasta dos dentes e laxantes.
  •  Chegaram a ser fabricados sais de banho de rádio para a cura de insónias.
  • Frascos "revigoradores" com urânio e radão eram utilizados como remédios para curar flatulência ou outras doenças.
  • Durante anos, algumas sapatarias estavam equipadas com aparelhos de raio-x que prometiam uma análise científica dos pés de forma a escolher o melhor calçado.

  • Nos anos 20 o rádio foi usado para pintar mostradores de relógios, de maneira a que os números brilhassem no escuro (o rádio emite uma luminosidade azul-esverdeada). Algumas das operárias que faziam estas pinturas acabaram por morrer por envenenamento ou por desenvolver cancros devido a esta tarefa.» in http://noticias.sapo.pt/tec_ciencia/artigo/quando_a_radiacao_era_remedio_1802.html


(Marie Curie)Marie Curie - "Un portrait"


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